O país de ninguém
O país de ninguém – Moçambique, o nosso país, virou um simples “take away”onde todo o esperto mete a mão e tira o que quiser e quanto conseguir carregar para casa porque o termo roubar já não caracteriza o cenário que vivemos. Roubar tem consequência a cadeia, julgamento e, possivelmente, a condenação. Quando se rouba aos volumes astronômicos e com toda a impunidade, como se assiste, sob o olhar cúmplice, algumas vezes, com a protecção das instituições que deveriam zelar pela lei, é levar para casa, um termo, gentilmente, emprestado a Tomás Vieira Mário.
Em qualquer sociedade normal, antiga ou moderna, roubar sempre foi e continua a ser um crime severamente punível nos termos da lei. Nós não temos lei que puna um mal quando for praticado por um grande, ou seja, o xadrez político-administrativo não permite que as instituições de justiça funcionem com regularidade. Não são independentes nem autónomos do poder político. Os demais poderes do Estado – o legislativo e o judiciário são a outra face do poder político. Quando falam da separação de poderes é, apenas, para nos enganar.
O que diferencia Moçambique dos demais países é a forma como nós encaramos o fenómeno roubar. Em todo o Mundo rouba-se, isso é, absolutamente, verdade, todavia, noutros quadrantes do Mundo, os ladrões e corruptos são perseguidos, presos, julgados e condenados pela justiça, enquanto entre nós, os corruptos, bandidos e assassinos são venerados, tratados como heróis e têm assento cativo no parlamento nacional, para que sejam vistos como pessoas importantes.
As nossas instituições de justiça só prendem, julgam e condenam quando os gatunos, bandidos e assassinos forem de pequeno calibre ou desprotegidos das grandes elites político-económicas do partido governamental. O partido no poder cultivou, ao longo dos anos, a cultura da impunidade e agora o país está a colher o que andou a semear – o Estado foi capturado pela grande máfia siciliana, numa combinação vertiginosa entre “moçambicanos de gema” e estrangeiros. Como resultado, temos a economia do país debilitada devido ao saque desenfreado e ausência quase completa de políticas de desenvolvimento integrado.
Se não houvesse tolerância à corrupção, Moçambique teria, nos dias que correm, um país desenvolvido aceitável e não constaria na cauda do mundo, em todos os sectores. Quanto à corrupção, o nosso país segue no pelotão da frente. Na fraude eleitoral, Moçambique brilha que ofusca os outros. Um novo estudo confere a Moçambique a qualificação de pais com regime autoritário.
Se até ontem Moçambique não era peixe nem carne, hoje recebeu as ingloriosas patentes de país com regime autoritário. Isso envergonha ao povo e duvidamos se o governo sente, também, vergonha.
Que país é o nosso em que as altas patentes da polícia secreta estão no comando do calote que sufocou a economia? Que país é o nosso em que a Procuradoria dá guarida a caloteiros que fizeram uma escandalosa contratação de uma dívida inconstitucional e dividiram o dinheiro entre a quadrilha? Que país é esse que só acorda do letargia quando o FBI lhe bate a porta? – É país de ninguem, uma república das bananas.
Edwin Hounnou
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Correio da manhã do dia 17 de Janeiro de 2019 na rubrica semanal MIRADOURO
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