Raymond Zondo sugere metodologia para “blindar” Estado

Raymond Zondo, que foi Presidente do Tribunal Constitucional sul-africano e liderou a comissão que investigou a alegada captura do Estado na era de Jacob Zuma, defendeu, esta quinta-feira (21 de Junho), o estabelecimento, a título permanente, de uma comissão anticorrupção na África do Sul.

No entender de Zondo, tal comissão evitaria que episódios ocorridos em torno do Estado no consulado de Zuma se reeditem.

Zondo é da opinião de que a comissão anticorrupção permanente iria “permitir que as pessoas apresentem diretamente queixas sobre corrupção”, dificultando que o partido que estiver no poder tivesse oportunidade de defender os corruptos no parlamento.

Estas ideias foram deixadas por Raymond Zondo quando discursou, na cidade de Pretória, num colóquio organizado pelo Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas, sobre o futuro da democracia na África do Sul.

As colocações e Zondo foram feitas num dia em que passava um ano após a entrega dos últimos capítulos do “volumoso” relatório sobre a captura do Estado sul-africano.

O juiz Zondo mostrou-se preocupado com o aproximar das eleições de 2024 antes que todas as recomendações da comissão de inquérito tenham sido postas em prática.

“Temos no relatório várias recomendações que fizemos e ainda estamos a aguardar a sua implementação […] há algum trabalho acontecendo […] o meu medo é que, como próximo ano é um ano eleitoral, em breve o Governo, os membros do parlamento e os políticos vão começar a campanha eleitoral e, talvez, não vamos ver a implementação das recomendações”, disse o juiz Zondo.

Tido como “inimigo” de Jacob Zuma, Zondo acusou o parlamento da época [entende-se: bancada do ANC] de ter feito pouco para acabar com as aventuras de Zuma, na sua ligação com a família Gupta, que facilitaram a captura do Estado.

Zondo adverte que a captura do Estado, mesmo sem paralisar os seus três braços, ainda pode vir a ocorrer novamente porque “a captura do Estado é tudo sobre ganância, egoísmo e criminalidade”.

“A influência de um chefe de Estado para os interesses de apenas alguns, equivale à captura do Estado. A captura do Estado não requer que todos os três braços do Estado sejam capturados. Se um indivíduo ou grupo de indivíduos tiver influencia tão forte sobre o chefe de Estado, quanto os Guptas, e essa influência não for usada para o chefe de Estado tomas decisões que sejam legais e atendam aos interesses do povo, mas que sirvam os interesses de apenas alguns indivíduos ou um grupo se indivíduos ou entidades, então isso, na minha opinião, ainda é captura do Estado”, vincou Zondo.

O juiz disse duvidar que a bancada do ANC tomasse uma atitude diferente nos dias que correm “se outro grupo de pessoas fizesse exactamente o que os Guptas fizeram para capturar o Estado, o parlamento ainda não seria capaz de detê-lo. Isto porque ainda não vi nada que tenha mudado”, disse Raymond Zondo.

A comissão dirigida por este juiz concluiu que ouve captura do Estado na África do Sul, que envolveu mais de mil pessoas, incluindo o antigo líder sul-africano, Jacob Zuma.

RAULINA TAIMO, Correspondente na África do Sul

https://bit.ly/41XbJTI

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *