Deficiência: Pequenas amostras

Deficiência – A primeira estratégia governamental de educação inclusiva e desenvolvimento da criança com deficiência, lançada pelo Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi em 2020, não tem se materializada no terreno, pois, maior parte das escolas do país não possuem infraestruturas apropriadas incluindo profissionais qualificados para trabalhar principalmente com crianças com necessidades educativas especiais.

A inclusão educativa especial das crianças constitui um dos desafios em Moçambique, para a observância de um dos direitos fundamentais de um ser humano, que é de estudar para contribuir positivamente no desenvolvimento do país.

De acordo com as Nações Unidas (2021), há quase 240 milhões de crianças com deficiência em todo mundo, sendo que se encontram em situação de desvantagem se comparado com crianças sem alguma deficiência na maioria das medidas de bem-estar infantil (Redactor N° 6264, págs. 1 e 2).

Em Moçambique, em particular, existem cerca de 781.589 pessoas com deficiência, de acordo com dados recolhidos pelas autoridades governamentais e organizações da sociedade civil em 2020, facto que revelou que duas em cada três crianças com deficiência estão fora do ensino escolar.

O facto possibilitou ao Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano lançar a primeira estratégia da Educação inclusiva e Desenvolvimento da criança com deficiência 2020-2019, com objectivo de fazer a reestruturação do sistema educativo como um todo.


Laissa Aizeque Tivana recebendo assistência atenciosa da professora

Além de algumas escolas funcionarem debaixo de árvores, outras leccionam em infraestruturas a base de paus, matéria que serve também de carteiras para os alunos, e a assimilação de matéria em crianças sem e com deficiência é extremamente diferente.

Olhando ainda para os dados recolhidos pelas autoridades governamentais e organizações da sociedade civil em 2020, em comparação com as crianças sem deficiência, as com deficiência têm 42% menos probabilidade de ter habilidades básicas de leitura e 49% tem maior probabilidade de nunca ter frequentado a escola.

Nas salas de aula, as crianças com deficiência necessitam de maior atenção e acompanhamento pedagógico, mas para isso é preciso que haja melhores condições das infraestruturas e professores qualificados para assistir crianças com problemas de visão, audição, físico-motoras e outros.

Até então a Save The Children International em Moçambique é o único organismo que tem se empenhado em apoiar o governo em matéria de educação básica inclusiva nas escolas com crianças com necessidades educativas especiais.

Esta organização não-governamental treinou, na província de Manica, Centro de Moçambique, 50 professores em matéria de linguagem de sinais e braile para assistir até agora 1.328 crianças com diversos tipos de deficiência em toda província.

Laque Nasson recebendo ajuda da professora na sala de aula

A directora de programas na Save The Children em Manica, Ana Dulce Guizado considera que o número de professores treinados não é suficiente para todos os alunos com deficiência na província de Manica, por isso urge mais esforços da sociedade civil trabalhar neste sentido para que nenhuma criança seja excluída no processo de ensino e aprendizagem.

Ana Dulce acrescenta que o problema de inclusão é complexo, e não é apenas da província de Manica, mas sim de todo país, pois é preciso rever o sistema de educação a partir do ministério.

A fonte considera uma gota no oceano, o trabalho da Save The Children, na medida em que para além de infraestruturas apetrechadas e professores treinados para cada deficiência, é preciso que haja recursos suficientes educativos para cada aluno com necessidades educativas especiais.

“É um pedido para que efectivamente todas as crianças sejam olhadas com as iguais oportunidades, quando nós estamos a falar de educação inclusiva, estamos a falar de recursos adicionais que são necessários para que essas crianças encontrem numa sala de aulas ou sua escola material apropriado para poder aprender. Precisam de pautas, máquinas apropriadas para poder aprender em braile”, referiu Ana Dulce Guizado.

O jornal Redactor trabalhou no distrito de Machaze a Sul da província de Manica, este que dista cerca de 300 km da cidade capital provincial de Chimoio, onde observou haver ainda muito trabalho para se realizar no que concerne à educação inclusiva no país.

Escalando a Escola Primaria de Save, posto administrativo do mesmo nome, cerca de 60 km da vila sede distrital, por onde existem três alunos com necessidades educativas especiais, com deficiência físico-motora, atraso mental, visual e auditiva.

Laissa Aizeque Tivana tem nove anos de idade, frequenta a segunda classe e tem deficiência físico-motora e atraso mental, patologias que lhe afectaram após ter crise epiléptico ainda mais pequena, dada a negligência dos profissionais do centro de saúde local, a menina nunca espreitou melhorias.

A professora Isabel Zacarias Simango que assiste a menina Laissa Tivana, diz enfrentar inúmeras dificuldades em trabalhar com a menina uma vez que não está capacitada para assistir alunos com este tipo de patologias.

“Na assimilação de matéria esta muito atrasada, porque na segunda classe ela podia escrever nome dela, mas até hoje ainda não sabe escrever nome, porque ela tem um problema, quando entende não escreve nada, só me repara”, disse Isabel Simango, professora de Laissa.

Outro episódio é da Escola Primaria de Bassane, da menina Chipo Langotone, de 17 anos de idade, ela perdeu os seus membros inferiores ainda no seu primeiro mês de vida. Sua mãe a deixou perto de uma lareira que lhe queimou, facto que forcou à amputação das pernas.

O director da escola primária de Bassane, Raimundo Paulo, mostra-se preocupado por alguns alunos estrem excluídos no processo de ensino e aprendizagem, por serem deficientes e não existir na sua escola, professores capacitados na matéria de necessidades educativas especiais.

“Gostaria aqui na escola existência mesmo de professores formados nesta área especifica de atendimento a crianças com deficiências, quer área visual que é o grupo de braile, quer para esses que tem perturbações mentais, porque necessitam de um acompanhamento de modo que sejam puxados ao ritmo normal como outros alunos aprendem”, afirma Raimundo Paulo.

Uma das “salas de aula” por nós visitada em Machaze

Ainda em Bassane, o Redactor testemunhou a história do petiz Laque Nasson, este que nasceu com visão parcial, de 12 anos e actualmente encontra-se na terceira classe na escola primária de Chipambuleque.

“É um pouco difícil trabalhar com o menino, mas tenho de encarar o problema do menino, no início das aulas foi um pouco difícil para o menino, mas agora já está se ambientar. Sempre levo o aluno para sentar a frente para poder ver no quadro e tento aumentar o tamanho das letras para o aluno poder conseguir enxergar. É primeira experiência com o menino, não tenho formação para trabalhar com este tipo de aluno”, disse Fátima Mabuleza, professora de Laque Nasson. 

O distrito de Machaze possui cerca de 35.410 alunos do ensino primário, dos quais 156 em situação de deficiência, sendo visual, auditiva, físico-motora, atraso mental e outras, assistidos apenas por nove professores que com treinamento de língua de sinais e grafia braile.

Ademais Machaze possui 93 escolas primárias distribuídas em 912 turmas, sendo 810 elas são de materiais convencionais e 102 salas a base de paus e muitas delas de baixo de árvores.

KELLY MWENDA, nosso correspondente em Manica (texto e fotos)

Este artigo intitulado “Deficiência: Pequenas amostras” foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 24 de Fevereiro de 2022.

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