Que sociedade estamos a construir?
A destilação de ódio sem precedentes a propósito do barbáro assassinato de Valentina Guebuza, pelo que constam as crónicas pelo seu próprio marido, veio levantar a velha questão de que tipo de sociedade estamos a construir.
Nas tradições africanas, a morte de um ente-querido é motivo de dor. Pelas circunstâncias em que a filha de Armando Guebuza morreu, o acto deve ser motivo de revolta, pois pela lei da natureza não devia ser um outro comum mortal a determinar o fim da vida do outro e, no caso, pelas mãos do seu próprio marido.
Os casos de violência doméstica têm sido parte do menu dos noticiários pelo que ocorre um pouco por todo o país, com particular destaque para as zonas mais recôndidas desta “Pérola do Índico”. Entre a classe média e a chamada elite, estes casos poucas ou raras vezes aparecem para o domínio público.
A morte de Valentina, por assassinto, para além da dor que infligiu os pais, filha, irmãos e demais familiares, atingiu toda a racionalidade e urbanidade.
Como foi possível a reacção das centenas de milhares em celebração efusiva da desgraça do outro?
Quando se sonhou a liberdade, a qual derivou numa epopeica luta contra o domínio estranho e invasor, os moçambicanos estavam unidos.
Quando Samora Machel foi entronizado como líder do nascimento do Estado moçambicano, os questionadores e afins se aviaram e os crentes do falhado projecto da construção do “homem novo” aqui se mantiveram.
Com a introdução do multipartidarismo, por via das armas, alguns dos então exilados voltaram para fazer parte do novo processo, que se augurava eternamente sem armas.
Hoje o cenário é outro e é preciso que os centros de saber expliquem que cenários de ódio são estes, onde a dor de um pai/mãe/irmãos é motivo de euforia.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: Que sociedade estamos a construir?
Luís Nhachote