O apagar da mitologia

Um dos hábitos culturais ou tradicionais referentes à nossa povoação, que mediante esta tipicidade de acontecimentos seria o resgate da mitologia para que sejamos detentores de premissas básicas transmitidas durante certos ensinamentos que marcaram algumas gerações.

O que mudou em nós e como resgatar os tempos lá idos, por mais que não tenhamos saudades, mas que mantenhamos a linhagem de aprendizagem como fenómeno de bem-estar na sociedade.

Houve tempos em que as crianças eram interditas de participar em cerimónias fúnebres, que mesmo na base desse acontecimento eram deixadas nas casas vizinhas ou bem distantes para não acompanharem a sucedida “tragédia na família” e retornavam à casa dias depois da realização do enterro para o ritual subsequente que consistia em colocar cinza nas orelhas para estas não se assustarem com o desaparecimento físico do seu ente-querido.

O agravante não é só a participação de menores em locais do género, mas “tristes são também as danças e cantigas que ocorrem naqueles locais, dos quais adultos e adolescentes fazem festa, bebidas alcoólicas de mão em mãos, fumos saindo pelos lábios e narinas, são cigarros consumidos como se comboio em funcionamento se tratasse. Mães nenecando os seus bebés entram em disputa na roda de dança durante as comemorações que, por vezes, em urna se sentam para descansar. Haja reflexão!”

Em tempos idos, era proibida a participação de crianças e jovens em todas as cerimónias que careciam de maior atenção no seio da sociedade. Eram inibidos de igual forma a saírem de casa para assistir ao desfile das viaturas enquanto transportam urnas. Hoje fora de gritaria, até palavras injuriosas são proferidas na sequência, junto dos seus progenitores, que, para além de aprenderem a lidar com a dura realidade ainda cedo, são obrigados a ouvir palavrões que desanimam os ouvidos de qualquer um, crescendo com esta fragilidade e, fim último a culpabilidade recai aos inocentes.

Que ensinamentos trazemos para o nosso povo? Afinal trata-se da transmissão de manifestação ou mensagens do ritual tradicionalista que constituirão a historiografia nas diferentes regiões da sociedade.

É notável que, em acções do género, descreve-se o dinamismo cumulativo, acompanhado pelas mudanças que “premeiam” o fenómeno em torno e as manifestações em cada sociedade.

Foi assim que uma vovó dos seus oitenta e nove anos desmaiou em acto cerimonial do seu ente-querido, não pelo número de participantes, mas pela forma como parte dos seus próximos aproveitava do espaço para o último adeus, incluindo recém-nascidos, para perguntar de quem se despedem se nunca puderam ver o falecido antes. Lamentável!

Nesse contexto urbano, os rituais de despedida alteram a sua forma com o decorrer do tempo, mas permanecem como eventos e cerimónias onde as pessoas prestam as suas últimas homenagens expressando os sentimentos de tristeza e dor que se materializam com as lágrimas derramadas.

Na sequência em que predomina a despedida, ocorre expressão de solidariedade ou amorosidade e são frequentes grupos de pessoas que transmitem sentimento de tristeza provenientes da solidão existencial ou social, de formas aparentemente paradoxais de manifestação, como é o caso da ocorrência do choro e do riso em simultâneo.

“Observa-se que algumas pessoas soltam gargalhadas contando piadas durante o cerimonial, enquanto outras degustam as comidas e bebidas que lhes são oferecidas”.

Essas práticas são o que fazem as cerimónias serem estranhadas e um primeiro sinal de mudança de sentido, embora permaneçam as estruturas que as tornam padrão em continuidade com o desejado.

Quer se faça coro no pranto, quer se esteja provocando o riso, “amigos e conhecidos dizem com as suas presenças nos rituais: estamos juntos”.

Caso para reflexão!

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo foi publicado intitulado “Solidariedade social” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 14 de Dezembro de 2023, na rubrica OPINIÃO.

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