O ‘poupa-lenha’
O ‘poupa-lenha’ – Fátima Jaquete precisava percorrer 17 quilómetros, há um ano, para apanhar lenha para preparar as refeições diárias num bairro do Centro de Moçambique.
Na altura, ateava o fogo a um monte de lenha entre três pedras.
Mas a vida mudou graças a algo tão simples como um fogareiro de barro, aquilo que é chamado de fogão ‘poupa-lenha’, feito com as suas próprias mãos e que lhe poupa tempo, saúde e dinheiro.
A lenha começou a escassear no bairro Nhamaonha, um subúrbio pobre de Chimoio, capital da província de Manica, e a distância percorrida para a apanhar aumentou, levando a camponesa de 38 anos a procurar outra solução – que agora é também um negócio, uma forma de sustento.
O ‘poupa-lenha’ é fabricado em olarias caseiras, espalhadas por bairros precários, feito com barro carregado de riachos da cintura verde da cidade, um produto considerado seguro por causar menos acidentes com crianças e porque liberta menos fumo.
“Quando passei a usar o ‘poupa-lenha’, passei a fazer três refeições com a mesma quantidade de lenha que usava numa só”, contou Fátima Jaquete à Lusa.
Centenas de famílias em Chimoio fabricam e usam fogões ‘poupa-lenha’, concebidos para poupar 80% do combustível consumido a fogo aberto, reduzindo a pressão sobre as florestas.
O barro seco é pilado e depois amassado, misturado com água, em sacos de ráfia, antes de o fogareiro ganhar corpo dentro de baldes de plástico usados como forma, um processo que demora poucas horas.
Depois, secam à sombra por alguns dias e entram num forno improvisado com blocos de argila para a última etapa do processo de fabrico.
É uma peça com muitas vantagens, explica à Lusa Fernando Saweca, um activista social que dinamiza a produção artesanal no bairro Nhamaonha.
Até ajuda a “diminuir as doenças respiratórias”, reduzindo a inalação de fumo.
Em 2008, Fernando Saweca formou 21 produtoras e agora já perdeu a conta ao número de oleiras que produzem, usam e comercializam o fogareiro na cidade de Chimoio.
“Em 10 casas neste bairro [Nhamaonha] podemos contar duas ou três que não fazem fogões” adiantou à Lusa, realçando que esta é uma nova atividade de rendimento para numerosas famílias.
Elisa Afonso, outra moradora de Nhamaonha, produz o fogão ‘poupa-lenha’ há dois anos, incentivada por uma amiga, como forma de cortar nos custos com a compra de lenha e carvão.
Uma produtora faz em média cinco fogões por dia, mas há quem chegue aos 10 e atinja uma produção mensal de 40 a 50 peças.
Já chegaram a ser vendidos a 150 meticais por unidade, mas o preço caiu para 100 meticais devido ao excesso de oferta no mercado.
Fernando Saweca abriu em 2019 uma nova linha de produção, em que o fogareiro de barro passou a ser revestido com uma chapa metálica, para conferir mais resistência e durabilidade.
Redactor & Lusa