Facções na RENAMO

Facções na RENAMO  – O ambiente é visível e eminentemente turvo no seio da RENAMO, com facções se digladiando na via pública, uma dando o líder eleito no mais recente congresso da organização como legítimo e outra rotulando Ossufo Momade de “traidor” dos ideiais do seu antecessor, o falecido e carismático Afonso Macacho Marceta Dhlakama.

Esta quarta-feira a Renamo convidou a comunicação social para a sua sede nacional basicamente para reiterar que Momade é o presidente legítimo do partido e considerar que a contestação à sua liderança uma ameaça à paz e estabilidade.

Este esforço surge em resposta a uma das facções que em representação de um grupo de guerrilheiros da Renamo,  algures nas matas de Gorongosa também falou para jornalistas, alertando ao Governo para o “risco” de continuar a negociar o processo de paz com Ossufo Momade, rejeitando a sua presidência à frente do partido.

Na primeira reacção a estas ameaças, o porta-voz da Renamo, José Manteigas, declarou que Ossufo Momade é o presidente do partido e que esta força política se distancia da contestação protagonizada por aquele grupo de guerrilheiros.

“O congresso elegeu, com mais de 65% de votos, o general Ossufo Momade como presidente da Renamo, portanto, nós, como partido político, neste momento, temos um presidente”, afirmou Manteigas.

“Ossufo Momade está tranquilo, sereno e concentrado na preparação da sua candidatura e do partido às eleições presidenciais, legislativas e provinciais de 15 de Outubro”, prosseguiu o porta-voz.

“Quando dizem que vão eleger um novo presidente, isto é contra os estatutos, contra as normas internas do partido, daí que a Renamo se distancia deste pronunciamento e queremos aqui e agora dizer que isto é um atentado à paz, à reconciliação nacional e à estabilidade”, acrescentou o porta-voz.

José Manteigas voltou a dizer que os guerrilheiros que contestam Ossufo Momade são desertores e que alguns regressaram às bases da Renamo onde estão, de novo, às ordens do presidente do partido.

“Alguns elementos do grupo já estão na base, deixaram o senhor [Mariano Nhungue, o rosto da contestação] e voltaram para se juntar ao nosso estado maior-general”, referiu Manteigas.

O grupo de militares da Renamo vêm exigindo a demissão de Ossufo Momade desde início de Junho, acusando-o de estar a destruir o partido e ameaçando-o de morte.

“Esses companheiros militaram na Renamo por vários anos, não se compreende que, num momento crucial das eleições, mudem de convicções, do seu ideal de luta que sempre defenderam, portanto, acreditamos que há uma conspiração, que há um mandante”, declarou Manteigas.

No comunicado em que contesta Ossufo Momade, lido pelo major-general Mariano Nhungue, o grupo de guerrilheiros da Renamo afirma que, se o Governo continuar a negociar a paz com a atual direcção do partido, haverá consequências para a população.

“Queremos apelar ao Governo, na pessoa do Presidente moçambicano [Filipe Nyusi], para interromper o diálogo com Ossufo Momade, caso insistam, as consequências podem cair para o povo moçambicano”, escreve-se no comunicado lido perante jornalistas por um integrante de um grupo de soldados da RENAMO algures em Gorongosa, província de Sofala, no centro de Moçambique.

O grupo, liderado por Mariano Nhungue e que se autodenomina Junta Militar da Renamo, considera que Ossufo Momade já não é líder daquela força, acusando-o de estar a “raptar e isolar” oficiais da organização que estiveram sempre ao lado do finando presidente do partido, Afonso Dhlakama, morto no dia 03 de Maio de 2018, oficialmente vítima de doença.

“Apelamos ao público moçambicano e ao Grupo de Contacto da comunidade internacional nas negociações para pautarem pela calma, porque a Junta Militar da Renamo vai anunciar brevemente medidas exequíveis e que permitam o bom andamento do processo político de paz”, advertem os elementos da Junta Militar da RENAMO.

Facções era coisa quase impensável nos tempos de Dhlakama, se bem que em algum momento surgiam aí e acolá vozes discordantes, tendo a de Janota Chapepa sido uma das mais ruidosas, mas que não foi por aí além.

Redacção

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *