Palma: ataque era previsível

Palma   – O ataque de “malfeitores” e “insurgentes” na vila de Palma, província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, esta quarta-feira, “já se esperava”, disse um padre ligado à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

“Já se esperava que houvesse esse ataque, porque nos últimos 15 dias os malfeitores e os insurgentes vinham fazendo uma série de ataques na região de Nangade. Então, nos últimos 15 dias, praticamente as diversas comunidades que fazem divisa

[fronteira]

com Palma já haviam sido atacadas”, indicou o padre Edegard Silva, missionário brasileiro, actualmente em Pemba, capital de Cabo Delgado, onde se refugiou depois de a sua paróquia, no distrito de Muidumbe, ter também sido palco de um ataque violento.

Outro padre em Pemba, Kwiriwi Fonseca, um dos responsáveis pela comunicação da diocese da capital provincial, explicou em declarações à AIS que “os ataques” em Palma ocorreram “em simultâneo na aldeia de Manguna e nos bairros de Quibuite e Quilaua, em Palma”.

“Estamos a correr, fugir, para nos esconder na praia. Há tiroteios em todo o lado. Seja o que Deus quiser aqui em Palma”, pode ouvir-se numa gravação feita por um homem em fuga na altura dos ataques, enviada para Pemba a meio da tarde desta quarta-feira, e divulgada hoje pela Fundação AIS.

Na gravação, percebe-se que a pessoa, que não se identifica, está a correr e diz que “as casas estão abandonadas”, sinal de que a população teria praticamente entretanto fugido.

“Lá em Palma tem muitos familiares de lideranças nossas e eles ligaram para dizer que já tinham fugido para o mato. Quando acontecem esses ataques, as pessoas fogem para o mato e aí fica difícil a comunicação, por causa do sinal e do carregamento da bateria do telemóvel”, confirmou também Edegard Silva, citado no comunicado da Fundação AIS.

O Ministério da Defesa de Moçambique confirmou hoje, numa declaração à imprensa, um ataque armado à vila de Palma, apontando que “as forças de defesa e segurança estão a perseguir o movimento do inimigo e trabalham incansavelmente para restabelecer a segurança e a ordem com a maior rapidez”.

O coronel Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa moçambicano, admitiu que as comunicações com Palma estão interrompidas, não havendo, até este momento, informação sobre vítimas e danos causados.

O Ministério da Defesa apela para a população “se manter vigilante e serena enquanto procura espaços seguros”, pedindo colaboração com as autoridades, “denunciando os terroristas e homens armados para a sua neutralização”.

Várias fontes disseram na quarta-feira à Lusa que a população de Palma estava a abandonar a vila e a refugiar-se na mata, cenário também confirmado pelo Ministério da Defesa.

Ainda segundo testemunhos, trabalhadores de diferentes nacionalidades ligados a obras na região de Palma, onde decorrem os projetos de gás do Norte de Moçambique, fugiram juntamente com a população após o ataque de grupos armados à sede de distrito, segundo testemunhos.

A vila acolhe várias empresas e pessoal devido aos investimentos ali em curso.

O número de trabalhadores afectados e nacionalidades é incerto, mas algumas fontes relataram à Lusa a situação em Palma, que até aqui tinha sido poupada a três anos e meio de insurgência armada em Cabo Delgado, que está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.

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