João Matola não era …

João Matola – Muito já se disse e se escreveu em diversas plataformas sobre o João Matola, que deixou o mundo dos vivos na passada quinta-feira, 29 de Julho deste 2021.

Porque o conheci e com ele convivi, profundamente, aqui e agora deixo, também, o meu testemunho sobre este maronga.

Começarei por deixar bem claro que João Matola não era meu amigo.

Quem me conhece sabe que não sou de muitas amizades, muito menos daquelas ditas “virtuais”… Prefiro poucas, mas sinceras, reais e verdadeiras.

Refinaldo Chilengue e João Matola, no Parque das Nações, em Lisboa Maio2020

Salvo erro, vi pela primeira vez o João Matola ali na Avenida Ho Chi Minh, na Escola de Jornalismo, por aí 1987/88. Ele frequentava aquela instituição e eu trabalhava para a Delegação da Agência LUSA em Maputo, paredes-meias com a EJ.

Os nossos contactos directos começariam a cimentar-se em meados de 1999, já eu tinha saído da LUSA e o Matola já não era mais estudante na EJ, mas já com licenciatura obtida em Portugal.

No início de 2000, de um amigo tuga recebo um convite para participar numa reunião, em Lisboa, em Maio, envolvendo “naturais e amigos de Moçambique”. Depois de me informar e certificar dos termos e condições – garantias de passagem, alojamento e toda a logística assegurada em Portugal, anuí ao convite, basicamente depois de me assegurarem que os propósitos do encontro eram eminentemente sócio-culturais.

Enquanto prosseguiam as demarches para a minha ida a Portugal, o meu amigo volta a me contactar, desta vez para me dar “luz verde” [não solicitada] para convidar outro moçambicano da minha “confiança plena”.

Não pensei duas vezes: contactei João Matola, para saber do seu interesse e eventual disponibilidade para juntos irmos a Lisboa, por uma semana.

O Matola recebeu o convite com agrado e disse que até aproveitaria resolver alguns pendentes na sua faculdade, em Aveiro.

Foi uma semana memorável em Portugal – terra razoavelmente conhecida por ambos – incluindo recepção por representantes de todas as bancadas parlamentares na Assembleia da República Portuguesa.

Foi durante esta viagem que as nossas relações se solidificaram ainda mais. Passei a conhecer melhor o Matola, jovem sério em momentos sérios, simples em momentos simples, garboso em ambientes solenes, brincalhão em momentos de brincadeira, jovem cheio de vida, frontal quando necessário.

Todos os participantes do encontro de Lisboa

Irmão! ”, Era assim que, pura e simplesmente, nos tratávamos. Espantosamente, tínhamos muito em comum, um deles o de apreciar bons vinhos. O resto pouco importa, aqui.

É por isso que digo que o João Matola não foi meu amigo. Ele foi meu um irmão, um irmão verdadeiro.

Camarada de profissão de coração aberto, tive o privilégio de com ele viajar por este Moçambique e pelo estrangeiro, oportunidades para conhecer melhor um tipo de riso fácil, exuberante e contagiante, motivo mais que suficiente para se (re)afirmar como irmão, e não amigo.

Destroçado e importante choro a partida de um irmão e não um simples amigo virtual, um irmão que mesmo sendo relativamente mais novo em idade (uns cinco anos, salvo equívoco) me dava dicas para transpor alguns constrangimentos, quando fosse necessário.

Lamentavelmente, a maldita covid-19 nem nos reserva espaço para nos despedirmos condignamente nos nossos entes queridos.

Mesmo assim, descanse em paz irmão Matola, até sempre!

REFINALDO CHILENGUE

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