A estrada colorida

Era uma vez, na cidade da Matola, uma estrada que ligava o centro urbano aos bairros mais afastados. Essa estrada era conhecida como a “estrada do bairro de Nkobe” e era famosa por um problema recorrente: os buracos. Havia os que surgiam depois das chuvas e os que já moravam por ali há alguns anos, podendo ser considerados os veteranos dos buracos.

Os moradores do bairro não se acostumavam à situação, pois, para além de gastos enormes que tinham para consertar as suas viaturas que eram danificadas pelos buracos, também sofriam com a beleza que era tirada dos seus bairros pelos mesmos, desvalorizando as suas propriedades. Inconformados, em vão, já tinham tentado diversas soluções.

Contudo, todos os anos, após o período chuvoso, a situação só piorava. Infalível e invariavelmente, o munícipe é cobrado para resolver o problema dos buracos na estrada. A cada cinco anos, diferentes políticos alimentam esperança naquela população e prometem nas suas campanhas pôr fim definitivo ao problema. Contudo, tudo não passava de promessas vãs.

Um dia, o bairro foi visitado por um forasteiro que chegou à cidade. Era um homem misterioso, com um olhar sábio e uma barba negra, com alguns toques brancos, trajava um uniforme militar completo, incluindo o chapéu que era verde.

O homem, cujo nome tinha seis letras e falava sempre com o dedo indicador no ar, se apresentou como o Contador de Histórias e disse que tinha uma solução para os buracos na estrada.

Os moradores, embora cansados de promessas feitas por outros, estavam curiosos e de alguma forma sentiam-se compelidos em ouvir a ideia daquele homem misterioso que parecia familiar a toda a gente, se reuniram no pátio de uma escola que ficava à beira da estrada, para ouvir o que o Contador de Histórias tinha a dizer.

Ele subiu num pequeno palco improvisado e começou a contar a sua história. “Há muitos anos, em uma terra distante, existia uma cidade que também sofria com os buracos na estrada depois da chuva. Os moradores dessa cidade eram muito sábios e decidiram resolver o problema de uma forma diferente. Em vez de apenas tapar os buracos, eles decidiram transformá-los em algo bonito e útil”.

Os moradores do bairro ouviam atentamente, intrigados com a história do Contador de Histórias. Ele continuou: “Eles criaram um projecto chamado ‘Buracos Floridos’. Cada buraco na estrada foi transformado em um pequeno jardim, cheio de flores coloridas. Assim, toda vez que chovesse e os buracos apareciam, a estrada enchia-se de vida e cor”.

O Contador de Histórias concluiu a sua narrativa dizendo: “A solução para os buracos na estrada depois da chuva está em transformá-los em algo belo. Em vez de reclamar, vamos nos unir e criar os ‘Buracos Floridos’ no nosso bairro. Cada morador deve adoptar o buraco que está em frente da sua casa e plantar lá flores ou árvores de fruta. Desse jeito, não só se renova a esperança, como também se resolve o problema dos buracos”.

E foi desta forma que o bairro finalmente resolveu o problema dos buracos, para além de se ter tornado num lugar mais bonito e agradável de se viver. 

Talvez o buraco que insiste em aparecer na estrada seja apenas uma oportunidade para vermos o mundo de forma diferente, talvez devemos parar de nos importar com as taxas que pagamos para o conserto das estradas, recolha de lixo, taxas de inspecção de viaturas que são sempre danificadas naqueles cenários e simplesmente plantar flores e árvores, se calhar o problema seja nosso e não do governo, se calhar, reclamamos demais.

Não deve ser fácil acordar todos os dias, às 07h00, ver os homens da escolta a afastarem o cidadão comum da estrada para que cheguemos a tempo ao escritório, para ler o jornal, tomar o café e gritar ordens aos subordinados, enquanto aproveitamos o ar condicionado nos 16 graus. Talvez o cidadão tenha de se colocar na sua pele e começar a plantar flores, pelo menos o mundo fica mais bonito.

STÉLVIO MARTINS

Este artigo foi publicado intitulado “Solidariedade social” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 15 de Janeiro de 2024, na rubrica OPINIÃO.

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