Parte do dinheiro dos sequestros alimenta EI
Parte do dinheiro dos sequestros, roubos e extorsões executados na Somália e na África do Sul pode estar a alimentar redes de grupos terroristas que actuam em diversos países, incluindo Moçambique, de acordo com um estudo cujos resultados foram compulsados pelo jornal Redactor.
Efectivamente, um relatório recente da Fundação Bridgeway lança luz sobre as redes de financiamento do Estado Islâmico (EI) no Leste, Centro e Sul de África que apoiam as Forças Democráticas Aliadas (ADF) na República Democrática do Congo.
Os autores tiveram acesso a “desertores” e documentação de fontes “terceiras”, incluindo recibos de transferências financeiras, registos bancários e documentações de entrevistas.
Isso permitiu aos pesquisadores apresentar conclusões sobre o mecanismo, escala e destino de certas transferências de dinheiro com alguma confiança.
O relatório, produzido em colaboração com o Programa sobre Extremismo da Universidade George Washington, dá algumas indicações sobre onde se situa a insurgência em Moçambique dentro destas redes.
Os autores examinaram as transferências feitas entre Setembro de 2019 e Outubro de 2021. Descrevem um “financiamento regionalmente agrupado”, em que os fundos são angariados na região e distribuídos a aliados e afiliados por meio de uma rede de empresas e indivíduos.
A rede era mantida por meio do Centro Karrar, gerido pelo Estado Islâmico da Somália na Somalilândia, que supervisiona os agentes que operam na África do Sul, Tanzânia, Quénia, Uganda e Somália, tendo concluído, entre outras, que “os fundos vieram de roubos, sequestros e extorsões, principalmente na Somália e na África do Sul”.
As transferências examinadas foram feitas por meio de sistemas de transferência de dinheiro móvel e hawala e, surpreendentemente, por meio de entrega física de grandes quantias de dinheiro.
Hawala ou hewala, originário do Paquistão como havala, também conhecido como havaleh em persa, e xawala ou xawilaad em somali, é um sistema popular e informal de transferência de valores baseado no desempenho e na honra de uma enorme rede de correctores de dinheiro.
Este sistema é particularmente difícil de policiar, porque construída com base na confiança desenvolvida por meio de laços pessoais ou comerciais. Permite ainda que grandes somas sejam depositadas num agente e quase imediatamente retiradas de um agente cooperante em outro lugar.
A reconciliação do saldo por meio de empresas relacionadas sem envolvimento explícito em transferências de dinheiro torna-a particularmente difícil de detectar.
As transferências analisadas pelos autores e realizadas entre Setembro de 2019 e Fevereiro de 2021 foram exclusivamente por meio de hawala.
As transferências subsequentes até Outubro de 2021 foram por correio ou dinheiro móvel. Não está claro se isso foi devido a um melhor policiamento ou uma função do conjunto de dados.
Dos quase USD 350 milhões em transferências em que a Bridgeway tem alguma confiança, menos de 2% foi para Moçambique. O relatório mostra dois pagamentos feitos à chamada “Pérola do Índico” em Outubro de 2019, ambos por hawala.
Um foi para Nampula, no valor de USD 3000, e o outro para Maputo, no valor de USD 2366. Ambos os pagamentos foram feitos em Nairobi.
O Uganda representa 80% do valor das transferências analisadas, em apoio ao ADF, com mais de 10% a ir para os Emirados Árabes Unidos, conhecido pela presença de redes financeiras do EI.
A Tanzânia respondeu por pouco mais de 6%, com menos de 1% indo para o Quénia.
A pesquisa da Bridgeway contou com a cooperação dos serviços de segurança da RDC, Quénia, Ruanda e Uganda.
Presume-se que tal cooperação não veio da Tanzânia e de Moçambique. A Tanzânia, em particular, tem rígidos protocolos de investigação que, nos últimos anos, têm sido implementados com diligência.
Isso pode explicar a baixa parcela do valor de transferências contabilizadas pelos autores para os dois países. Pode, no entanto, também reflectir a eficácia de ambos os países em combater grupos armados transnacionais organizados e as suas redes de apoio.
O relatório apresenta uma breve biografia de Abdella Hussein Abadigga, um etíope residente na África do Sul. Este homem foi sancionado pelos Estados Unidos da América em Março de 2022 por alegado recrutamento para o EI e gestão de fundos para o grupo.
Curiosamente, o relatório não menciona que a sua família afirma que ele foi sequestrado por agentes de segurança sul-africanos em 29 de Dezembro de 2022 num shopping de Midrand, uma cidadela chique rematada entre Joanesburgo e Pretória.
Um tribunal ordenou que o Estado revelasse o seu paradeiro em resposta ao apelo da família. Apenas a Força de Defesa Nacional da África do Sul respondeu, dizendo não ter conhecimento do incidente.
Redactor
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 14 de Junho de 2023.
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