Polícia à Cabo Delgado

Polícia à Cabo Delgado – Qualquer viajante que for a atravessar o Rio Lúrio (o rio que separa as províncias de Nampula da de Cabo Delgado) depara-se, de imediato, com a postura da polícia pouco simpática, mais agressiva e com a tendência de quase voltarmos aos tenebrosos tempos das guias de marcha.

A primeira surpresa com que se depara é o mau estado da estrada – esburacada e aos pedaços. Logo ao sair da ponte sobre o Rio Lúrio é obrigatório todas as viaturas pararem e os passageiros sair dos carros.

A seguir, os agentes da FIR e da Migração entram e vasculham as bagagens dos passageiros, na ausência destes. Isso é uma violação ainda que se desculpem que estão à procura de armas de fogo ou brancas.

Depois da bagunça, cada passageiro exibindo a sua documentação, seja BI ou Passaporte, vai, um a um entrando para o machimbombo, tal como se procedia de 1975, o da independência nacional, até ao fim da guerra civil, no ano de 1992.

Nessa altura, os militares e as milícias populares eram os senhores da estrada. Ainda nos recordámos que de Chimoio a Tete (360 km) essa distância percorria-se das 05horas até às 23h porque os passageiros eram obrigados a sair dos autocarros com suas bagagens para revista, perturbando, desse modo, a viagem e a tranquilidade dos passageiros. Era assim que as pessoas viajavam, no Moçambique novo e livre do colonialismo. Esses tipos expulsaram o colono, que era menos mau que eles, para semearem o terror, caos generalizado e a opressão. Foi para eles, também,  “comerem” porque o colono era um obstáculo à concretização das suas ambições.

Perguntamos a um dos agentes policiais a razão de ser daquele procedimento. Respondeu que estão a cumprir as ordens que receberam das suas chefias e a província é “complicada”. Insistimos para saber se, também, receberam ordens para vasculhar as bagagens na ausência dos respectivos donos. Aí ficaram calados por, talvez, terem entendido o alcance da nossa pergunta que estariam a ultrapassar os limites da privacidade. Os donos das bagagens poderiam, e bem, reclamar o sumiço dos seus haveres, como dinheiro, colares, brincos e de outros bens de valor. Como a polícia se arranjaria perante um problema do género. Alguma coisa pode justificar esse comportamento da polícia? Perguntamos a um dos membros da tripulação se aquela postura da polícia era recorrente, respondeu que, para evitar embaraços, bastava dar-lhes “refresco” para todo o mundo ficar em família.

Durante o trajecto Nampula – Rio Lúrio, vimos, quando a polícia mandou parar o nosso machimbombo, um dos tripulantes a colocar uma nota de 100 meticais entre a documentação do autocarro e aquilo foi que nem um “beijo à avó” – foi num pé e voltou noutro.

Dissemos a esse indivíduo para não tornar a dar dinheiro aos polícias nem na estrada nem em qualquer outra parte por ser crime. Se os polícias acharem que o salário que auferem é pouco, acreditamos que seja mesmo pouco, que fossem reclamar junto ao respectivo ministro e não limitar-se a extorquir aos transportadores do semicolectivo, como tem sido prática habitual em todo o país.

Retorquindo, ele disse que dar refresco a um polícia pode ser crime noutros países, mas Moçambique  é assim como as coisas funcionam. É um país especial, rematou e nós confirmamos : “siavuma!”

EDWIN HOUNNOU

 Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 24 de Janeiro de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO

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