“Milionários” de Moçambique?

Milionário: Em Abril deste ano ficámos a saber, através da New World Wealth, que em Moçambique há 1100 milionários e 50 pessoas com activos superiores a 10 milhões de dólares norte-americanos!!!

Nesse estudo apresentava-se o ranking da riqueza per capita, e o nosso país estava classificado na 16.ª posição no continente africano, onde há mais riqueza per capita, com USD 800, numa lista liderada pelas Ilhas Maurícias, com 25.700 dólares norte-americanos.

Com esse número de “milionários” fica difícil entender porque é que, por exemplo, essa classe não investe numa rede de transportes, onde o mercado está sendo absorvido pelas regras mais brutais de um capitalismo selvagem, em que a própria selva era capaz de se gabar de ser mais civilizada que a própria civilização.

Qual é o prazer desses milionários, ao volante das viaturas mais potentes da esfera terrestre, em olhar para os “My Love” que andam aos cogumelos, com gente carregada como autênticos sacos?

Só ainda não nos bateu a todos a calvície, por desígnios insondáveis, mas toda a gente está careca de saber que os serviços de transportes públicos do país inteiro são péssimos.

O serviço de transporte de semi-colectivos, conhecidos por “chapas”, já chegou a ser descrito como sendo “um serviço pobre para pessoas pobres”.

Um estudo realizado pela Nathan Associates em 2008, financiado pela agência americana USAID e entregue à Fematro, uma das associações ligadas à Confederação das Associações Económicas (CTA), explicava que os “chapas” eram insustentáveis na medida em que se não forem tomadas medidas drásticas em breve, a capacidade do sistema irá baixar, a qualidade do serviço prestado irá deteriorar-se e os custos aos utentes irão aumentar.

Referia o estudo que o “o sector privado, que possui, de longe, a maior parte do mercado dos serviços de transportes públicos, encontra-se fragmentado e desorganizado e só consegue funcionar desobedecendo os regulamentos”.

Os nossos “milionários”, porque próximos do poder vigente e dominante, sabem que a política dos transportes públicos do Governo não é clara, que é obsoleta e, querendo, eles podiam dar a volta ao texto, de modo que de dentro das suas viaturas portentosas jamais se digladiassem nas estradas com os “My Love”.

Os nossos “milionários” teriam com um investimento no sector dos transportes maior acessibilidade nas estradas, segurança e conforto!

Deve ser constrangedor estar ao volante de um “Ranger”, “Ferrari” e ficar lado a lado com um “My Love”, porque, doutro modo, só posso acreditar que estamos numa sociedade onde esses “milionários” exorcizam o seu sadismo na praça pública, sem recurso à defesa!!!

Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: São masoquistas os “milionários” de Moçambique?

LUÍS NHACHOTE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF da edição de 14 de Setembro de 2017 do jornal Correio da manhã de Moçambique, na rubrica semanal DO LADO DA EVIDÊNCIA

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