Mentira e verdade

Mentira e verdade – Isto vem mesmo a calhar. O país está em campanha eleitoral, período excelente para quase todos, com um impressionante à vontade, falar e ouvir mentiras e verdades, que, aparentemente, ninguém leva a mal.

Pode ser triste, mas é a realidade, nua e crua. Neste país se mente copiosamente. Cada um mente perante si próprio e mente perante o próximo. Como se não bastasse, até se mente perante o mundo. Podemos usar o caso das famosas “dívidas ocultas” como exemplo.

Por estes dias de campanha, os candidatos vão à rua e falam mentira e verdade, numa boa, prometendo mundos e fundos, na busca de votos e, do outro lado, o povo, bem-educado, que, como sempre digo, até dispensa as dispendiosas campanhas de “educação cívica”, promete, educadamente, a todos, o seu voto: é o período legal de falar mentira e verdade, digamos.

O político sabe que não vai cumprir muito do que promete. O potencial eleitor também sabe que o político não vai honrar a sua palavra e que também não pode votar em todos a quem promete o seu “voto garantido” durante a campanha eleitoral. Mas todos garantem com toda a naturalidade. É a mentira da verdade ou a verdade da mentira, para todos ficarmos aparentemente felizes e descansados.

Por seu turno, os gestores dos órgãos eleitorais vão assegurando que está “tudo a postos” para no dia da votação correr tudo às mil maravilhas, mas todos sabemos que no dia 15 de Outubro, logo de manhã, ouviremos os mesmos indivíduos, pelos mais variados meios de comunicação, uma “chuva” de justificações para o mar de falhanços que assistiremos. É a mentira da verdade ou a verdade da mentira. Irmãos! Em Moçambique se mente alegre e copiosamente.

Por esta pátria amada, onde até se inventam termos jurídicos – quem não se recorda do relaxamento da imunidade de um deputado, por exemplo – até parece que a mentira foi legislada/legalizada. Assumamos: um país assim, só pode ser um país doente. Dói, mas é verdade.

A maioria dos nossos políticos são descaradamente mentirosos e espantosamente há muita gente que ama viver enganada e iludida, por vezes a troco de uma mísera migalha. Também há muita gente que finge militar numa determinada organização, por mero motivo de subsistência. Muita hipocrisia.

Ao simples facto de nos envolvermos directamente em campanhas eleitorais já partimos com a predisposição de mentir (no caso dos políticos) e de ser enganados (no caso do povão). Tipo quando vamos ao teatro…

Ao menos somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade.

Mas uma coisa é ir ao teatro e outra é decidir pelo nosso futuro, irresponsavelmente, para depois termos pela frente uns cinco anitos chorando baba e ranho, de verdade…

REFINALDO CHILENGUE

PS:

Enquanto no Centro e Norte deste Moçambique milhares aguardam, silenciosos, tristes, feridos e ensanguentados, pela proteção – centenas de outros já foram brutalmente assassinados – aparatosos efectivos das forças de defesa e segurança se entretêm em Malhampswene com catadores de lixo ou na proteção da fanquista Ludmilla

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 20 de Setembro de 2019, na rubrica semanal denominada TIKU 15!

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