Genoveva Madivádua
Genoveva Madivádua, médica oncologista moçambicana, fala dos perigos da fumaça e enfatiza que os fumantes têm risco elevado de desenvolver cancro.
O alerta é de Genoveva Madivádua, médica oncologista afecta ao Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade sanitária do país. De acordo com a especialista, fumo é um dos principais factores de risco para o desenvolvimento de doenças cancerígenas, com destaque para o cancro de pulmão.
Não é para menos. De acordo com Genoveva Madivádua, o fumo do cigarro contém um número elevado de substâncias cancerígenas. Trata-se de substâncias que podem provocar cancro. “Só para ter uma noção, existem mais ou menos 45 cancerígenos”, afirma a médica oncologista.
Mas, segundo ela, no cigarro, não só existem carcinogéneos, mas também a nicotina, que é um agente psico-activo, que provoca dependência física e psicológica. Mas é o fumo de cigarro que constitui o principal factor de risco para causar a doença de cancro, principalmente o de pulmão.
“Para o cancro do pulmão, ele (o fumo) pode criar uma situação de risco em 90%”, disse, enfatizando que, para além do cancro do pulmão, o fumo pode causar outras doenças cancerígenas, com destaque para o cancro de cabeça e pescoço, de esófago, pâncreas, rim e cancro de bexiga.
Embora em Moçambique a maioria dos cancros esteja associada a agentes infecciosos (vírus e bactérias), a médica chama atenção.
“Não quer dizer que não existam essas doenças (cancros causados por consumo de cigarro) ”, anota.
Questionada por quê as pessoas continuam a fumar, mesmo que cientificamente comprovado o elevado grau de prejuízos, a médica entende que os fumantes consomem cigarro de forma recreativa e para aliviar o stress.
Novos produtos de tabaco: ter menos riscos não é ser isento
As afirmações da médica oncologista Genoveva Madivádua surgem numa altura em que o mundo debate a transição da fumaça para os chamados produtos de risco reduzido, como o cigarro electrónico. Entretanto, a utilização dos novos dispositivos para o consumo de tabaco tornou-se numa “guerra aberta” entre a indústria tabaqueira e o sector de saúde.
Para a indústria, usar dispositivos como o cigarro electrónico é o melhor que há para os fumantes que, de outra forma, não conseguem parar de fumar. É entendimento da indústria que só assim, com a cessação da fumaça, pode se evitar ou, pelo menos, reduzir os milhares de doenças e mortes que se assistem, todos os anos, à escala global, devido à queima de tabaco.
Mas, para as autoridades sanitárias, a melhor saída continua a ser parar de fumar, porque os novos produtos não reduzem completamente, os riscos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, está entre as vozes que afirmam que as alternativas ao cigarro são tão prejudiciais quanto o cigarro, principalmente para os jovens. Para as organizações e profissionais que se opõem às alternativas apresentadas pela indústria tabaqueira, os adolescentes que experimentaram esses dispositivos de nicotina são mais propensos a passar a fumar cigarros.
Contudo, este argumento de saúde pública não é consensual também no seio da própria classe médica, havendo, um pouco por todo o mundo, renomados profissionais da área que advogam o uso dos chamados produtos de risco reduzido, por entenderem que já há evidência científica suficiente a provar que o problema do tabagismo é a combustão, e que os novos dispositivos são o método mais eficaz para parar de fumar e são quase inofensivos.
“Não estão isentos de riscos”.
De Moçambique, mais uma voz do sector da saúde a recomendar cautela no uso dos novos produtos para a ingestão de tabaco, como é o caso do cigarro electrónico. Para Genoveva Madivádua, ter menos efeitos prejudiciais à saúde não significa, necessariamente, ser inofensivo.
A médica começa por ir à literatura para referir que o cigarro electrónico, também chamado e-cigarro, é um dispositivo de bateria que simula experiência de um cigarro comum. Supostamente, prossegue, esse cigarro surgiu para minimizar riscos à saúde porquanto contém apenas vapores de nicotina, mas sem agentes carcinogéneos, ou seja, substâncias que podem provocar doença de cancro, bem como outras substâncias igualmente nocivas, que incluem alcatrão e fumo.
Mesmo assim, a especialista tem um porém. “Ter esses menos riscos de existência de carcinogéneos, não quer dizer que está isento de riscos”, afirma.
Contudo, a médica admite que produtos como o cigarro electrónico têm algumas vantagens, comparativamente com o cigarro tradicional.
“Têm menos substâncias químicas e tóxicas; não deixam dentes amarelados; não provocam cheiro; são menos poluentes”, exemplifica. Mas a médica anota que o comércio de dispositivos electrónicos carece, ainda, de regulamentação para garantir a procedência, a qualidade e segurança de consumidores que optam por essas alternativas
Legislar e sensibilizar
Para esta profissional, uma das formas de lidar com a fumaça é promover legislação adequada e consciencialização pública em relação aos perigos de tabaco. Sobre a legislação, destaca o facto de Moçambique ter aprovado, em 2016, a ratificação da Convenção Quadro da OMS para o Controlo do Tabaco (CQCT). Trata-se de um Tratado que tem como objectivo proteger as gerações presentes e futuras dos efeitos sanitários, sociais, ambientais e económicos devastadores causados pelo consumo e pela exposição ao fumo do tabaco.
As áreas cobertas pelo Tratado incluem a redução da demanda aos produtos do tabaco, redução das fontes de produtos de tabaco, redução da dependência e promoção da cessação do consumo de tabaco.
Mas, em 2007, Moçambique também aprovou o decreto 11/2007, de 30 de Maio, que regula o consumo e comercialização de tabaco, no país. Genoveva Madivádua aponta como exemplos dos ganhos da legislação o facto de em grande parte de locais públicos, incluindo aeroportos, não ser permitido fumar, bem como exigências aos proprietários das casas de pasto no sentido de criarem espaços específicos para fumadores e não fumadores, o que acaba protegendo estes últimos da inalação de fumo de forma passiva.
Mas, para a médica oncologista, essas medidas devem ser acompanhadas por campanhas de consciencialização pública em relação aos perigos de tabaco, para além de outras medidas como redução de fontes de produtos de tabaco e redução de dependência que promova a cessação do tabagismo.
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