Travar a “última guerra”

Travar a “última guerra”  – Fazer dos esforços contra os malefícios resultantes do consumo do tabaco de queima como se de uma última guerra para salvar vidas humanas. Esta foi uma das recomendações da conferência realizada, virtualmente, em Outubro último, a partir do Reino Unido, juntando especialistas sobre questões ligadas ao tabaco.

Na primeira sessão da conferência intitulada “A última Guerra: a OMS e o Sistema Internacional de Consumo do Tabaco”, Derek Yach, ex-diretor de gabinete da Organização Mundial da Saúde (OMS) e director executivo para doenças não transmissíveis e saúde mental, lembra, como que com nostalgia, a euforia de 2005, quando a Convenção Quadro da OMS para o Controlo da Epidemia do Tabaco (FCTC) foi adoptada.

Não é para menos. Derek Yach desempenhou um papel fundamental para o desenvolvimento da referida Convenção, que foi suscitada pelo reconhecimento de que uma estratégia global era necessária para enfrentar uma epidemia também global, a qual os países não podiam resolver apenas por meio da legislação nacional.

Com efeito, o FCTC representa um compromisso internacional em prol da adopção de medidas para “proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e económicas geradas pelo consumo e pela exposição ao fumo do tabaco”, conforme definido no artigo 3º do texto da Convenção.

A Convenção Quadro contém iniciativas para proibir a propaganda sobre o tabaco; promover a educação e consciencialização da população; proibir o fumo em ambientes fechados; controlar o mercado ilegal de cigarros; oferta de tratamento para a dependência da nicotina; inserção de mensagens de advertência sanitária fortes e contundentes nas embalagens dos produtos de tabaco; regulação dos produtos de tabaco quanto aos seus conteúdos e emissões, entre outras medidas.

Dezasseis anos depois da adopção deste instrumento de resposta à crescente epidemia do tabagismo, em todo o mundo, Derek Yach sente que a euforia de 2005 desapareceu e vê uma certa complacência.

Argumenta que nunca houve investimentos fortes no sector, desde da parte de governos até a agências de desenvolvimento. “Isso nunca aconteceu”, disse. Mas o especialista alerta que, sem investimentos, nunca haverá grandes progressos no sector.

Contudo, nota, com satisfação, a expansão de alternativas ao tabaco de queima, sobretudo nos últimos cerca de cinco anos, com o desenvolvimento de alternativas à queima de tabaco, como são os produtos de tabaco de risco modificado (MRTP – Modified Risk Tobaco Product).

Derek Yach

Derek Yach diz mesmo que o mundo nunca teve, antes, tecnologia capaz de reduzir os danos associados ao consumo do tabaco, pelo que, mais do que nunca, a humanidade dispõe agora de meios para a reduzir mortes e salvar vidas.

Enfatiza que é tempo de se operar mudanças no sector do tabaco, de modo a prevenir doenças e mortes associadas ao consumo de produtos de tabaco. O especialista reconhece a importância do acesso à ciência e à tecnologia para salvar vidas.

Quem também entende que, hoje, muitas doenças atribuídas ao consumo do tabaco seriam reduzidas é Harry Shapiro, um especialista com uma experiência de cerca de 40 anos no sector, que defende a tomada de medidas sérias para o efeito.

O seu argumento é de que, actualmente, há evidências bastantes que mostram que é melhor e menos perigoso recorrer a meios alternativos à queima do tabaco.

Diz que esta luta, proposta para ser a “última guerra” contra os danos associados ao consumo do tabaco, deve dar prioridade aos produtos de risco modificado. Além de cigarros electrónicos, a lista de MRTPs inclui o Snus e o IQOS, um sistema de aquecimento e não queima do tabaco, que substitui, completamente, os cigarros convencionais, reduzindo, significativamente, a exposição do organismo a constituintes químicos nocivos ou, potencialmente, nocivos.

Para Shapiro, resistir às mudanças para os produtos modificados é um crime contra milhões de consumidores que podem reduzir o risco de doenças e mortes associadas ao fumo do tabaco.

O especialista defende, por isso, um engajamento da indústria e governos num processo transparente, sem exclusão dos diferentes intervenientes no sector, incluindo activistas e académicos que trabalham na área da redução do risco associado ao consumo do tabaco.

“O que precisamos é de uma mudança clara”, sentenciou.

Por sua vez, Tom Gleeson, que falou em representação de consumidores de tabaco, defendeu um tratamento mais humanizado das pessoas que consomem produtos de tabaco.

O seu argumento é de que, nesta transição que se pretende, nada pode ser feito sem envolver os fumadores.

Na sua alocução, Gleeson, ele próprio um antigo fumante que conseguiu parar de consumir produtos tabaqueiros, precisou que os fumadores não são, simplesmente, números, mas pessoas com alma e dignidade humana por respeitar.

Lamenta, por isso, que os fumadores estejam, segundo ele, a serem excluídos e ignorados. Mas, no seu entender, o sucesso desta “guerra”, que se pretende a “última”, passa, também, pelo envolvimento de um maior número de pessoas, incluindo as que fumam. (Travar a “última guerra”)

PMI

Este artigo intitulado “Travar a “última guerra” contra malefícios do tabaco” foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 19 de Novembro de 2021.

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