O fenómeno “G40”!

No dia 23 de Julho de 2013, o semanário Savana, na última página, publicou uma lista com nomes de pessoas que, segundo aquele semanário, deveriam passar a fazer análises e comentários políticos nos órgãos de comunicação social públicos, que compreendiam a TVM, a RM e textos no jornal Notícias. Embora este último não seja propriamente público, tem forte influência na formação de opinião a nível das zonas urbanas, pelo que, segundo a mesma publicação, cito de memória, fazia parte do “pacote” dos órgãos.

Foi a partir daqui que se criou a ideia de existência de pessoas “escolhidas a dedo” e impostas pelo partido Frelimo àqueles órgãos de comunicação social para fazerem análises e comentários sobre a vida do nosso país. De acordo com a ideia generalizada de então, estes analistas e comentadores serviriam de “maquiadores” das realizações do Governo do Presidente Armando Guebuza, que enfrentava uma forte contestação de alguma opinião. Posteriormente foi dada pela mesma comunicação social  a paternidade dessa lista ao senhor Edson Macuacua e ao Gabriel Mutisse. Verdade ou não, sinceramente, não sei dizer.

Foi publicado, “a posteriori”, no mesmo semanário Savana, o “desabafo” a alguém de Tomás Vieira Mário (TVM), que teria saído de uma reunião na sede do partido Frelimo, diz-se, sob liderança de Edson Macuacua, que visava a concertação de ideias do grupo, sentindo que não se identificava com a abordagem que era feita no encontro e porque não se queria comprometer com o mesmo. Escreveu o jornal que TVM teria pedido para se retirar, tudo isto, dito na terceira pessoa, ou seja, não existe ninguém que tenha dito de forma peremptória que esta lista é de comentadores e analistas, nem Tomás Vieira Mário é citado, é tudo suposto!

Mas porquê esta reflexão agora? Questionará o estimado leitor, e com razão.

Muito recentemente, o director João Mosca e mais duas pessoas publicaram um livro sobre a “Governação 2004 – 2014” e o “G40” tem um espaço privilegiado. Pese embora olhando para a cronologia do tempo o “parto” do “G40” aconteça em meados de 2013, no referido livro, o “G40” teve uma influência de década! O que revela a importância que é dada a este “fenómeno”, cuja influência não terá passado despercebida.

Talvez seja por isso que no novo ciclo de governação pessoas influentes na opinião pública chamaram a atenção do novo Presidente que deveria “descartar” o “G40” porque é de má influência.

É  atribuída ao “G40” a disseminação de divisionismo no seio do próprio partido Frelimo, através de artigos que atentam contra o bom nome e imagem de algumas figuras de relevo no partido. Destaque vai para o racismo, com maior incidência para os “goeses”. Se calhar aqui recordar a “zanga” do escritor Sérgio Vieira com o semanário domingo que culminou com a interrupção da sua carta dominical a “muitos amigos” como o ponto mais alto da discórdia!

A  17 de Agosto de 2016, leio, no semanário Canal de Moçambique, edição n.º 370, página 10, um artigo de opinião da autoria de Armando Nenane, com o título “do G40 aos esquadrões de morte” numa dissertação que pretende pública a sua apreensão em relação ao tratamento da sua petição junto da Procuradoria-Geral da República, datada de 27 de Março de 2014 para “averiguar os factos relativos a uma lista de analistas e comentadores políticos supostamente imposta pela Frelimo aos editores dos órgãos de informação do sector público para serem somente eles os autorizados a fazerem o comentário e a análise política naqueles órgãos”.

Acho este artigo interessante, não pelo título e a convicção que o autor tem de que “não morrerá pelo efeito de cigarros, mas sim por bala” mas pela denúncia de que “os cânticos da sereia e os sermões encomendados que me chegam de todos os lados são dos que me pedem para parar de falar do G40. Porquê? Pergunto. (a Frelimo vai te matar) respondem. Toda a gente sabe que a Frelimo mata pessoas menos eu”, escreve, mas, como disse acima, era minha convicção de que o referido “G40” está banido por conta do novo ciclo de governação, sobretudo, por constituir má influência e criar divisionismo no seio do partido Frelimo.

Mais interessante ainda, neste artigo, é que Armando Nenane diz que “será mesmo necessário um ano para descobrir que a instituição responsável por zelar pela independência dos órgãos públicos de comunicação social, conforme a Constituição da República e a Lei de Imprensa, é o Conselho Superior de Comunicação Social”. Aqui está outra face interessante: é que hoje o presidente do CSCS é o jornalista Tomás Vieira Mário, que foi citado pelo semanário Savana nesta matéria do “G40” e ele deve presidir no seio do órgão a petição de Armando Nenane a pedido da PGR, não é interessante isto!

O artigo de Nenane termina assim: “Apesar da tosse que me apoquenta, acho que não serão os cigarros que me matarão. Já sinto o cheiro da pólvora”, conclui. Definitivamente, julgo pertinente e oportuna a reacção da justiça em relação à referida petição, o que tornará o “fenómeno G40” um caso de estudo no futuro. Por outro lado, a colação do referido “G40 e os esquadrões de morte” precisa de ser desmistificada a bem da sociedade e da lista pública circulada pelo semanário Savana!

O meu consta lá.

 

Adelino Buque

 

PS: Manifesto a minha solidariedade com os jornalistas da TVM e da RM que foram vítimas de um ataque da Renamo na província de Manica em serviço. Como foi dito e bem, atacar jornalistas no exercício da função configura crime de guerra. Há que responsabilizar os autores. Basta de impunidade e haja solidariedade com estes e repúdio à acção armada da Renamo.

 

 

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