Prémio Nobel de Paciência
Prémio Nobel de Paciência, uma sugestão que Moçambique devia trabalhar arduamente para sugerir ao Comité que trata desta categoria de galardões, porque, existindo, os moçambicanos seriam potenciais conquistadores, anualmente, porque, aparentemente, pacientes natos.
Moçambicano suporta pacientemente filas intermináveis em quase tudo o que é sítio.
É nos hospitais, é para inscrever o filho na escola, é para recensear ou votar, mesmo para ir trabalhar onde nem sempre o ordenado é regular.
Penosa e pacientemente, o moçambicano faz fila longa para pagar as inúmeras portagens instaladas em estradas estreitas, esburacadas e mal sinalizadas.
Moçambicano aguarda, pacientemente, no banco, sem lavabos, para movimentar o seu próprio dinheiro, perante funcionários bancários maioritariamente rudes.
Por falar em bancos; nesta terça-feira marquei, telefonicamente, com a gestora da conta que a nossa empresa tem num desses cerca de dezena e meia de bancos activos em Moçambique para tratar de um determinado assunto. Oito horas e cinco minutos da quarta-feira encostava a barriga no balcão, mas, depois, tive de esperar 45 longos minutos para que ela [a gestora] me atendesse. Depois de trinta minutos, um dos funcionários vem me dizer que “a senhora Y… [gestora] está ainda a preparar a documentação”. Quinze minutos volvidos, apareceu o colega da Y que, depois de uma seca saudação da praxe, se limitou a ordenar: “assine aqui, aqui e aqui”!
Fiquei revoltado e perguntei da gestora, ao que retorquiu que ela estava ocupada. A verdade é que a Y tinha vergonha de me encarar, porque, passados 15 minutos de espera, lhe enviei uma mensagem curta, vulgo SMS, a perguntar se “podia aguardar ou voltar noutro dia”.
Porque já me tinham fornicado o programa daquela quarta-feira, também preferi me divertir com o testa de ferro da senhora Y. No lugar de ler as seis páginas que devia compulsar antes de assinar e rubricar, “pedi” ao meu interlocutor para que o fizesse por mim, em voz alta – com intervalos para explicações, sempre que entendesse que devia fazê-lo. Era o pico, por pico.
Depois assinei aquela pilha de papéis e, cinicamente, nos apertámos as mãos com sorrisos amarelos e cada um foi à sua vida…
Pelo caminho comentava para os meus botões: neste meu país a burocracia é mesmo muito competente, por isso mesmo que Moçambique avança!
Coincidentemente, uma amiga contou que na mesma quarta-feira se tinha deslocado a um outro banco comercial da praça e que tivera uma acesa discussão com o porteiro, porque não a deixava entrar com … óculos escuros, “por motivos de segurança”. Ela disse-me que, depois de uns minutos de discussão, mandou o “vigilante” às urtigas e entrou no estabelecimento.
Por este e outros motivos julgo suficientemente reunidas as condições para Moçambique sugerir a instituição do sétimo galardão dos até agora seis outorgados pelo Comité Nobel, porque o Premio Nobel de Paciência os moçambicanos podem arrebatá-lo, provavelmente todos os anos, como é prática cá na aldeia, de forma retumbante, qualquerzante, esmagadora e não sei mais o quê!
A MINTHIRU IVULA VULA KUTLHULA MARITO! Os actos valem mais que as palavras! Digo/escrevo isto porque ainda creio que, como em anteriores desafios, Moçambique triunfará e permanecerá, eternamente.
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 25 de Agosto de 2023, na rubrica TIKU 15.
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