Colheita macabra

Colheita macabra: Espero não ser mal interpretado.

As nossas estradas têm sido exageradamente regadas de sangue de filhos inocentes deste país e não só. Mas, por mais doloroso que seja admiti-lo, estamos ainda em fase de início de colheita de “frutos” que parte da nossa sociedade plant(a)ou, ao longo de anos: corrupção, irresponsabilidade e impunidade.

Não é segredo para ninguém que supostos instrutores de condução desonestos transformaram, há muito, escolas de condução em “dumba-nengues” onde resolvem os seus problemas financeiros. Não falta(ra)m denúncias e alertas sobre isso, mas quem de direito assobi(a)ou para o lado.

Digo supostos instrutores porque alguns desses estupores nem sequer deviam ser admitidos a passar pelas imediações das escolas de condução, muito menos lá entrar e exercer o papel de formador de condutores de veículos automóveis.

Não é segredo para ninguém que agentes da Polícia de Trânsito (PT) desonestos transformaram, há muito, rodovias moçambicanas em “dumba-nengues” onde resolvem os seus problemas financeiros. Não falta(ra)m denúncias e alertas sobre isso, mas quem de direito assobi(a)ou para o lado.

E, para embrutecer ainda mais o “zé-povinho”, quando entendem, alguns (des)governantes e elementos da PT entregam-se a algumas acções mais ou menos espectaculares, na via pública, e para tal contam com a participação/cobertura de alguma media, numa clara demonstração de que o que fazem não passa de uma brincadeira de muito mau gosto, porque para ir ao trabalho nenhum trabalhador sério/honesto convoca a comunicação social. Infelizmente, há quem, alegremente, alinha nessa palhaçada.

Por mais amargo de boca que isto cause, estamos em fase de “kuxa kanema”, porque a verdadeira “longa metragem” ainda está por começar neste Moçambique que alguém um dia apelidou de “pátria de heróis” e de um “povo maravilhoso”, daqui a menos de uma década.

Será que se tem pensado nas consequências, a médio prazo, do nosso actual sistema de ensino, por exemplo? Até já ouvi falar de (132) falsos docentes… só em Nampula (Diário de Moçambique de 20 de Setembro de 2017, pág. 3)!

Assistimos todos, volta e meia, a sessões de “graduação” de “quadros”, alguns desses eventos realizados em pavilhões e/ou estádios de futebol, pelos mais variados centros de “formação”, muitos deles de natureza e conduta duvidosa.

Muitos desses “quadros” contentam-se com o canudo e até festejam, mas, rapidamente, caem na frustração quando se vêem simplesmente inúteis para o mercado de emprego, situação esta claramente criada e fomentada por aqueles que enviam os seus filhos e familiares para se formarem em melhores academias fora de Moçambique e, quando enfermos, pisgam para além-fronteiras em busca de tratamento sanitário adequado, porque sabem que tipo de situação cria(ra)m no Sistema Nacional de Saúde.

E nós, os coitados, estamos, hoje, entre a espada e a espada, transportados como gado, ensinados num sistema de faz-de-conta e, quando doentes, mais de meio caminho andado para a morgue, e eles aí locupletando-se na boa e na larga!

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF da edição de 29 de Setembro de 2017 do jornal Correio da manhã de Moçambique, na rubrica semana TIKU 15!

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