De volta ou às voltas?

De volta ou às voltas? – De entre os mais variados e pomposos epítetos, alguém, um dia, proclamou, de boca cheia, que Moçambique está de volta. Acredito que muitos estarão lembrados.

Se já se disse que Moçambique está firme, “resiliente”, estável e inspira confiança, e alguns duvidaram e até fizeram alguma galhofa, talvez com alguma doze de razão, muitos devem, hoje, e com razões acrescidas, se interrogarem se estará, de facto, este nosso Moçambique, de volta ou às voltas.

Efectivamente, estará, este nosso Moçambique, de volta, ou às voltas, quando, segundo o mais recente relatório da The Economist Intelligence Unit, deixou de ser uma democracia híbrida (aquela que contém elementos dos regimes democráticos e de autoritários) e tornou-se simplesmente num regime autoritário (deixou de conter elementos de uma democracia)?

Quando, em termos de ambiente de negócios, segundo a revista Forbes, o país se afasta cada vez mais dos melhores lugares para os piores…

Jornalistas e analistas desgarrados do regime são perseguidos, raptados, aprisionados, agredidos, assassinados… Redacções de meios de comunicação social privados são arrombadas e equipamentos furtados e nada se esclarece por quem de direito …

Curiosamente, tudo isto sucede quando quem está no poder um dia nos embalou com uma refinada ladainha segundo a qual ele é nosso empregado. O mesmo sujeito disse, na mesma oportunidade, sob aplausos de muitos, não querer que os moçambicanos continuem se aniquilando uns aos outros, que vai valorizar as ideias de todos os extractos da sociedade, etc., etc., mas que na prática o filme em exibição é outro.

Quem quiser que escute, de novo, reveja/releia o seu discurso desse fulano no dia da sua investidura e veja o clamoroso fosso que separa a teoria e a prática quotidiana!

Estará, este país de volta ou às voltas, quando quase todos os meios de comunicação relevantes do mundo falam de Moçambique, pelas piores razões?

Estará, este país de volta ou às voltas, quando um seu ex-ministro e actual deputado da Assembleia da República é detido, de qualquer maneira, em plena viagem, e encarcerado numa cela com mais de 20 detidos “indisciplinados” e alguns dos quais consumidores de substâncias entorpecentes?

Estará, este país de volta ou às voltas, quando um seu ex-ministro e actual deputado é disputado por delinquentes comuns numa cela de um “país irmão e vizinho”, até pedir socorro ao detido-chefe do calabouço e ser acudido por uma juíza?

Estará, este país de volta ou as voltas, quando um seu ex-ministro e actual deputado é detido e nenhuma instituição pública se pronuncia, seja para dizer seja lá o que for? KO ZWE TI TI! (equivalente silencio absoluto!), na minha língua materna, como se fossem presas acossadas, se embrenhando e em apuros.

Estará, este país de volta ou às voltas, quando o respectivo Ministério da Economia e Finanças insiste que vai pagar uma dívida a níveis múltiplos considerada “ilegal”?

Estará, este país de volta ou às voltas, quando o respectivo Ministério da Economia e Finanças continua a pagar “peritos” estrangeiros para negociar as modalidades de pagamento de uma dívida considerada ilegal e nem sequer revela aos contribuintes – donos do dinheiro – quanto estão a custar os serviços prestados por esses tais “peritos”? Não estaremos aqui a ser burlados de forma continuada e múltipla? Porquê tanto apetite em pagar dívidas ilegais?

Vou parar por aqui, mas a lista de suportes das minhas dúvidas é longa e se agudizam as minhas dúvidas sobre se estará, este nosso Moçambique, efectivamente, de volta ou às voltas.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Correio da manhã do dia 11 de Janeiro de 2019 na rubrica semanal TIKU 15!

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