O pobre aventureiro

Estava dentro de uma grande máquina. Era a sua primeira viagem. Sem destino, o homem decidiu viajar para fora do seu país natal para repousar a mente e ver outras ofertas que o mundo proporcionava.

Ouvia pessoas falarem de voo, por isso decidiu fazer poupanças. Foi a um aeroporto informar-se sobre procedimentos para voar.

Data marcada, bilhete comprado, simples e leve tal como outros têm estado, fez-se ao local da decolagem da aeronave. Dentre as cento e oitenta pessoas, era o único “negro”.  Olhou para todos os lados. Nele pairava medo. Para piorar, não compreendia as línguas que lá se falavam, afinal o voo era composto por pessoas de todo o mundo.

O passageiro ao seu lado era chinês. Manuseava a tela no assento a sua frente para ver e ouvir informações do seu país. O aventureiro apenas olhava, não sabia como começar. Para evitar confusão com as hospedeiras não movimentou o que não era do seu conhecimento nem pertença.

Apertem os cintos, apertem os cintos”, a voz era ouvida através de aparelhos, quem o dizia não era possível vê-lo. Aquietou-se para não se colocar em “situação de emergência”, uma vez não ter comido nada, mas apreciava o agir dos outros e imitava, foi bom começo sem nenhuma explicação do passageiro lateral, que, mesmo querendo, não o perceberia uma vez os idiomas serem totalmente diferentes.

Tirou do bolso um doce, foi chupando, de olhos fechados estava. Quando os abriu, viu apenas nuvens, sinal de que a aeronave já havia decolado. Caíram-lhe lágrimas de emoção. O colega do lado deu-lhe um toque. Fingiu não se ter apercebido, pois queria sossego. Mas o companheiro insistiu para mostrar-lhe algo interessante construído no seu país: “kàn zhège”, falou em chinês, que em português significa “olha isto”. O homem limitava-se a olhar abanando a cabeça como se estivesse a entender alguma coisa.

Como te sentes?, pergunta a hospedeira com tanto carinho. Olhou para ela com um sorriso figurado e respondeu: “sinto-me bem”. Mentiu. Estava enjoado, mas não queria dar a entender.

O viajante ficou empolgado, afinal era o seu “primeiro voo”. Apreciava os colegas de viagem disfrutando das melhores bebidas e outros consumíveis. Ao perguntarem se necessitava de algo, dizia: ponha tudo no cesto que, chegados à terra, levaria em forma de take away, “não gosto de comer quando estiver de viagem”.

“Aqui não se leva nada para além do que trouxe”, disse a hospedeira.

Calado ficou, mas tudo indicava que precisava de algo para satisfazer o seu estômago, apenas faltava a coragem para o devido pedido… horas de voo sem movimentação, parecia anormal para outros, mas este só queria chegar ao destino, local que também não conhecia, afinal era mais uma viagem de aventura.

“Onde fica o banheiro, preciso lavar a cara!”, exclamou o passageiro com total angústia e desejo de ver o voo aterrar, pois o ambiente internamente não o favorecia.

“Mesmo na parte frontal. Vá pelo corredor”, respondeu o colega de voo com total primazia, “mas cuidado para não tropeçares”, gritava uma pobre senhora tendo frisado que o avião ia aterrar em minutos. Sem dar ouvidos aos outros, o homem forçou a passagem pelo corredor do avião, bem apressado e com cara toda para baixo. O avião estava a aterrar. Pela inércia, este cai entre os passageiros. A hospedeira abanou a cabeça e disse: “Moçambicano quando viaja…é um assunto!

Não forçou a mente, não dando ouvido aos que falavam, desceu às pressas, apesar de não saber em que país estava. “Cheguei, cheguei”, gritava o viajante que deixou o mundo todo constrangido.

Sai uma velha curiosa da sala de espera, que se encontrava no aeroporto para peditório (esmola) e, coincidentemente, em velocidade procurava pelo passageiro gritante, tendo de igual forma espantado a todos que naquele avião se faziam presentes. “Conheço-o”, disse a avozinha, “é meu filho”. Sem mais pensar, ninguém contava com aquela realidade. O que para todos parecia um engano, era o reencontro entre mãe e filho depois de vários anos distantes um do outro, mas o destino do aventureiro que guardou as suas economias diárias conseguiu realizar acima dos seus sonhos.

A esperança é última a morrer, tem-se dito em surdina ou em voz alta, tal que em 2 Coríntios 4:16-17, lê-se que: “Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles”.

Ninguém gosta de passar por dificuldades, mesmo em momentos mais difíceis, Deus ajuda-nos a ter a vitória. O amor de Deus nunca falha, você pode confiar nisso, Ele ajuda-nos a alimentar a esperança através da Fé.

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo foi publicado intitulado “Solidariedade social” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 07 de Dezembro de 2023, na rubrica OPINIÃO.

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