Televisão em turbulência

Televisão A Corporação de Radiodifusão da África do Sul (SABC) foi afundada num poço sem água financeira, esvaziada por gestores dos quais se destacava a figura de Hlaudi Motsoeneng, então Director de Produção.

A corporação pública sul-africana tem cinco canais de televisão e 19 estações de rádio e domina o mercado de radiodifusão na África do Sul.

No entanto, a corporação não escapou da pilhagem generalizada de recursos financeiros durante o consulado de cerca de nove anos do Presidente Jacob Zuma, terminado em 2018.

Na semana passada, jornalistas da SABC baseados na sede, em Auckland Park, Joanesburgo, revoltaram-se contra a comissão criada pela corporação para dirigir o processo da redução de cerca de 600 trabalhadores de um total de três mil em todo o país.

A jornalista Chriselda Lewis não se conteve. Vomitou cobras e lagartos contra membros da comissão para pouparem gente inocente prejudicada por ladrões conhecidos que pilharam a SABC na altura em que a Ministra de tutela era Faith Muthambi.

A revolta dos jornalistas abriu debate sobre se o conselho de administração da SABC deve ou não continuar com o seu plano de redução do pessoal da corporação.

Há fortes argumentos de ambos os lados e não há solução fácil para a situação difícil que a corporação publica enfrenta.

O excesso de interferência política na gestão editorial da corporação exacerbada pela pilhagem desenfreada afastou potenciais clientes no mercado mais desenvolvido de África.

Com o punho de ferro de Hlaudi Motsoeneng, então Director de Produção, oito jornalistas que questionavam a distorção da política editorial da corporação foram expulsos e instou-se clima de medo.

Motsoeneng baniu coberturas de manifestações populares contra insuficiência ou falta de serviços básicos nas comunidades e impôs o uso de 80 por cento de música sul-africana nas rádios da SABC.

Rádios comerciais que faziam dinheiro passaram a somar prejuízos, porque ouvintes deixaram de acompanhar programas da maior rede radiofónica do país e anunciantes deixaram de pagar publicidade de seus produtos nas rádios da SABC.

Mas Hlaudi Motsoeneng gabava-se de estar a colocar a SABC como melhor referência a nível regional, continental e internacional. Motsoeneng tinha carta branca do Number One para dirigir a corporação ao seu critério e dando maior espaço a caras e vozes de amigos e companhia próximos das vontades de Mutsholozi – Zuma.

Quando o ANC acordou já era tarde e a corporação pública de radiodifusão estava no fundo do poço.

Foi instaurada uma sindicância. Hlaudi Motsoeneng foi expulso e obrigado a indemnizar os oito jornalistas expulsos. ( Televisão)

Carlos Cardoso, assassinado em Novembro de 2000 por inimigos de jornalistas livres no exercício da sua profissão, escreveu “é proibido pôr algemas nas palavras”.

O governo de Zuma, através de Hlaudi Motsoeneng, pós algemas nas palavras e afundou a maior corporação de radiofusão no continente africano.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 26 de Novembro de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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