“Trump star”

Donald Trump será o próximo presidente dos Estados Unidos da América. Surpresa? Não. Estranho? Talvez.

O candidato que se apresentou como antissistema e defensor do regresso aos valores tradicionais americanos terá ganho por ter dito aquilo que os eleitores queriam ouvir. A vitória de Trump choca o “mainstream”. Abala a Europa e deixa os mercados em ansiedade.

Por desconhecimento do que será a sua presidência, por receio de que possa criar desequilíbrios e instabilidade.

Para os europeus [e cidadãos de muitas outras paragens do Mundo], ganhou o candidato que menos se desejava. Para os americanos ganhou o candidato que lhes ofereceu esperança, orgulho e vaidade.

O resultado das eleições americanas vem na sequência da tendência que marca a Europa política dos últimos meses, principalmente depois do Brexit, do crescente apoio aos partidos extremistas e nacionalistas na Alemanha e na Áustria, a movimentos como o Syrisa de Tsipras, o 5 Estrelas de Beppe Grillo ou a Frente Nacional de Marine Le Pen. Isto é, enfrentar o politicamente correto, que assegura a continuidade da crise e da falta de crescimento económico, logo, a redução de rendimento e de melhoria de qualidade de vida.

A incapacidade que o mundo ocidental demonstra em sair da crise do “sub-prime” e das dívidas soberanas, há quase uma década, cansa o eleitor que quer voltar a sentir pujança económica, garantia de rendimentos e expectativas concretizadas.

No caso americano há que juntar o orgulho da nação, o pulsar da “stars and stripes”, o regresso do sentimento de hegemonia presente desde o princípio do século XX e ausente internamente na crise económica, social e na desconfiança política.

E por isso Trump vai olhar primeiro para dentro, com o seu anunciado programa de recuperação económica, no controlo sobre a imigração, na luta pelo crescimento e no combate ao desemprego. Olhará mais para dentro e investirá menos fora. Afinal, vai ter de consolidar o seu eleitorado. Trump será, antes de mais, o centro da ação e da controvérsia como na campanha. Não vai mudar.

Trump enfrentou tudo e todos, principalmente os líderes europeus, porque tinha de conquistar os eleitores americanos. Hillary representava o sistema, a continuidade e a segurança do mundo… menos para os eleitores. Daí a dolorosa e clara derrota que sofreu e a saída de cena provável.

Acredito que Hillary seria melhor presidente que Trump. Escrevi-o aqui. Com este resultado, porém, nasce uma nova realidade para a Europa: a tomada de consciência de que devem deixar de lado divergências e cerrar fileiras, contando apenas consigo.

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