Peripécias da vida
O ritmo tradicional nalgumas comunidades manifesta-se como factor determinante na formação de sistema de pensamento local, que constrói mundos sociais, culturais e políticos, contribuindo decisivamente para o processo de criação de sociabilidades e de agenciamentos, permitindo o surgimento das experiências colectivas e individuais.
Os tradicionalistas mesmo adultos tendem a escolher as recém-nascidas para que sejam as suas esposas, o que se define em incómodo ou tristeza em determinadas famílias. “O ABC da vida é importante no seio da humanidade, por vezes não tem idade para a sua aprendizagem, que, quando menor, facilita o crescimento com visão e atitude conduzindo a algo palpável, fortalecendo o seu estar e alegrando os seus próximos: orgulho familiar”.
Acontece que já idosos, incutem palavras de ordem adulta em menores de idade, que, no seu desenvolvimento, vão fazendo uso destas, perturbando o seu saber e reduzindo o espaço para melhor pensar.
Não se explica que, durante o nascimento de determinada criança, ao invés de alegrar-se pela sua sanidade física e mental, o homem intitula-se esposo desta, mesmo na inocência, com ou sem conhecimento dos pais, o que leva à constante permanência naquela residência com o objectivo de saudar e acompanhar o crescimento da sua “fictícia mulher” mantendo-a fixa no seu olhar, que, com o andar do tempo, as coisas tornam-se reais de forma obscura, intitulando-se “homem da noite”.
Muito pouca gente sofre actos do género, impedidos de realizar os seus sonhos pelo homem espiritual, o que se traduz em consequências desagradáveis para si e família. Os nocturnos existem e agem de forma silenciosa, que de casa em casa vigoram para busca de satisfação, garantindo o máximo controlo da sua inocente amada, que cresce sem conhecer o real sabor que a vida lhe oferece.
“As escolhas são feitas em tempo real, a monitoria é contínua e a desgraça é permanente, o que sujeita à alteração mental da inocente quando não descoberta a razão da sua diferente acção na inserção social”.
Na maior parte das vezes, as pessoas são entregues para servir de “moeda de pagamento a determinados serviços, dívida ou pelo sucesso financeiro”, factos que têm sido uma pedra ou sombra para os vitimados, impedindo-lhes de desfrutarem a vida com alegria.
Parte dos possuídos se escusa a abordar o assunto junto dos parentes pelo facto de não ceder espaço para diálogo manifestando-se de forma reflexiva perante os seus próximos.
Vezes há em que as famílias não tomam em consideração por terem receio de explicar a razão e a origem da sua existência como um conjunto de saberes especializados, que intercedem na relação entre os espíritos e os vivos.
As visões de mundo tradicionais são factores importantes para a perpetuação da servidão, da exclusão e da violência no contexto social, tendo em conta que os guardiães da tradição (os mais velhos e os especialistas tradicionais) detêm o monopólio da sua interpretação.
O sistema de crenças tradicionais legitima uma ordem em que os mais novos são vistos como potenciais elementos de pacificação e compensação no relacionamento com entidades espirituais, quer a nível dos discursos e práticas sobre possessão espiritual, quer dos actos de tradicionalismo.
Os recém-nascidos e menores de idade, enquanto actores sociais envolvidos neste “cosmos”, não têm o mesmo poder e conhecimentos para lidar com a sua condição de subalternidade, tal que as práticas sobre possessão espiritual acabam legitimando e produzindo ideologias de subserviência, de que os mais novos são as principais vítimas e visados.
A fase de transição da adolescência para a idade adulta torna-se de certa forma de desconforto com a presença de um espírito que, de acordo com a consultada da medicina tradicional (tinyanga), como responsáveis pelo diagnóstico, os que planeiam e concebem a solução necessária, quer por adição ou subtração e exorcismos de espíritos agressores ou calmia, operacionalizam um novo quadro de forças na humanidade mostrando o poder predominantemente e a relação matrimonial planeada para a sua actuação.
A sociedade africana é culturalmente crente da existência de espíritos de antepassados que conduzem (ao bom tratamento), amaldiçoam ou atormentam a vida humana perpetrando acções para diversos fins (quando obrigados para o efeito), reclamações de género são feitas em várias vertentes, mas não se dá a devida atenção aos vitimados e educação aos inocentes, o que facilitaria o processo de aprendizagem na matéria em causa, criando mecanismos para boa convivência com o referido tradicionalista.
Este artigo foi intitulado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 27 de Julho de 2023, na rubrica de opinião denominado OPINIÃO.
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