O choro da mãe negra
Em tempos, a vivência era regradas; havia tudo de forma e maneiras diversificadas. O tradicionalismo na época era feito entre família, à volta da fogueira! Toda a conversa era centrada e direccionada, era um momento que acomodava a presença de todos para se transmitirem os ensinamentos e preparar o “Homem” para enfrentar o amanhã de forma racional e empírica.
Contavam-se contos de exaltação à “Pátria Amada”, mostrando a todos quem somos e para onde vamos, tendo em conta os aspectos vividos na época. “Karingana wa karingana…, era uma vez…”, são formas introdutórias em contos que chamavam a concentração de quem por perto estivesse para acompanhar o historial.
Bonitos tempos para quem os viveu…
Hoje, com a modernização, os convívios e vivências sociais tornam-se centralizados, a geração de hoje não conhece o segredo da lenda, do conto, da fábula e muito menos do duende.
O fogão a carvão bem como a gás levou o lugar da lareira (uso da lenha), as conversas entre famílias já não se fazem sentir. Porque os telemóveis marcam a actualidade, o sorriso particularizou-se, as refeições acontecem em horários e locais diferentes.
“Não há espaço para diálogo, os valores e culturas da nossa moçambicanidade estão apagados, da capulana apenas sobra o nome que o tecido em si tornou-se invisível em corpo humano”.
Será que voltas, oh Moçambique real? Ainda te lembras do teu local de estadia?
Tempos de fara trocados hoje pelas famosas discotecas lotadas por menores de idade. Não quero ser da geração olheira, mas o teu sorriso parece-me estar apagado, o teu rosto traz um outro semblante, “os nomes dados aos recém-nascidos não são de raiz, mas sim buscam-se em novelas e são atribuídos à criançada que, posteriormente, a respectiva mãe não consegue pronunciar”.
Quantas saudades de ver as nossas mães de lenço na cabeça, roupa feita de tecido Zâmbia; os homens de balalaica e as famosas bocas-de-sino que ficaram para a história e, em troca, vestem apertadinhas como se fossem camisas de mangas compridas. Em contexto geral, a mulala (hangula, kabhe ou ndranga), tida como escova tradicional que, para além de ser saudável, amarelava os lábios, foi substituída pelo batom que é aplicado por todas as gerações. Mesmo o sol de ontem não queima igual ao de hoje. Quanta crueldade!
Da pele escura ao rosto colorido, clareiam-se os corpos consequentes de diversas pomadas aplicadas, pulseiras em formato de brincos são colocadas em quase corpo todo.
Volte, “mãe negra”. Precisamos de resgatar a nossa moçambicanidade. Seja prudente, um dia ficaremos sem o seu nome.
Este artigo foi publicado intitulado “O choro da mãe negra” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 02 de Dezembro de 2023, na rubrica OPINIÃO.
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