A moradia vedada
Um homem construiu a sua residência e mobilou-a a seu gosto com o objectivo de sentir-se muito cómodo nos seus aposentos.
Os dias são diferentes, por isso o homem decidiu, um belo dia, “tomar ar fora do habitual”, na companhia dos seus conhecidos, amigos e próximos, preferencialmente os de bairro distante do seu. Afinal ninguém é forçado a ter amizades que não lhe fazem bem. Assim, o patrão escolheu o plantel que melhor acomodava as suas necessidades.
O tempo passou normalmente. A conversa fluía, planos de negócios e outros pontos não fugiam da agenda improvisada. Foi mesmo um encontro que paralisou o restaurante escolhido.
Comia-se e bebia-se do melhor. As iguarias menos degustadas pelos outros é o que mais se pedia, marcava-se assim a diferença entre os ocupantes das diversas mesas, com direito à leitura de jornal, o que deixava mais especial o ambiente do dia.
Ao anoitecer, os convivas foram um a um recolhendo aos seus aposentos. O anfitrião permaneceu no local, afinal o dia estava animado. Por coincidência, não estava de carro e o seu telemóvel tinha ficado sem carga. Ao aperceberem-se que o “patrão” não estava de carro, alguns amigos seus ofereceram-se para acompanhá-lo à casa, mas a renitência tem sido permanente em certas pessoas. “Vão que me viro”, disse o famoso, com a cara esfarrapada e adormecendo na mesa.
“Boa noite, pai!”, saudou um dos trabalhadores daquele magnífico local de lazer. “Peço para pagar a conta. Estamos para fechar o restaurante”, solicitou o jovem humildemente. Pagou a despesa e ainda deu gorjeta por ter sido bem atendido.
De regresso à casa, a caminhada tornou-se longa. Ao ziguezaguear, enchia a rua. O cigarro que trazia na mão era a sua única companhia. São e salvo, o homem chegou à sua casa, mas tinha dificuldades de entrar porque não trazia as chaves do imóvel, o que mais o deixou tenso, para além do telefone cuja bateria descarregou pelo uso excessivo durante o encontro de negócios.
Gritou com insistência pedindo licença na sua própria casa, mas ninguém o ouvia, porque tinham ligado o aparelho sonoro, o que complicava ainda mais a comunicação entre os membros daquela família.
O mais agravante é que a porta era de madeira revestida de borracha por dentro e estava gradeada, por isso era difícil abri-la por fora. “Os vizinhos só lamentavam” entre eles. Um deles sugeriu que o homem ligasse para um dos membros da família, mas o embriagado estava com o telefone desligado por não ter carga.
Surgiu a ideia de saltar o muro para solicitar que alguém abrisse a porta. A sugestão não passou disso, porque a casa era guarnecida por cães de diferentes raças. Goradas todas as tentativas, o homem teve de guarnecer a sua residência por motivos de força maior.
A vizinhança não tinha como acomodá-lo, pois não havia comunicação entre os residentes do quarteirão por ele ser temido no bairro. Foi um dia azarado para o proprietário da residência. Em sua protecção, apesar de contrariados, alguns ficaram de plantão, de modo a evitar o pior.
A família estava preocupada, mas não tinha a quem recorrer àquela hora. A aflição tirou-lhes o sono, apesar de a causa estar do outro lado do muro.
As pessoas ao seu redor tentavam encontrar formas para melhor conviverem, mas o achar da cidadania leva o homem a costurar comportamentos de acordo com as suas atitudes.
Lembre-se, a disciplina e a consciência estão relacionadas no sentido de que a disciplina gera consciência, devendo cada um pensar em si e seus próximos antes de qualquer acção. Independentemente do lugar onde você vive, saiba que faz parte da sociedade e tem a responsabilidade de ajudar aos outros e melhorar o estado da comunidade e do mundo que nos circunda. “Alguns conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas não sabem quase nada sobre o mundo que são”.
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 28 de Setembro de 2023, na rubrica de opinião.
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