O colapso do MBS

Pelo estágio em que se encontram as coisas a nível do MBS, um grupo empresarial representado pelo magnata moçambicano, Momade Bachir Suleimane, detentor da vasta rede de estabelecimentos comerciais em Moçambique, pode-se crer que este conglomerado está a falir.

De crise em crise, o grupo, que em tempos, foi dos mais pujantes na arena empresarial em Moçambique, definha e se afunda, e muitos dos seus estabelecimentos, se não estão completamente encerrados, encontram-se a funcionar a meio gás, adivinhando-se momentos difíceis para o grupo que emprega cerca de 300 trabalhadores, entre efectivos e não efectivos.

Na verdade, não precisa ser altamente especializado na análise de riscos para decifrar o enigma que apoquenta a este grupo, bastando apenas percorrer o seu vasto império, que, entre outros, incluem estabelecimentos comerciais, em tempos tidos como campeões na venda e fornecimento de bens de utilidade pública.

A crise financeira que desde a primeira metade desta década se abate sobre o mundo, com maior incidência para os países em vias de desenvolvimento, dos quais Moçambique faz parte, pode ter afectado grosseiramente os negócios do MBS, que, para quem quer recuar um pouco para o passado da sua história, lembra-se efectivamente de o grupo ter vivido momentos áureos no reinado de Joaquim Chissano, altura em que chegava a partilhar a sua fartura com a elite do partido Frelimo, a mesma que, desde a independência nacional, passam 44 anos, lidera o destino do povo moçambicano, neste momento, estimado em pouco mais de 28 milhões de habitantes, segundo o senso geral da população /INE, de 2017.

O que outrora era uma relíquia hoje são restos de escombros
O que outrora era uma relíquia hoje são restos de escombros

Para ser mais explícito, foi no consulado de Chissano que este grupo se destacou como um dos potenciais patrocinadores dos eventos do partido dos “camaradas”, incluindo as suas campanhas eleitorais, onde, para além de materiais de propaganda, oferecia balúrdios de dinheiro animando, na sequência disso, alguma inveja não só aos agentes económicos, mas a sociedade em geral.

Mas o que mais se acredita que tenha complicado a saúde financeira deste grupo, pode não ser, necessariamente, a “fabricada” crise financeira, admitindo-se a hipótese da sua alegada associação ao contrabando de droga, como tendo o precipitado para o fundo do poço, onde, mesmo querendo se levantar, encontra em todos os seus arredores “barreiras metálicas” quase que intransponíveis.

Aliás, aponta-se que ninguém queira o dar a mão, porque pode vir a ser confundido. Até o partido que o muito ajudou, em tempos de abundância, decidiu abandoná-lo, pelo menos à luz do dia.

Fachada frontal do Maputo Shopping, parte do império do Grupo MBS
Fachada frontal do Maputo Shopping, parte do império do Grupo MBS

Mas, para não se ficar na dúvida, fontes do Correio da manhã fazem um resumo de onde a crise começou a perseguir a este grupo, contribuindo para uma melhor compreensão.

Na pesquisa, o Correio da manhã consolidou no terreno a tese de que tudo terá começado a se complicar para o grupo, quando a declaração dos Estados Unidos da América (EUA), veio à tona, dando conta de Momade Bachir Suleimane ser barão de droga e, na sequência, integrar a lista dos procurados pelo governo norte-americano por causa do seu envolvimento no narcotráfico.

Junto das autoridades moçambicanas a declaração/acusação norte-americana caiu como uma bomba atómica, precisamente, no dia 1 de Junho de 2011, encontrando o grupo desprevenido para se defender, mesmo contando com reputados advogados como Máximo Dias.

Muitos empresários que, com o grupo, tinham parcerias comerciais, pautaram por abandoná-lo, incluindo bancos, nomeadamente, o BCI e o Millennium BIM, que tiveram que encerrar as suas agências no Maputo Shopping, um dos supermercados, detido pelo grupo, desde 2007.

Aliás, aqueles bancos, não só retiraram as suas agências daquele supermercado, como também se viram obrigados a cortar a sua relação comercial com o grupo.

Kayum Centre vira covil…

Não só o Maputo Shopping anda nas ruas da amargura. Toda a rede do grupo  MBS se precipita para a sarjeta, como sói dizer-se.

