Filipe Nyusi ofende Beira

Filipe Nyusi, Presidente da República e do partido Frelimo, falando, na Cidade da Matola, na abertura do IV Encontro Nacional da Juventude, disse que os financiadores dos bandidos que andam a semear luto e terror, em Cabo Delgado, estão na Beira. Uma afirmação deste tipo, a sair de um chefe de Estado é muito grave.

Nyusi tem todos os meios ao seu alcance para mandar capturar e submeter ao Ministério Público indivíduos que espalham sangue no nosso país. Um comandante-chefe das forças de defesa e segurança do Estado, que se orgulhe, não deve divulgar informações tão sensíveis como esta, supondo que seja verdadeira, em qualquer lugar nem partilhar com qualquer pessoa. Filipe Nyusi ao falar deste assunto em público, do modo como o fez, conclui-se de que se trata de um simples contador de anedotas, por isso, não deve ser levado a sério.

A doutrina militar ensina que uma informação sigilosa não é nem deve ser partilhada em banjas ou comícios. Nem mesmo soldados aquartelados têm acesso a informações desta índole que Nyusi anda a espalhar aos quatro ventos. Um comandante de mão cheia dá ordem de combate às chefias dos respectivos comandos e não aos praças nem ao povo.

Esse procedimento ocorre em lugares fechados e não em salas de conferências, climatizadas, rodeadas de flores e manjares.  No mínimo, pode-se dizer que Filipe Nyusi seja apenas um brincalhão que não olha a meios para atingir seus fins ou um contador de anedotas. Os militares dos nossos tempos sabiam que uma informação desse tipo não era do domínio de todos porque, se o for, compromete, de forma grave, as operações militares. As coisas mudaram muito. Tudo se fala ao megafone e na praça pública, talvez, seja para afugentar os maus espíritos que perseguem alguns dos nossos políticos.

Filipe Nyusi tem à sua disposição a contra-inteligemcia militar, da polícia e do SISE que devem ter todas as informações sobre as actividades dos grupos do Al-Shabab, sabem quem lhes dá apoios e quem são os seus financiadores. Socorrendo-se desses serviços, pode-se evitar encenações baratas, descabidas e desconexas. Se todos esses serviços não dão ao seu comandante-chefe informações bastantes, as respectivas chefias deveriam ser exoneradas por incompetência declarada. Se o comandante-chefe tem essas informações ao seu alcance e não faz uso delas, a questão é de outra índole.  Se for o caso, então, podemos entender a atrapalhação de Nyusi de trocar os pés pelas mãos.

Não se toca trombeta que a polícia vai prender fulano ou sicrano. Tendo informações que indiciem à pratica de crime, a polícia deve prender, o Ministério Público deve acusar e os tribunais julgam. Esta é a cadeia do comando de um Estado de Direito. Queremos acreditar que Nyusi não segue as informações que lhe chegam às mãos. Ele prefere agir com base em emoções, por isso, cai no ridículo de acusar pessoas sem fundamento. Dizer que há empresários que apoiam bandidos e parar por aí, é muito mau e grave. De que fica à espera o Ministério Público? Fica a assistir empresários a abastecerem a bandidos e assassinos? Alguém está errado – o Ministério Público ou o Presidente Nyusi.

Nyusi está errado. Anda a espalhar confusão nas pessoas. Nenhum empresário pode continuar sereno, investindo seu dinheiro num país onde o próprio chefe de Estado levanta suspeitas sobre a gente. Ao agir desse modo, Nyusi deixa de inspirar confiança. Não estamos no tempo em que se prende para investigar. A investigação não decorre com o indiciado em cadeia. Nem a acusação deve decorrer em comícios populares, seminários, debates ou workshops. Isso revela um grande défice de seriedade.

Os procedimentos em Estado de Direito são diferentes dos seguidos em Estado totalitário, como o que tivemos a seguir à independência, em que a simples suspeita do presidente era suficiente para alguém ser preso, torturado deportado ou até morto. Hoje o chefe de Estado não tem prerrogativas para mandar prender nem torturar. O que temos vindo a assistir, em particular, nas zonas rurais, é anormal e uma verdadeira aberração de como um Estado de Direito deve funcionar. Em Estado totalitário, basta o chefe e seus amigos acharem que o fulano é inimigo, para ser logo tramado.

Para quem anda atento à vida política nacional, já se deve ter apercebido de que este é o modus faciendi de Nyusi de alimentar suspeitas. Há uns meses circularam informações segundo as quais as mesquitas estariam sob monitoria, suspeitas de abrigarem elementos perigosos.  Essa medida deve ter deixado muçulmanos desconfortados. Até ao que se sabe, a religião islâmica é, na sua essência, pela paz. Isso de vigiar igrejas, mesquitas e sinagogas só faz recordar métodos de um comunismo ortodoxo, antiquado, anacrônico e ultrapassado que só divide as comunidades e enfraquecer a sociedade.

Nyusi, na qualidade de Chefe de Estado, deveria ser um ponto de equilíbrio e não um fala-barato que ofende pessoas de qualquer maneira e fomenta discórdias. Já havia dito algo semelhante que os financiadores dos bandidos estão presos em todas as províncias. Onde estão presos? Em que cadeia se estão? Agora virou os seus holofotes para Beira.

EDWIN HOUNNOU

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 05 de Setembro de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO

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