Tabaco: O futuro dos produtos

Tabaco: Quando, graças à ciência e a invenções tecnológicas, o mundo avança na disponibilização de produtos de risco reduzido para fumantes, um novo debate surge. Há lugar para uso recreativo desses produtos quando os cigarros acabarem? Esta foi uma das perguntas intrigantes na mais recente “Cimeira contra o fumo”.

Karl E. Lund é pesquisar sénior do Instituto norueguês de saúde pública e com mais de 40 anos de experiência em pesquisas na área de controlo de tabaco. Foi convidado para a cimeira que teve lugar no dia 7 de Dezembro, no modelo virtual, a partir do Reino Unido, para se debruçar sobre um tópico que desafia a narrativa sobre a redução de danos de tabaco.

O tema sobre o lugar para uso recreativo dos produtos de risco reduzido está a ganhar espaço nos países onde o fumo está para ser erradicado, prevendo-se já uma era pós-fumaça.

Aliás, na sua intervenção, Karl E. Lund começou por reconhecer que, num mundo com mais de 1.3 bilhões de fumantes e crescente número de consumidores, além de sete milhões de mortes, esta questão pode parecer absurda e irrelevante.

Mas na Noruega, disse, a fumaça está prestes a ser erradicada no seio dos jovens. Naquele país europeu, e em outros como a Suécia, o nível de tabagismo atingiu o mínimo – em particular entre os jovens com menos de 25 anos, onde a prevalência do tabagismo é de aproximadamente 2%.

A disponibilidade de Snus, um produto de tabaco com risco modificado (MRTP, na sigla em inglês – Modified Risk Tobaco Product), em combinação com infra-estruturas robustas para o controlo do tabagismo, são apontados como os principais motivos dessa redução.

Nesses mercados, o Snus substituiu os cigarros e os que sempre fumavam são, hoje, a maioria entre os usuários deste produto de risco modificado.

Mas, quando o fumo estiver para ser erradicado, o maior reservatório de potenciais usuários do Snus, neste caso os fumantes, diminuirá.

Como consequência, a prevalência de usuários de Snus provavelmente diminuirá, o que, subsequentemente, poderá alterara configuração dos usuários deste produto de risco modificado. Com efeito, a maioria dos usuários do Snus acabará por ser constituída pelos que nunca fumaram, o que poderá, caso forem muitos demais, impactar na saúde pública, de positivo para negativo.

É que, em tal situação, a função do Snus– e dos cigarros electrónicos – que é de redução danos, será menor.

Mudanças de abordagem

Karl E. Lund, pesquisar sénior do Instituto norueguês de saúde pública

Na referida cimeira, o pesquisar do Instituto norueguês de Saúde Pública mostrou como o cenário sobre os danos do tabaco tem estado a mudar, ao longo do tempo.

De acordo com Karl E. Lund, num mercado como o norueguês que, há cerca de 20 anos, era dominado por cigarros, em mais de 90%, os objectivos das políticas de controlo do tabaco eram de redução de morbidade e mortes prematuras, eliminação do tabagismo, do tabaco, da indústria tabaqueira e do vício da nicotina.

O especialista fez saber que, como por volta de 1999 e 2000, o mercado era dominado pelo cigarro, não houve conflito entre esses objectivos.

Mas, prosseguiu, agora as coisas mudaram. Explicou que, num mercado com duas componentes, com grande diferença de risco entre os produtos (onde o cigarro ocupa cerca de 54%), os objectivos das políticas de controlo do tabaco devem ser outros. Além de reduzir a morbidade e mortalidade prematuras e eliminar o tabagismo, os objectivos actuais passam pela eliminação de cigarros, da indústria do cigarro e do vício da nicotina do cigarro.

Entretanto, quando o tabagismo está prestes a ser erradicado entre os jovens noruegueses, graças a Snus, este produto não pode ser visto como uma alternativa ao fumo para os jovens. O argumento é de que, quando os cigarros se tornarem um produto para um nicho de consumidores, os produtos de baixo risco se tornarão redundantes. Por isso, as pessoas os usarão para fins como diversão, paixão e inspiração.

Karl E. Lund anota, contudo, que, embora também viciantes, tal como os cigarros, a diferença dos produtos de risco reduzido é que eles não matam o consumidor.

Depois de resumir os argumentos de ambos lados, isto é, a favor e contra o uso recreativo de produtos de baixo risco quando os cigarros acabarem, o especialista mostrou mais duas abordagens, mas condicionais.

Segundo a explicação, se os sempre fumadores constituírem a maioria entre os utilizadores, então, há lugar para o uso recreativo de produtos de baixo risco quando os cigarros acabarem.

Mas se os nunca fumantes passarem a constituir uma grande maioria entre os usuários, então, não há lugar para o uso recreativo de produtos de baixo risco, quando os cigarros acabarem.

Para Karl E. Lund, a indústria está numa situação difícil. “Seu sucesso na erradicação do tabagismo está levando os reguladores a argumentar que os produtos de baixo risco são redundantes. No entanto, argumentos de livre escolha, ao invés de argumentos de redução de danos do tabaco, podem, eventualmente, levar a uma legitimação de produtos de danos reduzidos”, afirmou o pesquisador, para quem a disponibilidade desses produtos pode dissuadir de fumar os jovens propensos ao tabaco.

PMI

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