Parte do “legado” de Calisto Cossa na Matola

Quatro mil milhões de meticais em estradas que nunca foram concluídas, quinhentos milhões de meticais mal explicados, problemas de saneamento básico por executar e sistemas de drenagem comprometidos são parte da longa lista de pendentes que o até agora autarca Calisto Cossa deixa na Matola, depois de 10 anos como autarca da mais industrializada área de Moçambique.

Bairros com vias degradadas, águas estagnadas, problemas de saneamento básico do meio, desemprego e falta de criação de oportunidades, falta de transporte e suspeitas de negócios ilícitos igualmente perfilam na longa lista que o jovem que cresceu em Gaza numa família humilde ficou por resolver na Matola, que governa desde 2013.

As estradas da Matola

Numa breve circulação pela urbe, qualquer um compreende a gravidade dos problemas nesta esfera, cuja maioria se encontra degradada ou com obras por concluir. Alguns exemplos:

– Troços como Machava Bunhiça 15-Nkobe,

– Liberdade-Malhampsene

– Liberdade-Fomento-Matola 700,

– Ferreira-Patrice

– Patrice-T3

– Machava Bunhiça 15-Matola-Gare

– Primeira circular-Boquisso

– Ntsiveni-Mukhatine.

Depois temos o caso dos quatro mil milhões de meticais gastos em diversos concursos para a construção, de raiz, assim como a reparação de estradas que aos olhos de muitos munícipes não tiveram muita valia.

É importante destacar que algumas destas estradas não têm dez anos depois de terem sido construídas ou reabilitadas e que dos cerca de 735 km de itinerários da Matola, pouco mais de 320 Km é que estão asfaltados. 

As obras do troco Ntsiveni-Mukhatine iniciaram antes da construção das muito contestadas portagens na cintura de Maputo, mas estas foram concluídas em tempo recorde, embora não sejam infra-estruturas da esfera municipal…

Lixo e saneamento

Exemplar de uma das viaturas de recolha de lixo referenciadas no texto

Outro problema que Calisto Cossa encontrou e vai deixar é o do saneamento, a drenagem de águas e recolha de lixo.

Bairros como Liberdade, Nkobe e Machava Bunhiça têm sofrido bastante com o problema de escoamento de águas.

No bairro de Nkobe, por exemplo, alguns dos locais que conservam águas estagnadas ainda contêm charcos da época chuvosa passada, o que preocupa os moradores que já se ressentem da chegada da nova época de chuvas de 2023-2024.

No bairro da Liberdade, considerado chique, o cenário não é muito diferente, havendo casos de famílias que simplesmente abandonaram a zona por não mais suportarem constrangimentos sem fim à vista.

Américo Dimande, morador do bairro da Liberdade, disse que a governação municipal deixa muito a desejar.

“Vai deixar Matola com muitos problemas, não conseguiu satisfazer os anseios do povo, muito menos cumprir com todas as promessas que ele próprio voluntariamente fez aos munícipes. Estou a falar de problemas básicos que condicionam a vida dos moradores … problemas como vias de acesso, saneamento e empregabilidade dos jovens, acho que ele se esqueceu do bairro da Liberdade. Temos problemas graves de saneamento”, desabafou Dimande.

A última cartada: os 500 M MZN

Foi em Maio deste ano que muitos munícipes se escandalizaram com a notícia de que o município gastaria 518.503.427,42 MZN (quinhentos e dezoito milhões, quinhentos e três mil e quatrocentos e vinte e sete meticais e quarenta e dois centavos) para a concepção, desenvolvimento e operacionalização de um Sistema Integrado de Gestão Municipal (SIGEM).

O enigmático concurso foi ganho pelo consórcio MCNET & Axis Solutions. A surpresa adveio não só do facto de Calisto Cossa estar no final do mandato, mas porque o valor astronómico, no entender de muitos munícipes, daria para a resolução dos problemas que muitos dos residentes consideram prioritários.

Uma curta pesquisa permitiu-nos apurar que o valor alegadamente alocado para a compra do software seria suficiente para a compra de cerca de 125 (cento e vinte e cinco) camiões de 20 metros cúbicos para a recolha de lixo que custam, ao câmbio actual, qualquer coisa como 3.962.000 MZN/unidade, com o transporte incluso.

Salomão Miambo morador do bairro da Machava, disse que “a gestão de Calisto Cossa foi desastrosa. Agudizaram-se os conflitos de terra, persistem os problemas de transporte, os que circulam actualmente são de propriedade privada, não se encontram autocarros do município a circular no bairro da Machava Bedene”.

Miambo acrescenta que havia também problemas de definição de prioridades e indaga-se:  “como é que um município com problemas de saneamento, transporte, vai gastar 518 milhões de meticais num sistema informático?”.

E, em jeito de fecho, diz: “esse sistema informático não resolve os problemas dos munícipes”.

STÉLVIO MARTINS

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 17 de Novembro de 2023.

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