RAS: Políticos em “fuga”
Políticos – Muitos deputados recém-eleitos para o Parlamento da África do Sul e que integraram o Governo anteriormente estão a abandonar os seus assentos no Parlamento, sob os mais variados pretextos, mas analistas acreditam que as regalias como ex-membros do Executivo podem estar a “falar mais alto”.
Efectivamente, a maioria dos antigos ministros sul-africanos eleitos deputados nas recentes eleições gerais de 8 de Maio estão a abandonar o Parlamento, na sequência da sua exclusão do novo Governo do presidente Cyril Ramaphosa.
Catorze antigos ministros foram excluídos do novo executivo, mas foram eleitos deputados na lista do ANC.
Entretanto, até às 12H00 desta quinta-feira nove dos 14 antigos ministros tinham resignado do Parlamento.
As razões de resignação são diferentes: consideração política, poupança de pensão de reforma ou possibilidade de seguir carreira diplomática como embaixador.
No entanto, muitos analistas consideram que o ponto central é a salvar benefícios financeiros acumulados no período em que serviram como ministros, alguns dos quais ficaram 25 anos ou 23 anos no Governo.
Uma vez no Parlamento, eles poderão perder os benefícios de reforma como ex-ministros.
A gratificação equivalente a quatro meses de salário em cada cinco anos como ministro, adicionada na remuneração anual, é uma fortuna aliciante que ninguém gostaria de perder com o cargo de deputado.
Por exemplo, Jeff Radebe, que dirigiu sete ministérios em diferentes momentos desde 1994 até 2019, tinha um salário anual de 2.401.633 milhões de randes, mordomias inerentes ao cargo, incluindo duas residências pagas pelo Governo – uma em Pretória e outra na Cidade do Cabo, onde funciona o Parlamento.
Na África do Sul, os ministros são também deputados no parlamento nacional.
No entanto, o benefício financeiro anual como deputado normal é estimado em 1.033.438 milhão de randes com menos mordomias em relação a ministro.
Cada rendimento anual – de ministro ou deputado – tem peso diferente para a reforma do indivíduo e apenas um é que vale para efeitos de pensão de reforma.
Então, antigos ministros preferem manter os seus benefícios acumulados como ex-governantes. O último a resignar do seu lugar no Parlamento, nesta quinta-feira, foi Mildred Oliphant, antiga ministra do Trabalho.
Entretanto, as resignações de antigos ministros levantam aspectos relevantes de análise para o ANC que tem defendido que os seus membros são servidores do povo, sempre disponíveis e dispostos a trabalharem onde for necessário para o bem da população e do partido.
Segundo o ANC, deputados são eleitos nas células (“branches”), onde reside o poder popular da organização.
Os político eleitos deixam os cargos sem conhecimento das bases que lhes indicaram para representar o eleitorado no Parlamento.
Analistas políticos consideram que as resignações mostram que “membros do ANC, tal como os dos outros partidos, fazem política de estômago” e não por convicção de servir o povo.
Por outro lado, alguns políticos resignados manifestam-se revoltados com a sua exclusão do Governo do presidente Ramaphosa.
A polémica antiga ministra do desenvolvimento social, Bathabile Dlamini, escreveu uma longa carta para o secretário-geral do partido, Ace Magashule, queixando-se de perseguição de pessoas que apoiaram a candidatura de Nkosazana Dlamini Zuma para presidente do ANC, derrotada por Cyril Ramaphosa, em Dezembro de 2017.
Bathabile Dlamini é presidente da poderosa Liga Feminina do ANC. Teve vários escândalos na gestão de subsídios sociais distribuídos a 17 milhões de pessoas pobres, idosos, mães solteiras e indigentes apoiados pelo Governo.
Na sua carta, Dlamini alega que esposas de alguns dirigentes beneficiaram ilicitamente de programas sociais do departamento que dirigia, mas quando ela estava a ser criticada publicamente os maridos ficaram calados.
A oposição Aliança Democrática (DA), exigiu nesta quinta-feira que Bathabile Dlamini faça queixa-crime à Polícia contra as pessoas que alega terem beneficiado de programas e se o não fizer dentro de 48 anos a DA vai abrir processo contra ela, acusando-a de encobrir a corrupção.
THANGANI WA TIYANI, CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL