Pobre não tem zanga

Pobre não tem zanga – O nome desta rubrica foi concebido para recordar o ensinamento dado pela minha mãe, que Deus levou.

Todos os dias tenho testemunhado humilhações contra mim ou outras pessoas da minha estirpe por gente rica ou com poder político, económico, social e ou religioso, mas no dia seguinte mostramos marfim (dentes) aos humilhadores porque nós pobres não temos rancor.

Esta semana, o jornal Correio de manhã reportou que moçambicanos viajando à noite de ou para Joanesburgo são assaltados na região de Witbank ora chamada eMalahleni, por homens armados.

Assaltos e violência contra moçambicanos não são novos na estrada N4 e no território sul-africano em geral. 

Em finais de Agosto de 2019, mais de 130 moçambicanos voltaram de Joanesburgo a correr por causa de violência, perseguição, ataques, saque e destruição dos seus negócios por sul-africanos.

Menos de dois meses depois, moçambicanos regressaram à África do Sul para começar tudo de zero e a chamarem sul-africanos de brothers ou irmãos, porque pobres não tem zanga ou rancor.

O rico jamais vai à casa de pobre pedir sal para temperar naco ou bife de carne, mas este vai à casa do rico pedir sal para temperar cacana ou tseke.

Assaltantes de moçambicanos na N4 ou em Joanesburgo, Durban ou Pretória nunca foram apanhados pela Polícia. As vítimas dizem que quando reportam os incidentes, a Polícia mostra-se menos flexível para socorrer rapidamente.

A Polícia da África do Sul tem recursos (carros, blindados aviões e helicópteros) para chegar a qualquer ponto do país em tempo útil se quiser, mas o grito de socorro de pobre não faz eco.

Entretanto, as vilas de Komatipoort e Malalane e a cidade de Nelspruit crescem à custa do dinheiro dos moçambicanos – esses pobres sem dono para lhes ajudar.

Moçambicanos ricos investem fortunas na África do Sul, deixando o seu país em permanente dependência.

No Ministério da Agricultura de Moçambique, titulares têm prometido desde a proclamação da independência há cerca de 45 anos reduzir ou acabar com importações de tomate, cebola, batata e outros produtos frescos da África do Sul que podem ser produzidos em Moçambique.

No entanto, Moçambique não consegue autossuficiência. Desde o posto da fronteira de Ressano Garcia até aos condomínios milionários da Matola é mato.

Quem vai acabar com a dependência que alimenta dirigentes e governantes… pobre não tem zanga.

THANGANI WA TIYANI

PS: Por acaso alguém se recorda do conteúdo dos resultados da comissão de inquérito criada para averiguar as circunstâncias em que, em finais de 2019, foram mortos dois agentes das forças moçambicanas de guarda fronteiras por militares da vizinha República da África do Sul na região da Ponta do Ouro?

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 29 de Janeiro de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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