Machaze sem água

Machaze é um distrito localizado num planalto a sul da província de Manica. Faz limite a Este com o distrito de Machanga, a Norte com o de Chibabava (ambos de Sofala), a Oeste está o distrito de Mossurize, a Sul as províncias de Inhambane e Gaza, cuja delimitação é feita através do Rio Save e Zimbabwe. A sede do Distrito chama-se Chitobe, sem infraestruturas de destaque. Não tem qualquer tipo de indústria e ainda pratica uma agricultura de cabo curto, como se fazia há muitos anos. Assolado por grave falta de água e seca severa o que submete à sua gente a uma situação de fome aguda.

O trabalho de busca está reservado às senhoras que percorrem, de bicicletas, acima de 20 km para captarem, entre 40 a 60 litros de água. Não há rios com curso de água e os raros furos de água estão sob a gestão de privados que vendem, por cada 20 litros, a preço de cinco meticais. Em Machaze, na sua maioria, ninguém toma banho de água corrente. Dizem que “tomamos banho inglês”, isto é, ensaboa a toalha que é esfregada em todo o corpo, repetidas vezes, e, por fim, volta a mergulhá-la, depois passa-a, de novo, sobre o corpo. Assim, está feito o banho, quando há. Não é todos os dias que se toma banho, em Machaze, porque a água não permite a tal luxo.

Tomar banho, em Machaze, é um luxo que anda longe da gente humilde. No meio da grande dificuldade os dirigentes locais da administração pública e do partido governamental têm água a qualquer momento. São esses que andam pelas aldeias a prometerem uma vida melhor, caso votem na Frelimo e no seu candidato, Filipe Nyusi. Passam a ideia de que o povo é bem governado e pretendem uma nova administração mais próxima do povo. Quem assim pensa, está equivocado. É a própria Frelimo que se desdobra em promessas falsas.

Não é preciso um novo manifesto eleitoral porque o anterior serve. Nada mudou nada – os mesmos actores falando das mesmas promessas. A questão de água remota desde a independência. O problema persiste porque não atinge as elites do partido no poder e diz respeito, apenas, ao povo, por isso, não é resolvido. Se afectasse, também aos graúdos, teria sido resolvido. Eles julgam que o povo é criança que se engana com uma mão cheia de rebuçados. Uma cantiga qualquer, um t-shirt, é tudo quanto basta!

As terras de Machaze são produtivas, porém, não há chuva para molhar e fertilizar os campos devido ao desflorestamento. Todos os dias, caravanas de camiões carregadas de troncos calcorreiam as suas estradas. Até os motoristas desses camiões são cidadãos da China. Há um processo doloso de desertificação acelerada das florestas de Machaze.

A produção agrícola decaiu bastante e a fome chegou.  Não estamos a dramatizar nada. As populações estão a passar muita fome. Trata-se de fome da falta de alimentos e não da falta de proteínas. As populações vivem de tubérculos selvagens (munhanha, na língua local). Enquanto as mães vão à busca de água logo pela manhã para regressarem a meio da tarde, os filhos se espalham pelas matas à caça de munhanha. É desta maneira como decorre a vida em Machaze. O povo passa por mil sofrimentos e privações.

Em qualquer parte do mundo, quando um governo não resolve os problemas básicos da população, como água, ensino, saúde, não serve para nada. É descartável. Criar condições para que o povo tenha água potável, centros de saúde com o pessoal qualificado e medicamentos, escolas munidas de professores motivados e carteiras é o mínimo que se pode pedir a um governo. Para o nosso caso, quase que falta tudo – não há água potável, não há escolas adequadas nem professores motivados, os centros de saúde não têm medicamentos e as parturientes vêm se na contingência de se fazerem acompanhar de uma “notinha” amarrada na ponta da capulana.

Este é o país que se foi construindo, ao longo dos longos 44 anos de destruição contínua, com o partido Frelimo no comando do nosso destino comum. Se o povo continuar indiferente e apático, deixaremos, para as gerações do amanhã, um país escangalhado e sem futuro. Temos a obrigação histórica de impedir que um grupo de indivíduos se assenhore do nosso país e faça dele sua coutada ou machamba.

As eleições, em regime democrático, servem para castigar os maus políticos, recusando-lhes o voto, contrariamente do que acontece nos países onde imperam regimes aristocráticos, ditatoriais e corruptos em que as eleições são uma simulação de democracia, assim como entre nós.

Aqui, as eleições são para impressionar os países ocidentais a fim de continuarem a drenar fundos colectados a partir das economias dos seus povos. Pedimos, encarecidamente, aos povos da Europa e dos Estados Unidos para interromperem o oxigênio que mantém ainda vivo os nossos carcereiros.

Moçambique é um país especial onde os ladrões ao invés de serem recolhidos na cadeia, andam em campanha eleitoral de casa em casa, de comício em comício a pedirem voto a fim de continuarem a roubar. Vamos votar, em massa, para eles saírem do poder!

EWIHN HOUNNOU

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 18 de Setembro de 2019, na rubrica semanal denominada O RANCOR DO POBRE

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