Veteranos ilibados

Veteranos – A procuradoria sul-africana confirmou, esta terça-feira (17 de Maio), a retirada do processo criminal envolvendo 53 veteranos militares membros do uMkhonto we Sizwe, acusados de fazer reféns dois ministros, um vice-Ministro e um par de guarda-costas, em Outubro de 2021o ano passado.

O enredo começou na noite de 14 de Outubro de 2021, quando, no decurso de uma reunião negocial com uma equipa governamental e perante falta de consenso, os veteranos militares impediram a saída da sala de reuniões de 26 pessoas, incluindo a ministra da Defesa, Thandi Modisse, o ministro na Presidência (Mondli Gungubele) e o então vice-ministro da Defesa (Thabang Makwetla) e ainda dois guarda-costas.

Durante três horas estes dirigentes estiveram nas “mãos” dos comrades, que exigiam falar com o presidente Matamela Cyril Ramaphosa ou o seu vice, David Mabuza.

Os comrades do uMkhonto we Sizwe reivindicavam o pagamento de compensações na ordem de dois milhões de rands (o equivalente a 7.891,620 meticais ao câmbio oficial actual) para cada um, pelo seu contributo na luta de libertação da África do Sul do sistema de segregação racial, vulgo apartheid.

Foi necessária a intervenção de várias unidades da polícia para libertar os ministros feitos reféns, numa acção que culminou com o ferimento de três pessoas e a detenção de 56 veteranos militares.

Feito o rastreiro mais cuidado, ficaram 53 indivíduos como detidos, uma vez que se concluiu que três dos suspeitos/detidos eram funcionários do hotel onde decorria a reunião.

Os 53 membros do uMkhonto we Sizwe seriam acusados de conspiração para cometer sequestro. Na época, o Estado sul-africano ponderou adicionar acusações relacionadas com o terrorismo, facto que não viria a acontecer.

Assessorados juridicamente pelo advogado Dali Mpofu, o mesmo que defende Jacob Gedleyihlekisa Zuma (https://redactormz.com/mais-um-adiamento/) , os 53 acusados [um deles acabou morrendo vítima de doença] viriam a ser libertos sob fiança.

O primeiro sinal da viragem do caso aconteceu semana passada quando o vice-presidente David Mabuza anunciou que centenas de veteranos militares vão receber as suas tão esperadas pensões.

Na ocasião, Mabuza terá dito que “estamos entusiasmados que finalmente os obstáculos que nos impediam de prestar os serviços necessários aos veteranos militares foram superados”, sinais estes interpretados por alguns analistas como “jogadas políticas” do presidente Ramaphosa, na sua corrida por mais um mandato como chefe de Estado.

Esta terça-feira, Lumka Mahanjana, da Procuradoria sul-africana, confirmou que o caso foi retirado “após as representações bem-sucedidas dos acusados”.

Analistas ouvido pelo Redactor na África do Sul não descartam a possibilidade de esta empreitada fazer parte da estratégia de Ramaphosa para conseguir um segundo mandato, no seio do ANC, sem grandes obstáculos, decisão que poderá ser tomada já em Dezembro deste 2022

O uMkhonto we Sizwe, ou MK, que em língua zulu significa “a Lança da Nação” foi criado pelo então líder juvenil do Congresso Nacional Africano (ANC) Nelson Rolihlahla Mandela, em 16 de Dezembro de 1961, como braço armado desta organização política que lutava contra o apartheid na África do Sul.

Oficialmente, o uMkhonto we Sizwe deu como “suspensas” as suas actividades armadas no dia 11 de Agosto de 1990.

RAULINA TAIMO, Correspondente na África do Sul

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