Velório de Dhlakama

O Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, garantiu que a “construção da paz” vai continuar com a nova liderança da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

O chefe de Estado falava esta quarta-feira durante o elogio fúnebre ao presidente da Renamo, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, durante as cerimónias no largo da estação ferroviária da cidade da Beira, quase repleto.

Nyusi classificou Dhlakama como uma “figura com páginas indeléveis” na história de Moçambique e considerou que a sua morte não deve ser “um revés” nos acordos que estavam a ser alcançados.

“Iremos prosseguir a obra que junto iniciámos”, referiu.

Nyusi prometeu empenho nos dois dossiês que estão em cima da mesa, o da descentralização administrativa – com um acordo assinado por ambos e em discussão no parlamento -, assim como em relação ao processo de desarmamento, desmobilização e reintegração dos membros do braço armado da Renamo.

“Reafirmo a minha disponibilidade”, disse Nyusi.

“O fecho destes dossiês será sempre uma obra colectiva dos moçambicanos para a qual Dhlakama contribuiu até ao fim dos seus dias”, sublinhou.

O Presidente da República frisou a determinado ponto da sua intervenção que os pontos negociados entre ele e Dhlakama estão devidamente registados e que a sua preservação está garantida.

Trata-se de “património seguro”, destacou, referindo ser informação do conhecimento da “equipa mais restrita de Afonso Dhlakama”, mesmo não fazendo parte de comissões formalmente constituídas para as negociações.

Além desse círculo, há outras pessoas que acompanharam o processo, embora algumas delas “invisíveis” aos olhos do público, acrescentou.

Recados para a RENAMO

Presidente Nyusi e o responsável máximo interino da RENAMO, Ossufo Momade
Presidente Nyusi e o responsável máximo interino da RENAMO, Ossufo Momade

Dirigindo-se à Renamo, disse esperar “serenidade e respeito” pela memória do líder finado, cumprindo aquilo que ambos já tinham acordado.

Nyusi dirigiu ainda palavras de agradecimento a dois chefes de Estado vizinhos, Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, e Emmerson Mnangagwa, chefe de Estado do Zimbábue, por ambos terem disponibilizado ajuda para o socorro médico de Dhlakama, com meios aéreos.

A visão da juventude da RENAMO

Antes do chefe de Estado, na mensagem da família, Ivone Soares, líder parlamentar da Renamo e sobrinha de Dhlakama, disse que o antigo guerrilheiro foi eleito Presidente da República nas primeiras eleições multipartidárias em 1994, arrancando aplausos do público.

“Eleito no coração dos mais desfavorecidos”, sublinhou Ivone Soares, falando em nome da Liga Juvenil da RENAMO.

As alegações de fraude eleitoral por parte da Renamo estão entre as principais razões para os recorrentes conflitos pós-eleitorais em Moçambique.

Ivone Soares desafiou o público com uma ideia deixada aos jornalistas no sábado: “não se acobardem, sejam Dhlakama”, numa intervenção que acabaria por ser a mais aplaudida da manhã desta quarta-feira na cidade da Beira.

Apesar da forte afluência, as cerimónias decorreram sem incidentes – à exceção de alguns minutos de tensão, antes da chegada da urna, quando a polícia tentou afastar um homem, sem camisa, que improvisava malabarismos junto aos púlpitos.

O público apoiou a figura e contestou a acção da polícia, chegando a entoar alto e em pé o nome de Dhlakama – sendo que, após a reacção da plateia, a polícia deixou o homem continuar a exibir-se.

No elogio fúnebre, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, acabaria por classificar o evento como uma prova da “maturidade do sentido cívico” do povo moçambicano, unido pelo mesmo sentimento de luto, “do norte ao sul do país”.

Dhlakama acordou com Nyusi, desde final de 2016, um cessar-fogo nas hostilidades no centro do país entre o braço armado da Renamo e as Forças Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique.

Ambos iniciaram conversações directas que levaram o chefe de Estado por mais que uma vez ao refúgio do Presidente da Renamo, na Serra da Gorongosa, e que, segundo ambos, estavam bem encaminhadas para se alcançar um novo acordo de paz.

Depois das cerimónias fúnebres públicas na cidade da Beira, os restos mortais de Afonso Dhlakama seguiram para a sua terra natal, Mangunde, cerca de 300 quilómetros a sudoeste da Beira, onde vai ser sepultado nesta quinta-feira.

O Governo moçambicano anunciou na sexta-feira que o presidente da Renamo receberia um funeral oficial (não de Estado) ao abrigo do estatuto de líder da oposição.

O Ministério do Trabalho e Segurança Social indeferiu um pedido da edilidade da Beira que havia requerido a conceção de “tolerância de ponto” na cidade para permitir maior participação dos munícipes na última despedida a Dhlakama.

Dhlakama morreu na quinta-feira, na Serra da Gorongosa, oficialmente na sequência de complicações de saúde.

Redacção

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