Ganizane, a “estrela”

Ganizane  – Para muitos, pouco ou nada, até hoje, diz este nome: Ganizane Marcelino Melo Quembo, jovem que no próximo dia 20 de Julho vai colher a décima sexta rosa primaveril.

Quis o destino que nascesse numa das regiões mais conhecidas, pelo menos pelo nome, de Moçambique: Maríngwè, um local para muitos moçambicanos de triste memória, na província central moçambicana de Sofala.

Com deficiência visual, cedo perdeu o pai e a mãe dele se apartou, deixando-o ao relento já no povoado de Vinho, no distrito de Nhamatanda, também na província de Sofala.

Desamparado, foi acolhido pelo agricultor Baltazar Bonjesse, também aldeão da comunidade de Vinho, passando a dar-lhe idêntico tratamento aos seus filhos, como faz com outros meninos abandonados na zona.

Em 2014, numa das suas idas a Vinho para apoiar a comunidade local, com estatuto de “zona tampão” do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), o responsável de Comunicacao e Imagem desta estância turística, Vasco Galante, se deparou com um menino “perdido e isolado” no meio de gente alegre e frenética, cada um ao seu jeito e com os seus afazeres.

Homem de coração mole e sentimento humano profundo Galante se abeirou do miúdo e deu conta de que estava diante de um adolescente incapaz, por causa da deficiência na visão.

Ganizane, ao lado da sua “irmã” e confidente, a jornalista Luísa Bonjesse

Sentido, Galante, com a ajuda de Helena Freitas, professora da Universidade de Coimbra que é também como a nova directora do Parque de Serralves, tentaram, localmente – em hospitais de Chimoio e Beira -, mas sem sucesso resolver o problema de Ganizane.

Mesmo assim, ninguém atirou a toalha ao chão. Ganizane, que repete louvores ao “papá” Baltazar Bonjesse, mostrou a sua disposição de lutar pela cura,

Galante e o PNG tudo fizeram para inscrever o jovem numa instituição especializada para aprender a ler e a escrever. O instituto de Desenvolvimento de Deficientes Visuais (IDV), o único existente em Moçambique para tal, concretamente na cidade da Beira, foi para onde seguiu o jovem Ganizane.

Tudo corria lindamente, Ganizane já sabia ler em braile e escrever, mesmo nos telemómeis, mas, associado à gestão pouco criteriosa e outros problemas internos na instituição – incluindo mortes ainda por esclarecer – que ditaram a suspensão dos apoios em 2018, veio a maldita covid-19 e em 2021 o IDV não mais podia avançar e teve de suspender as actividades, deixando dezenas de internos numa situação indefinida, até hoje.

Sabe o Redactor que o IDV, fundado pelo luso Assis Milton, em 1969 e nacionalizado em 1976, tinha como principal patrocinador a Cooperação Portuguesa que, só entre 2011 e 2015, disponibilizou um financiamento de 850 mil euros (cerca de 56.695.000 MZN ao câmbio actual).

Hoje sob a tutela do Ministério da Mulher e Acção Social, o IDV é executado pela Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e inclui a Escola Primária Completa provenientes de todo o Moçambique.

É aqui onde a covid-19 surpreendeu Ganizane, hoje “desocupado”, e cujos vídeos, cantando, impressionaram Peter Hendrick Vrooman, o embaixador dos Estados Unidos da América em Moçambique.

Peter Vrooman não pensou muito e convidou Ganizane para hoje, 30 de Junho, ser ele, Ganizane Marcelino Melo Quembo, a entoar o Hino Nacional de Moçambique, por ocasião da festa do Dia nacional dos Estados Unidos da América, que se assinala oficialmente a 04 de Julho.

Ganizane, sempre sorridente e se declarando “muito satisfeito por estar na capital” viajou de Nhamatanda para Maputo acompanhada pela sua “irmã” e confidente, a jornalista Luísa Bonjesse.

Sem dúvidas que doravante Ganizane Marcelino Melo Quembo, jovem persistente e que sonha em, um dia, abrir uma escola para leccionar aulas de Inglês, não mais será aquele “puto” de Nhamatanda apenas, mas um jovem do mundo, um exemplo de auto superação para muitos que acreditam que a deficiência é uma “guia de marcha” incontornável para a indigência.

“Apenas ando triste porque a minha escola [IDV] – onde também estudou o deputado Esaú Menezes – está fechada. Gostaria de prosseguir os estudos para concretizar esse meu sonho e só posso dizer que estou com muitas saudades do futuro”, diz o jovem Ganizane Quembo, em entrevista ao Redactor num dos hotéis da zona nobre da cidade de Maputo, ao lado da sua “irmã” Luísa Bonjesse.

Redactor

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