Será que o coronavirus?

A questão foi levantada na manhã desta terça-feira, por uma das passageiras, uma senhora na casa dos 40 anos de idade, quando estávamos no “chapa”, cada passageiro seguindo o seu destino.

Ante o olhar atónito e brusco silencio de muitos no interior da viatura que circulava às gincanas, para não variar, a senhora se explicou: é que os mínimos protocolos de biossegurança nos “chapas” apenas são observados nas horas de ponta e ignorados no resto do dia.

A mulher tentava elucidar sobre um “live” daqueles que nos dias eu correm podemos assistir no Instagram ou mesmo no Facebook, neste caso o quotidiano real que se vive nos transportes semi-colectivos de passageiros, em Moçambique, conhecidos por “chapas”.

E lá íamos nós, fazendo o itinerário Praça dos Combatentes/Baixa e, chegados à paragem do Hospital de Mavalane, um jovem grita para o cobrador: “eu vou descer aqui perto djo!”. E foi justamente este que foi puxado para entrar na viatura. Sorrateiramente, o passageiro recém-chegado foi se sentar no banco traseiro, para melhor ludibriar a vigilância do cobrador.

É este o jogo de gato-come-rato que se assiste todos os dias destes tempos de covid, em que o motorista e o cobrador lutam por todos os meios e formas para lograr a receita do dia estabelecida pelo patrão e de modo a sobrar algum para as despesas caseiras e tomar algumas “geladinhas”, neste Inverno, longe dos olhares dos passageiros relaxados dos Mahindras, que também se fazem à rua para buscar o seu business neste país de heróis em que cada um, pedra-a-pedra, subsiste, através do seu maneira-maneira, construindo o seu futuro.

Já estamos na Avenida Guerra Popular, com a Praça dos Trabalhadores à vista e o passageiro de Mavalane continuava a bordo e a conversa era outra, porque outro passageiro, aparentemente “cinquentão”, havia começado a falar política, depois de um agente da Polícia Municipal ter levado algo dos documentos do motorista e sem pronunciar uma palavra mandou seguir viagem, com o carro apinhado de gente.

Em Moçambique o povo aparenta ser relevante apenas durante a campanha eleitoral, para fazer folclore de um jogo que à partida já se sabe qual será o seu desfecho e… perdi a continuação da conversa porque desci da paragem Mandela, justamente com a senhora que começou o “live” no interior do “chapa” com o seu yuuuuu, papá, afinal será que o coronavirus só circula nas horas de ponta?

Afinal nem nas horas de ponta alguns agentes da Polícia Municipal querem lá saber do combate à corona, apenas “refresco”

JOCHUA JOÃO

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 22 de Julho de 2020, na rubrica oPINIAO

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