A lixeira de Hulene
A tragédia que se abateu com o desmoronamento da lixeira, na passada segunda-feira, veio destapar o véu sobre a apatia das autoridades municipais que há muito anunciaram que a mesma estava saturada.
Com os subterfúgios da falta de fundos para a entrada em funcionamento da nova lixeira, em Matlemele, era inevitável que a qualquer momento uma desgraça acontecesse!
Para não variar, as autoridades municipais, quais carpideiras, apareceram nas câmaras televisivas em poses fúnebres.
17 pessoas morreram em consequência do desabamento na lixeira sobre as suas casas. Mas vamos ao cerne da questão: quem não sabe que aquela lixeira foi palco de um fuzilamento público de alegados candogueiros durante o regime totalitário e monolítico da Frelimo, durante a Primeira República?
A 9 de Abril de 1983 foi fuzilado ali Gulamo Nabi, num triste evento onde até crianças foram mobilizadas nas escolas primárias para testemunharem o fim de um “criminoso”…
Estiveram presentes no vil fuzilamento o então presidente do Conselho Executivo da Cidade de Maputo, Gaspar Zimba, estruturas do partido de vanguarda e guia do povo moçambicano, grupos dinamizadores e uma banda militar que tocou músicas revolucionárias.
Para além de Gulamo Nabi, naquela data foram fuzilados outros cinco presos. Gulamo Nabi e outros foram fuzilados por um impiedoso pelotão de executores.
Quem exarou a sentença da execução foi o então juiz do Tribunal Popular Revolucionário, o não menos conhecido Luís Mondlane. Ele condenou Gulamo Nabi à pena de fuzilamento e ao seu motorista Chitará a 12 anos de prisão e 45 chicotadas…
Luís Mondlane é aquele senhor que foi presidente do Conselho Constitucional e fez das suas lá em assuntos ligados à gestão danosa e acabou por renunciar… sorte dele foi a pena capital já ter sido abolida!!!
Temos assistido nas tomadas de posse dos Presidentes da República, ainda que o nosso Estado seja laico, a cerimónias tradicionais de evocação de antepassados, para que o novo líder tenha uma governação sã e saudavél. Quer-me parecer que seja o caso da lixeira do Hulene.
Aqueles que ali foram fuzilados precisam de ser exorcisados para que encontrem a paz definitiva. Não vamos andar às cantigas e ladainhas, estamos em África e temos visto essas cerimónias.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: A lixeira de Hulene não precisa de ser exorcisada?
LUÍS NHACHOTE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 24 de Fevereiro 2018 na rubrica semanal DO LADO DA EVIDÊNCIA
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