Outros estabelecimentos comerciais do Grupo MBS, com destaque para o Kayum Centre, no prolongamento da Av. Karl Max que, mesmo tendo beneficiado de alguma reabilitação após o incêndio que deflagrou a partir do seu armazém, em finais de 2010, nunca mais reabriu as portas, está em cavada degradação, sendo hoje um verdadeiro covil de sem-abrigo e delinquentes vulgares, para incómodo e desconforto da vizinhança.

A Kayum Centre que se encontra fechada há cerca de oito anos, é um verdadeiro escombro que, além de ratazanas que assustam os residentes locais, expele um cheiro nauseabundo, porque a maioria dos transeuntes que de lá vai e queira se aliviar, se satisfazendo de alguma necessidade biológica, recorre basicamente ao local.

A equipa deste jornal esteve no terreno e levantou alguns depoimentos de alguns moradores locais que, apesar de não terem dado a cara, afirmaram que o local constitui grande perigo para a zona, principalmente na sua parte traseira onde, à calada da noite, os “gatunos” se escondem, após assaltos nas ruas.

Todavia, chamou atenção à Reportagem do Correio da manhã as palavras de um guarda afecto a um dos estabelecimentos próximos, que disse que numa das noites, de guarita, teria visto um camião, supostamente pertencentes ao grupo MBS, em “movimentos estranhos”.

Nos contou o referido vigilante que a viatura teria estacionado nas traseiras da loja, onde um grande portão dá acesso a um armazém subterrâneo.

Conta a nossa fonte que do carro emergiu um grupo de homens que iniciou um vai e vem (carro/cave/carro) transportando caixas que não pode identificar o seu conteúdo.

Em menos de cinco minutos de conversa o nosso interlocutor repetiu uma dezena de vezes a palavra “era um movimento muito estranho mesmo”, sublinhando que a sua estranheza se agudiza pelo facto de à luz de o dia nunca ter visto ninguém naquele estabelecimento, encerrado “há anos”.

Refira-se que a Kayum Centre, em tempos, dirigido por Momade Kayum Bachir, carinhosamente tratado por Kayum vendia, entre outros, electrodomésticos e aparelhos de comunicação móvel, vulgo celulares.

Kayum é o primogénito do patrono do grupo, Momade Bachir Suleimane que na lista dos seus filhos, inclui Vali Momade Suleimane, Saif e Zeinab (esta última, após casar-se com Bahkir Ayob, passou a chamar-se Zeinab Bahkir).

Bahkir Ayob, lembra-se, encontra-se foragido da justiça moçambicana depois de ser dado como um dos mandantes de alguns raptos corridos em Moçambique.

É de referir, também, que o conjunto de lojas da linhagem Zeinab Têxteis, que perfilavam pela cidade de Maputo, com a especialidade de vender capulanas, parte delas desapareceu, outras praticamente andam às moscas, presumivelmente na esteira da crise do Grupo MBS.

No entanto, as marcas de falência não só estão na Kayum Centre e Zeinab Têxteis, existindo em tantos outros estabelecimentos do grupo, onde de passagem se destaca, a Kayum Electronic, frente ao Jardim Dona Berta, no prolongamento da Av. Vladimir Lénine que, entretanto, encontra-se a funcionar a meio gás, com a falta de um pouco de tudo, o Maputo Shopping, na baixa da cidade de Maputo, também tem muitos apartamentos desocupados e, já nas províncias, no caso especifico de Nampula, o supermercado que este grupo já tinha quase concluído na Av. do Trabalho, foi vendido a outros agentes económicos por este grupo ter perdido a sua pujança no mercado nacional.

Na terça-feira da semana passada (19 de Março) a nossa Reportagem, escalou-se o escritório-sede do grupo MBS para os devidos esclarecimentos, sobretudo sobre a real utilidade dos armazéns subterrâneos da Kayum Centre, visto o estabelecimento estar aparentemente encerrado passam oito anos.

O representante do grupo, perante a ausência do país de Mohamed Bachir, que praticamente vive na África do Sul, é o seu filho Mohamed Kayum Bachir, que na altura estava ausente do escritório.

Após inteirar-se do assunto, a equipe do Cm telefonou para Kayum, na passada quarta-feira (dia 20 de Março) que, por sua vez, alegou estar num encontro e que não podia falar, prometendo retornar a chamada. No dia seguinte (quinta-feira), não tendo havido retorno, voltamos a fazer a mesma diligência e, desta vez, simplesmente não nos atendeu.

MPM/R

Este artigo foi publicado em primeira mão versão PDF do jornal Correio da manhã, da passada quarta-feira (27Mar19).

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