Libertem Amad Abubacar, já!
Amad Abubacar é um jovem jornalista da Rádio Comunitária da Vila-Sede de Macomia, na província de Cabo Delgado, palco das chacinas levadas a cabo por grupo de insurgentes com objectivos, até aqui, desconhecidos do público em geral e das suas directas vítimas, em particular.
A 05 deste Janeiro, Amad Abubadar foi surpreendido pelas forças de defesa e segurança a entrevistar e fotografar as pessoas que fugiam das atrocidades dos bandos que têm estado a semear luto nas famílias daquelas regiões e foi recolhido às celas do comando da polícia, sem direito a visita de ninguém.
Quando o advogado do MISA -Moçambique (Instituto de Comunicação Social da África Austral) se fez ao comando distrital da Polícia de Macomia foi informado que o seu constituinte foi transferido para um quartel-cadeia no distrito de Mueda, local para onde são atirados os insurgentes capturados e outros a eles associados. Ninguém, em Macomia, sabia dessa transferência. Todos ficaram bastante admirados pela decisão dos militares.
Em Macomia, em particular, os pais de Amad Abubacar perderam a esperança de voltar a ver o seu filho por conhecerem o modus operandi dos militares naquelas regiões de quase guerra que se prolonga desde Outubro de 2017, por clara incompetência e da incapacidade das forças de defesa e segurança que não conseguem esclarecer quem são esses insurgentes, insurgem-se de quê, de onde são provenientes e o que pretendem alcançar com as matanças de gente inocente.
A prisão de Amad Abubacar vem, mais uma vez, selar o que se diz, em voz baixa e de boca pequena, que o regime de Moçambique, sob a direcção de Filipe Nyusi, é tão perigoso quanto ao anterior sob a batuta de Armando Guebuza, o “filho querido do povo da Pérola do Indício” que afundou o país. Não diz que suprimiu, na prática a liberdade de expressão, de pinhão e de imprensa, porém, odeia o pensar diferente.
Notamos, todos os dias, que a única voz que desfila nos órgãos de comunicação públicos pertence ao G40 (académicos e intelectuais seleccionados para tecerem comentários abonatórios ao regime). Isso equivale dizer que as opiniões de outros quadrantes da sociedade não têm nenhum valor. É esta a famosa democracia que se vive na nossa terra – se não faz salamaleques ao regime, é ostracizado e desqualificado.
Com ataques terroristas, em Cabo Delgado, estão criadas as condições para todo o tipo de violações dos direitos humanos como detenções arbitrárias, acusações fantasiadas e ridículas como aquela que o Ministério Público deduziu contra o empresário sul-africano, André Hanekon, em que os instrumentos de adorno da sua casa são tomados como armas de guerra para os insurgentes.
A polícia e os militares têm as mãos largas para fazerem o que lhes vai na gana. Voltamos aos tempos da “guerra da Frelimo”, como bem a havia designado o falecido arcebispo da Beira, Dom Jaime Gonçalves.
Exigimos que as autoridades competentes mandem libertar o jornalista Amad Abubacar. Ele não praticou nenhum crime. O único crime que cometeu foi de buscar a verdade para informar.
Em Moçambique, temos ou não um regime autoritário, como vários estudos internacionais indicam? Libertem Amad Abubacar já!
Edwin Hounnou
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Correio da manhã do dia 15 de Janeiro de 2019 na rubrica semanal MIRADOURO
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