Homenageado moçambicano

Homenageado moçambicano – A ligação entre moçambicanos e sul-africanos na luta contra injustiças na África do Sul é muito antiga.

Poucos sabem que o homem que assassinou o arquitecto do Apartheid e então Primeiro-Ministro da África do Sul, Hendrik Verwoerd, em Setembro de 1966 era moçambicano.

Dimitri Tsafendas nasceu em Janeiro de 1919 na então cidade de Lourenço Marques, ora Maputo, capital moçambicana.

O seu pai marinheiro de origem grega trabalhava como engenheiro na marinha e a mãe, Amélia Williams, era moçambicana. Aos três anos de idade, Dimitri foi enviado pelos pais para viver com avó e tia no Egipto e mais tarde fixou residência na África do Sul, onde se tornou membro activo do Partido Comunista Sul-Africano nos meados da década de 1930.

Tsafendas viajou meio Mundo, e viveu na Cidade do Cabo, onde depois de vários empregos ocasionais foi contratado em Agosto de 1966 como mensageiro no parlamento sul-africano.

Um mês depois, o moçambicano fez manchetes nos jornais em todo o Mundo quando assassinou o então Primeiro-Ministro, Hendrik Verwoerd, no parlamento usando uma faca.

Segundo relatos, na tarde do dia 6 de Setembro de 1966, Hendrik Verwoerd, de 65 anos, foi ao seu gabinete anexo à sala de sessões do parlamento.

Dimitri Tsafendas foi ter com ele e deu-lhe quatro golpes de faca no peito deixando-lhe estatelado sem respirar.

Deputados agitados com o acontecimento detiveram Tsafendas e entregaram-lhe à Polícia. Durante o interrogatório, confirmou que matara Verwoerd porque estava desgastado com políticas raciais.

Mais tarde foi revelado que Dimitri Tsafendas estava irritado  porque poucos dias antes da morte de Verwoerd as autoridades tinham rejeitado o seu pedido de transferência para a categoria de mestiço para poder conversar com a sua namorada da mesma categoria racial.

Entretanto, durante o julgamento, Tsafendas não foi declarado culpado pelo tribunal porque sofria de esquizofrenia, ou seja, distúrbio mental, mas foi sentenciado à detenção por tempo indeterminado num hospital psiquiátrico.

Depois do colapso do regime da descriminação racial em 1994, o moçambicano foi internado numa clínica psiquiátrica em Joanesburgo, na qual morreu em Outubro de 1999, com 81 anos de dade.

Os seus restos mortais foram enterrados num local desconhecido seguindo rituais da Igreja Ortodoxa.

Ora, no dia 10 deste Outubro, a Igreja Ortodoxa Grega em Maputo comemorou a vida e obra de Dimitri Tsafendas numa missa que coincidiu com a passagem dos 200 anos da revolução grega.

Quando Tsafendas apunhalou o Primeiro-Ministro Hendrik Verwoerd em Setembro de 1966 no parlamento sul-africano na Cidade do Cabo, o governo, então assustado, teve de arranjar uma forma de desviar a natureza política profunda do assassinato do arquitecto do Apartheid em plena luz do dia, dizendo que o moçambicano era demente, ou seja, maluco, infectado por ténia, “meia casta, era grego e não um de nós”, uma implícita referência de que não era bóer ou afrikaans puro, de origem holandesa.

Em 2018 o estudioso e escritor Harris Dousemetzis publicou a primeira biografia profunda sobre o homem que matou Verwoerd com o titulo “The Man Who Killed Apartheid” ou seja o Homem que Matou Apartheid cuja cópia o jornal Redactor teve acesso.

A obram com cerca de 500 páginas, apresenta amplas evidências de activismo consistente de Tsafendas em vários países por onde passou durante a sua vida.

O jornal electrónico sul-africano Daily Maverick reporta alguns pormenores da missa realizada em Maputo em memória do homem que matou o Apartheid na sala do parlamento.

De acordo com o jornal, o tributo realizado na terra natal de Tsafendas contou com a participação de alguns membros do governo moçambicano, por sinal também do partido Frelimo, aliado do Partido Comunista Sul-Africano, do qual Dimitri Tsafendas foi membro activo. Participaram também diplomatas e representantes de outras congregações religiosas.

A missa foi dirigida pelo Arcebispo da Zâmbia e Adjunto da Diocese da Igreja Ortodoxa Grega em Moçambique.

Foi lida mensagem do Papa e Patriarca de Alexandria e Toda África, Teodoro II, descrevendo Tsafendas como “verdadeiro combatente por direitos humanos, missionário de liberdade e mártir que durante a sua vida enfrentou torturas inexplicáveis”.

O Arcebispo zambiano disse que Tsafendas amava a sua terra-mãe, Moçambique, e foi um dos pioneiros do movimento nacional moçambicano de libertação e repetidamente aprisionado pelos serviços secretos.

A mensagem do Secretário-geral Adjunto do Partido Comunista da África do Sul, Solly Mapaila, diz que Dimitri Tsafendas foi herói de luta pela liberdade do povo sul-africano cujo legado marcado por grande sacrifício jamais será esquecido.

Antigos presos políticos sul-africanos que partilham o estabelecimento prisional com Tsafendas enviaram mensagens à Diocese da Igreja Ortodoxa Grega em Maputo falando sobre “o homem que matou o apartheid”.

A mensagem de Krish Govender, antigo co-presidente da Associação sul-africana de Advogados diz que milhões de pessoas na África do Sul precisam de ser recordadas que na sua juventude e em formação Dimitri Tsafendas lutou ao lado de estivadores oprimidos em Lisboa, capital portuguesa, durante o regime fascista de António de Oliveira Salazar e foi detido e torturado pela PIDE.

No entanto, com a sua maior esperteza fugiu dos seus carcereiros para África até Moçambique e depois África do Sul enquanto apoiava a classe trabalhadora.

O Partido Comunista Sul-Africano promete erguer lápide ou jazigo memorial para o moçambicano Dimitri Tsafendas.

Entretanto, não há qualquer indicação de intervenção de algum membro do governo moçambicano ou do partido Frelimo durante a missa na Igreja Ortodoxa grega em Maputo sobre a vida e obra do comunista moçambicano que matou Apartheid.

THANGANI WA TIYANI, CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 26 de Outubro de 2021.

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