Mabassa
Mabassa – Em 2005, dez pessoas com deficiência física severa decidiram criar uma associação denominada Mabassa, que na língua Tewe, uma das faladas no Centro de Moçambique, e que significa “Trabalho”.
O desígnio desta associação é sacudir para longe a dependência multiforme e, inclusive, dar emprego a ouras pessoas sem deficiência física evidente.
Para além dos dez membros com deficiência física saliente, a Mabassa agrega duas outras pessoas sem deficiência nítida, que ajudam os associados na execução de um conjunto de actividades geradoras de renda. A agremiação está baseada na cidade de Chimoio, capital da província central moçambicana de Manica.
Quase todos os fundadores da Mabassa em algum momento experimentaram a vida amarga de pedintes na via pública, até despertarem para conjecturar a hipótese de fazer algo mais digno e menos ariscado.
Foi daí que um deles, que entende de fabrico e reparação de calçado, sugeriu a criação de uma associação para desenvolver actividades rentáveis em conjunto, ideia que rapidamente foi acolhida pelos “colegas das ruas da amargura”. Não tardou que se passasse dos planos a acções.
Trabalhos de sapataria e corte e costura constituíram as primeiras actividades diárias dos associados, cuja maioria não possui membros inferiores ou os tem, mas com deficiência, situação que não bastou para travar o desejo de alcançar a independência financeira.
Nem a falta de recurso para o início desta actividade constituiu obstáculo: reciclar pneus, borrachas e panos para fabricar chinelos, sandálias, chapéus, bolsas entre outros artigos, foi a opção encontrada.
Rapidamente o negócio floresceu e o mercado se alargou, ao ponto de inclusivamente ter alguma clientela noutras províncias do Centro e Norte de Moçambique, designadamente Sofala, Tete, Zambézia e Nampula. Alguns nacionais e/ou residentes no vizinho Zimbabwe usufruem dos trabalhos dos associados da Mabassa.
Tudo corria às mil maravilhas até que em Março de 2020 Moçambique começou a enfrentar os efeitos negativos da covid-19. “Parecia que o céu ia desabar sobre as nossas cabeças. O negócio definhou e a clientela sumiu”, comenta um dos associados da agremiação.
Hoje, com a retoma gradual da normalidade, os membros da Mabassa acreditam em dias risonhos, mas não disfarçam que encarariam com muito agrado um “empurrão” de quem pode, para alavancar os esforços com os quais garantem a sua subsistência e a dos seus dependentes.
Zacarias Quembo, um dos membros fundadores da Mabassa, de 42 anos de idade, sem membros inferiores, é um exímio fabricante de calçado, e repete que uma “mãozinha dessas Organizações Não Governamentais que actuam em Moçambique seria bem-vinda”.
Quembo vangloria-se de ser membro da Mabassa “porque evita essas coisas de andar por aí de mão estendida. Depender de esmola é degradante. Veja que há quem oferece rebuçados a um homem da minha idade” (risos).
Responsável por um agregado familiar de oito membros, Zacarias Quembo diz que desde que ajudou a criar a Mabassa consegue garantir “pão e manteiga” para a família. “Bom a escrever no computador” e com o ensino médio concluído, Quembo diz que jamais esquecerá o susto pregado pela pandemia da Covid-19, mas, sempre com um riso, diz que “graças a Deus parece que tudo está a voltar à normalidade”.
Ao Redactor falou também Ana António, membro desta agremiação desde 2010. A especialidade desta mulher é costurar roupas, bolsas femininas e máscaras de protecção facial.
Sempre com um sorriso, Ana António diz que coser máscaras de protecção facial foi uma das “tábuas de salvação” da agremiação no pico da pandemia.
Os sorrisos quase permanentes de Ana escondem um passado aflitivo. É mãe de três filhos e afirma que um dos momentos mais sombrios da sua vida foi em 2009, quando o parceiro lhe virou as costas, quando estava grávida, tudo por causa da sua condição física.
“Em algum momento os pontapés da vida foram me deixar nas ruas da mendicidade, mas graças à Mabassa hoje levo uma vida digna e consigo sustentar os meus filhos”.
KELLY KYABONDO MUWENDA, nosso correspondente em Manica (texto e fotos)
Este artigo intitulado “Mabassa mostra que é possível ser se independente, mesmo com deficiência” foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 07 de Março de 2022.
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