Riscos de musculatura
Riscos O director nacional do departamento da AON Financial Solutions alerta para a previsível escalada de violência no norte de Moçambique, no seguimento da “resposta musculada do Governo” aos ataques de um grupo armado de inspiração radical islâmica.
“Se a reacção do Governo for muito musculada perante um eventual novo ataque, leva a que os grupos se radicalizem e podem ficar idênticos aos grandes grupos de radicais islâmicos, levando a uma escalada da violência, raptos e terrorismo para com as entidades estrangeiras, polícias e Governo”, disse Pedro Pinheiro à Lusa.
“Na nossa análise, é isto que está a acontecer”, vincou o responsável em Portugal da AON, uma correctora de seguros especializada em risco político.
Questionado sobre se a reação do Governo de Moçambique ao primeiro ataque foi de tal forma forte que pode gerar uma onda de simpatia para com os atacantes, o responsável da AON em Portugal respondeu que “dependendo de qual for a resposta futura do Governo é que será possível responder a isso, mas uma repressão total, da forma como foi feita a primeira, pode levar a uma espiral que leva as pessoas as radicalizarem-se mais rapidamente”.
Pedro Pinheiro acrescentou que “o risco que se corre, e que o mercado já está a antecipar, é o que o Estado irá fazer a seguir com estes grupos localizados”, e notou, ainda assim, que “o risco político atribuído pela AON, de Severo, tem sido estável em Severo desde o início do ano porque já existia informação e focos de rapto, sobretudo nas zonas onde há companhias estrangeiras que exploram as minas”.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) anunciou no dia 10 que já tinha detido 52 suspeitos de ligação ao grupo, mas fonte policial em Mocímboa da Praia disse à Lusa, no dia 12, que várias pessoas já tinham, entretanto, sido libertadas por não terem nada a ver com o caso.
A vila esteve praticamente encerrada durante dois dias devido aos tiroteios entre a polícia e o grupo, confrontos dos quais a PRM diz ter resultado a morte de dois agentes, de 14 agressores e de um líder comunitário, que terá sido abatido pelo grupo, além de um número indeterminado de feridos.
“O nosso mapa de risco político já antecipava conflitos no interior do país por parte da Renamo, o que contribuiu para que o risco político do país se mantivesse em Severo [quinto numa escala de seis], por isso estes acontecimentos de Outubro são mais vistos como um evento de terrorismo do que um acontecimento político”, disse Pedro Pinheiro à Lusa.
Na análise sobre o país, o relatório da AON especifica que os desafios internos do país “foram amplificados pelo escândalo das dívidas escondidas, que aumentou o já de si insustentável peso da dívida e fez com que os doadores internacionais suspendessem o financiamento”.
“O maior impacto económico da crise da dívida foi a significativa depreciação do metical, que fez disparar a inflação”, escrevem os analistas da AON, concluindo que “o risco de transferência de capitais e os riscos de incumprimento soberano são agora elevados”.
Redacção