O lamento da Ofélia

O lamento da Ofélia –  Ofélia Pedro é uma menina de 15 anos de idade, estudante da 10ª classe, residente no bairro costeiro de Incídua, um dos mais vulneráveis a desastres naturais na cidade de Quelimane, capital da província central moçambicana da Zambézia. Tal como muitos residentes dos locais por onde passou o ciclone Eloise, ela também assume que não gostou da “visita”.

“Este ciclone fez com o que o meu pai não fosse à pesca durante três dias deixando, assim, de nos providenciar peixe para consumo em casa e o restante para a venda e garantir a nossa subsistência”, justifica a adolescente.

As dramáticas marcas deixadas pelo Eloise na Zambézia

Para além das privações de índole económica, o Eloise impediu, ainda, a irmã da Ofélia de cumprir com o controlo da malária de que padece no posto de saúde local, porque as vias de acesso ficaram obstruídas, conforme arrola.

Ofélia Pedro não é a única que sofreu o impacto negativo da passagem do ciclone Eloise por algumas regiões da província central moçambicana da Zambézia entre os dias 22 e 23 deste Janeiro.

Virgínia Dias, estudante de 14 anos de idade

Virgínia Dias, 14 anos e a frequentar a 11ª classe na Escola Secundária Filipe Jacinto Nyusi, também em Quelimane, disse que devido ao impacto do ciclone a sua escola ficou alagada, “o que fez com que perdêssemos dois dias de aulas”. (O lamento da Ofélia)

“O percurso para escola é bastante difícil porque as estradas estavam cheias de água”, lamentou, pedindo às autoridades governamentais para “façam de tudo para edificar infraestruturas resilientes a catástrofes e para proteger as pessoas deste tipo de fenómenos”.

Dados oficiais estimam em 2.830 o número de famílias prejudicadas pela intempérie que fustigou os distritos de Chinde, Luabo e Inhassunge, Pebane, Maganja da Costa, Namacurra e Quelimane, a capital provincial.

Em termos de campos agrícolas afectados as contas das autoridades assinalam um total de 147 hectares repletos de produtos agrícolas diversos e outros 550 espaços de cultivo parcialmente inundados.

Mais marcas devastadoras do Eloise

“Na nossa comunidade esta chuva foi vista como uma maldição”, diz a menina, que, apesar de idade, mostrou-se bastante consciente para avaliar os dados causas pelo ciclone, apontando ainda o facto da sua zona estar localizada junto ao mangal como uma das situações que a torna mais vulnereis a fúria do mar.

Para mitigar os desastrosos efeitos do Eloise a organização filantrópica World Vision-Moçambique já está no terreno, na região da Zambézia, a desenvolver trabalhos de avaliação dos reais impactos do ciclone para possível intervenção e assistência às populações das zonas mais atingidas, conforme apurou o Redactor no local.

Ao que se sabe, à escala nacional o ciclone Eloise causou pelo menos seis óbitos e vários estragos.

Cinco vítimas mortais foram registadas na província de Sofala e uma na Zambézia, além de 12 feridos, por entre 176.000 pessoas afectadas, quer pela destruição provocada pela intempérie, com vento e chuva forte, quer por inundações.

Cerca de 5.000 habitações, na maioria de construção precária, foram danificadas.

Ao nível dos serviços públicos, há 26 centros de saúde com prejuízos, 161 salas de aulas com estragos, 37 troços de estradas danificados e 129 potes de energia tombados.

Mais de 6.000 alunos das 7.ª, 10.ª e 12ª classes podem não realizar exames pela destruição de salas de aula na província da Zambézia.

Moçambique está em plena época chuvosa e ciclónica, que ocorre entre os meses de Outubro e Abril, com ventos oriundos do Índico e cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral. (O lamento da Ofélia)

Redactor

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