OMS posiciona-se face

OMS – O Comité de Emergência da Organização Mundial de Saúde reúne-se hoje em Genebra para avaliar se o surto do novo coronavírus, com origem na China, deve ser declarado emergência de saúde pública internacional, numa altura em que a Human Rights Watch (HRW) critica Pequim por alegada censura e de violarem direitos humanos na resposta à epidemia.

A decisão da OMS foi comunicada na quarta-feira na rede social Twitter pelo respectivo director-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, depois de há uma semana a organização ter considerado prematura a declaração de emergência de saúde pública internacional, no final de uma reunião de dois dias do mesmo comité, formado por especialistas, incluindo epidemiologistas.

Tedros Adhanom Ghebreyesus justificou a convocação, de novo, do Comité de Emergência com o “risco de propagação mundial” do coronavírus (família de vírus que causa pneumonia). A reunião decorrerá na sede da OMS, em Genebra, na Suíça.

Uma emergência de saúde pública internacional supõe a adopção de medidas de prevenção e coordenação à escala mundial.

Para a declarar, a OMS considera três critérios: uma situação extraordinária, de risco de rápida expansão para outros países e de resposta internacional coordenada.

Segundo Tedros Adhanom Ghebreyesus, apesar de a maioria das infecções se ter verificado na China, com apenas 68 casos confirmados noutros 15 países, uma transmissão inter-humana foi registada pelo menos na Alemanha.

Além do território continental da China, também foram reportados casos de infecção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Austrália, Canadá, França, Alemanha e Finlândia.

Até ao final do dia de quarta-feira, oficialmente, o número de mortos era de 170 e o total de infectados era de mais de 7.700 pessoas.

Algumas fontes consideram que Pequim está a “esconder” os dados reais relativos às mortes e infecções causadas por este coronavírus.

O novo coronavírus foi primeiramente detectado em Dezembro na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, no centro da China.

Na terça-feira, a OMS anunciou o envio de especialistas internacionais para a China.

A emergência de saúde pública internacional foi declarada para as epidemias da gripe H1N1, em 2009, dos vírus Zika, em 2016, pólio, em 2014, e do Ébola, que atingiu uma parte da África Ocidental, de 2014 a 2016, e a República Democrática do Congo, em 2018.

O número de casos de infecção pelo novo coronavírus, designado provisoriamente pela OMS como “2019-nCoV”, ultrapassa a cifra de contágios verificada com a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), causada por um outro coronavírus, mas igualmente detectada na China e que se estendeu a outros países, em 2002 e 2003.

A SARS infectou 5.327 pessoas na China e provocou 774 mortos no mundo, incluindo 349 na China continental.

HRW acusa China

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) acusou esta quarta-feira as autoridades chinesas de censura e de violarem direitos humanos na resposta à epidemia do coronavírus.

“A resposta do Governo chinês ao surto de coronavírus foi inicialmente atrasada ao ocultar informações do público, subnotificar casos de infecção, subestimar a gravidade da infecção e desconsiderar a probabilidade de transmissão entre humanos”, afirmou a HRW em comunicado.

A organização não-governamental (ONG) garantiu que “as autoridades detiveram as pessoas por ‘boatos’, censuraram as discussões ‘online’ da epidemia, restringiram as reportagens dos ‘media’ e falharam em garantir acesso adequado aos cuidados médicos a pessoas com sintomas de vírus e outras pessoas com necessidades médicas”.

“O surto de coronavírus exige uma resposta rápida e abrangente que respeite os direitos humanos”, defendeu um investigador chinês da Human Rights Watch, Yaqiu Wang, sublinhando que “as autoridades devem reconhecer que a censura apenas alimenta a desconfiança pública”.

A ONG lembrou que “o primeiro paciente com sintomas iniciais foi identificado em Wuhan em 01 de Dezembro de 2019”, que “quase um mês depois, em 31 de Dezembro, as autoridades de Wuhan anunciaram que havia 27 casos de um tipo desconhecido de pneumonia e alertaram a Organização Mundial de Saúde”, tendo sido identificado “o novo vírus, 2019-nCov, uma semana depois”. E que “a primeira morte foi anunciada em 11 de Janeiro”, sendo que “em 29 de Janeiro de 2019, casos de nCov foram relatados em 15 países”.

“Desde meados de Dezembro, o Governo chinês tenta controlar o fluxo de informações sobre a epidemia. Há considerável desinformação nas redes sociais chinesas e as autoridades têm razões legítimas para combater informações falsas que podem causar pânico público. Mas, em vez de refutar informações falsas e disseminar factos confiáveis, em alguns casos as autoridades parecem mais preocupadas em silenciar as críticas”, pode ler-se na mesma nota da HRW.

Segundo a mesma organização, “a polícia chinesa deteve ou perseguiu pessoas por supostamente ‘espalharem boatos’ e descreve o caso de um médico de um hospital onde pacientes infectados estavam a ser tratados: “Em 30 de Dezembro, enviou mensagens num grupo privado do WeChat [rede social], alertando-os sobre a doença desconhecida. As autoridades do hospital mais tarde avisaram-no para não ‘espalhar boatos’”, e a polícia forçou-o a assinar um documento em que se comprometia que ele interromperia atividades ilegais e cumpriria a lei.

A 12 de Janeiro, “o médico foi internado por sintomas de pneumonia após o tratamento de pacientes e agora está em estado crítico”, indicou a HRW, assegurando que, “nas últimas semanas, polícias de toda a China detiveram dezenas de pessoas pelas suas publicações ‘online’ relacionadas com o vírus”.

Desde 23 de Janeiro que as autoridades “impuseram restrições de viagens a Wuhan e cidades próximas, cercando efectivamente 56 milhões de pessoas”, sublinha-se no comunicado em que se afirma que muitos habitantes expressaram dificuldades sobre o acesso a cuidados médicos.

A HRW deu um exemplo para ilustrar a informação: “Um homem disse no Weibo [rede social] que seu remédio contra o HIV [Vírus da Imunodeficiência Humana] estava a acabar, mas que não foi possível reabastecer-se (…). Procurou ajuda da polícia local” que, “em vez de o ajudar a obter o novo medicamento, informou os seus pais sobre a sua condição (…), que tinha escolhido manter em segredo”.

A ONG recordou que “quando as quarentenas são impostas, os governos têm obrigações absolutas de garantir acesso a alimentos, água e assistência médica”.

Contudo, lamentou, “depois de terem sido reportados os primeiros casos e antes da restrição de viajar para fora da cidade, cinco milhões de pessoas deixaram Wuhan, uma cidade de 11 milhões, segundo estatísticas do Governo, sugerindo que a quarentena foi arbitrária e potencialmente discriminatória”.

Por fim, a HRW assegurou que em outras províncias chinesas verificaram-se casos de “discriminação e assédio contra residentes de Hubei”.

“Houve inúmeros relatos de hotéis fora da província de Hubei”, da qual Wuhan é a capital, que se recusaram a admitir viajantes com documentos de identificação daquela região e, por outro lado, algumas localidades montaram barreiras a bloquear a entrada de viaturas com matriculas de Hubei, pode ler-se na nota da organização não-governamental que termina com um apelo: “As autoridades locais fora da província de Hubei devem proibir a discriminação e o assédio contra pessoas de Hubei e garantir acesso igual a acolhimento e assistência médica”.

(Correio da manhã de Moçambique)

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