Oportunidade para saúde pública, reduzindo risco de tabaco

O uso de produtos inovadores para a redução de riscos associados ao consumo de tabaco continua a ser um tema do momento. Numa sessão intitulada “ciência e redução de danos”, no início deste mês de Setembro, especialistas do sector voltaram a defender a necessidade de o mundo, incluindo países africanos, trabalharem arduamente, com base em evidências, para conter este que é um dos maiores problemas dos nossos tempos. 

Um dos oradores desta sessão foi o director da Counter Factual, uma consultora focada na promoção da saúde pública. Com longa carreira nos esforços contra danos causados pelo tabaco, quer no sector público, como no privado, Clives Bates centrou a sua apresentação na importância de produtos sem fumo. Começou por dar uma fotografia geral do problema, referindo que, anualmente, o tabagismo mata, prematuramente, cerca de oito milhões de pessoas, acima da obesidade, alcoolismo, acidentes de viação, mau uso de drogas e HIV, combinados. A catástrofe causada pela fumaça, explicou, só é comparável aos estragos causados pela Covid-19, num espaço de um ano.

De acordo com o especialista do Reino Unido, o tabaco provoca várias doenças, tais como como cancro e complicações cardiovasculares. É isso, continuou, que justifica a existência de todo um movimento de controlo dos danos causados pelo tabaco. Para Clives Bates, embora África tenha uma baixa prevalência do fenómeno, ele vai crescer devido ao rápido crescimento populacional no continente, pelo que os países desta parte do mundo precisam de priorizar esta como uma das maiores agendas do momento.

À procura da nicotina

De acordo com este especialista em redução de danos associados ao consumo de tabaco, quando fumam, o que as pessoas realmente procuram é a nicotina, mas elas acabam morrendo não devido a esta substância em si, mas pelas substâncias tóxicas contidas nos cigarros. Segundo Clives Bates, nos seres humanos, a nicotina contida no tabaco induz a estímulos e prazer, enquanto reduz estresse e ansiedade.

Por isso, os fumantes usam a nicotina para, entre outros, controlar seu estado de humor. Mas a nicotina também pode melhorar a performance na atenção e mecanismos de resposta e melhorar a sua memória, acrescentou. Por isso, disse, gostemos ou não, a procura pela nicotina é um facto e é forte.

Aliás, para a fonte, temos de estar claros de que a nicotina é uma droga que até tem potencial medicinal, ressaltando que não está em hipótese, pelo menos brevemente, falarmos de uma sociedade livre de nicotina. Como tal, a questão é como providenciar a nicotina de forma mais segura.

Oportunidade para a saúde pública

Face a esta problemática, Bates afirmou que com os desenvolvimentos tecnológicos, hoje há um leque de produtos que podem dar, às pessoas, a nicotina, mas sem combustão ou fumaça. De facto, os produtos de risco reduzido também fornecem nicotina. A diferença é que eles o fazem sem queima de tabaco. De acordo com o especialista, há várias evidências que mostram como estes produtos reduzem, significativamente, o risco. “Quando as pessoas se mudam para estes produtos, estão muito menos expostas a todos os tóxicos prejudiciais que estão associados à fumaça”, sublinhou.

Bates recorreu a estudos para enfatizar que, embora não seja possível quantificar com precisão, os riscos associados aos dispositivos electrónicos, por exemplo, os dados mostram ser improvável que ultrapassem a 5% dos riscos associados à fumaça, acrescentando que, na verdade, esses riscos possam ser ainda mais baixos.

Para a fonte, isto deve ser visto como uma grande oportunidade, particularmente para as pessoas que não querem ou não conseguem parar de fumar ou que sejam dependentes de nicotina. Para essas pessoas, entende, migrar para as novas formas, de risco reduzido, será muito mais fácil do que pedir-lhes a pararem completamente. “Sair da fumaça para uma absoluta abstinência, será muito difícil”, admitiu, apontando as novas formas de consumo de tabaco como a alternativa mais viável.

Com a evolução tecnológica, a fonte é optimista quanto ao fim da fumaça, um problema responsável por milhares de mortes anualmente. Aqui, uma vez mais, recorreu à ciência para mostrar que os novos produtos alternativos para o fornecimento de nicotina têm o potencial de abalar 120 anos de dominação do cigarro, que poderá ficar obsoleto. “Não teremos mais essa dominação no futuro”, referiu, mencionando estudos que mostram tendência decrescente do uso de cigarros, à medida que se usam as novas tecnologias, de risco reduzido.

Com estas vantagens, questiona por que as pessoas não podem migrar se podem ter a mesma nicotina, mas em produtos menos prejudiciais, mais limpos e baratos. No entanto, reconhece que nem sempre é um processo fácil, admitindo que, em alguns momentos, isso leva tempo. Mas é da opinião de que deve haver políticas, mecanismos e regulação que permitam que pessoas abandonem a fumaça e abracem as novas formas de risco reduzido. Por isso, critica medidas como a proibição de comercialização desses produtos, que, pelo contrário, poderão levar as pessoas a mais fumaça. Para Clives Bates, tem de se tirar proveito do que está a assistir, na indústria tabaqueira, que não é mais que uma transição tecnológica, tal como há carros que saíram de motor de combustão para um motor eléctrico.

Legislar em prol da saúde pública

Quem na sessão do início deste mês também defendeu abordagens que abracem os produtos de risco reduzido foi o oftalmologista Kgosi Letlape. Debruçando-se especificamente sobre a regulamentação de políticas e ciência por detrás da redução dos danos do tabaco, Letlape, que é o presidente da Associação Médica de África e presidente dos Conselhos Médicos da África, lamentou que, nos países africanos, em particular, não haja o que designou por políticas relevantes ou modernas sobre o tabaco.

O activista sobre a redução de danos associados ao tabaco falou de uma situação horrível de proibição de produtos em alguns países africanos, o que comparou com um manifesto de uma instituição religiosa. O especialista, que assinala que o problema central é a combustão, entende que os esforços de banimento da nicotina em todas as suas formas são inaceitáveis.

Por isso, defende a necessidade de se advogar por políticas baseadas em ciência e não em crenças. Com efeito, disse, é preciso abraçar os princípios de redução de riscos e aplicá-los completamente no uso de tabaco.

Nesses esforços, argumentou o especialista sul-africano, é preciso, também, o engajamento da indústria tabaqueira porquanto não poderá haver solução se não se envolver os causadores do problema. Como tal, a indústria deve ser encorajada a migrar de produtos combustíveis para os de risco reduzido.

Mais ainda, é preciso criar-se legislação que melhore o acesso a estes produtos e a informação. De acordo com Letlape, claro que a melhor solução é parar de fumar. Mas se alguém não pode parar de fumar, que use os produtos de risco reduzido. Enfatizou que a redução de riscos deve ser parte de tudo o que é feito e qualquer legislação deve abraçar este princípio.

Infelizmente, lamentou, a Convenção-Quadro para o Controlo do Tabaco da Organização Mundial da Saúde está desactualizada e completamente inapropriada para as tecnologias que foram surgindo no sector, pelo que é preciso criar mecanismos para regular essas medidas e é isso que deve informar os fazedores e implementadores de políticas.

No entendimento do especialista, os governos devem fazer políticas baseadas no que se sabe e não no que não se sabe, havendo necessidade de se parar com a promoção do medo, através do que chamou de mentiras e ignorância, tal é o caso de fazer pensar, às pessoas, que as medidas de risco reduzido são tão perigosas como o tabagismo ou, ainda mais, piores que os cigarros.

PMI

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