Junta Militar da RENAMO

Junta Militar da RenamoAté aqui, os políticos, tanto os da Renamo de fato e gravata quanto os do partido governamental, ainda não levaram a sério os constantes avisos que chegam da Junta Militar da Renamo. Já ouvimos alguns, entusiasmados pelo acordo, a dizer que as forças da Renamo e as do governo, juntas, vão esmagar os rebeldes. Queremos deixar bem claro que não devem brincar com fogo.

A Junta Militar é uma força a ter em conta e, de modo nenhum, gostaríamos de ver aberta uma nova frente de confrontações militares. A Junta Militar da Renamo disse, através do seu líder, que vai respeitar as tréguas decretadas. Isso é muito bom e louvamos a atitude. Que não seja o governo, cegado pelo triunfalismo barato, a desencadear uma nova guerra, mergulhando, dessa forma, o país em conflito armado, totalmente, estúpido, desnecessário e bem evitável.

A Junta Militar da Renamo é produto das divergências internas no seio da Renamo e o governo, quando muito, que procure ajudar como o problema deve ser ultrapassado, sem qualquer tipo de ameaças nem mesmo com uma pistola. Esta nossa advertência é dirigida, de modo particular, ao comandante-chefe das Forças de Defesa e Segurança, que tem a prerrogativa de lei de enviar as tropas para vasculharem as matas à procura de possíveis inimigos da Pátria.

Não há guerra, por momento, mas tudo vai depender da postura e inteligência dos dirigentes do partido Frelimo e da Renamo. Se se enveredarem pela violência, o país voltará, sem qualquer margem de dúvidas, a mergulhar-se em sangue. O povo não quer mais guerra. Ninguém tem que sacrificar a sua vida em defesa de interesses de quem quer que seja. As divergências no seio da Renamo não constituem perigo para Moçambique. Poupem os moçambicanos de mais uma guerra por dinheiro!

Os políticos de fato e gravata da Renamo deveriam evitar de fazer pronunciamentos sobre assuntos que não dominam nem sequer viveram. É ridículo aparecer um civil, que mal pode distinguir uma AKM-47 de um canhão, a dizer que esses aí são “desertores e indisciplinados”. A questão das divergências entre a Renamo política, urbana, parlamentar ou dos gabinetes da Renamo militar não é do alcance de qualquer um. O princípio da humildade manda dizer que abster-se de falar de assuntos que não sabe é sinal de inteligência. O papagaio morreu de vermelho por andar a reproduzir as besteiras que lhe ensinam. O assunto é militar, só e somente só, diz respeito aos militares.

Os dirigentes da Renamo deveriam preocupar-se em resolver os problemas que a Junta Militar está a colocar e não se limitar a mandar recados através dos seus rapazes. Não dissemos, nem temos tal pretensão, de afirmar que a Junta Militar da RENAMO esteja coberta de razão e seja verdade tudo quanto reivindica, mas é preciso saber ouvir. Ninguém deve trajar coração de pedra de tal maneira que julgue que, sempre, o outro está errado.  A cegueira dos corações pode radicalizar a situação.

Os civis que sempre aparecem a falar estão a mais nesta questão, por isso, deveriam se manter longe dos holofotes e sem qualquer protagonismo, porque, de outro modo, amanhã cobrir-se-ão de um grande manto de vergonha. Seria de bom tom que a RENAMO de fato e gravata indicasse um militar de patente destacada para falar desta questão, quando, estritamente, necessário. Enganam-se aqueles que julgam que o público esteja a gostar do teatro que estão a dar com as entrevistas que concedem nas rádios e televisões nas quais menosprezam aqueles que lutaram e sofreram para que, hoje, tenhamos um ambiente democrático, ainda que deficiente. Que fiquem calados, para sempre, os papagaios para que a voz do dono se faça ouvir até aos destinatários da mensagem! Os papagaios, quando falam, fazem bastante ruído por desconhecerem a história, por o silêncio constituir uma forte recomendação para esta classe de políticos.

Sem a pretensão de enumerarmos algumas razões que levaram a esta situação no seio da Renamo, queremos recordar, apenas, que há políticos de fato e gravata na bancada parlamentar que estão enfeudados no Parlamento desde 1994 e, nesta condição, acumularem riqueza, privilégios e salários muito acima da média nacional. Esses políticos perderam a noção do sacrifício e procuram ignorar os que trouxeram o que usufruem, aconselhando mal ou menos bem os dirigentes que devem tomar decisões de fundo.

Por quê agem dessa maneira esses políticos? – Não sabemos responder com precisão, mas, o medo de perder privilégios deve estar no centro dessa postura. Informações que conseguimos apurar sugerem que tenham sido os mesmos políticos que aconselharam a nova direcção da Renamo para “mandar passear” a proposta de haver candidato, uma única lista, como seria o desejo de vários actores políticos.

Ossufo Momade, o novo presidente da Renamo, ouviu os seus conselheiros de fato e gravata e decidiu declinar, deixando para trás uma proposta de esperança que poderia trazer a honra e dignidade dos moçambicanos. No dia 16 de Outubro, veremos de que lado reside, afinal, a verdade material. Saberemos quem protege esses tipos no poder.

EDWIN HOUNNOU

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 29 de Agosto de 2019, na rubrica semanal MIRADOURO

Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Correio da manhã favor ligar para 21 305323 ou 21305326 ou 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz

Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais.

Gratos pela preferência

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *