Máscara no pescoço

Máscara no pescoço: Segunda-feira, dia 4, de Maio de 2020, depois de mais uma jornada laboral, porque se tinham acentuado os sintomas de asma, uma enfermidade com a qual convivo há anos, tive de passar por uma unidade sanitária em busca de ajuda médica.

Chegado lá e depois de seguir a habitual burocracia que, digamos, por lá até é muito competente, me espantei com a falta de cautelas por parte de muitos, tendo em conta a actual pandemia da covid-19 e sendo ali uma unidade sanitária.

Até os vigilantes em serviço não usavam máscaras de proteção.

Depois de atendido e com a receita em punho me dirigi à farmácia adstrita ao hospital, e aqui o meu espanto se agudizou: a farmacêutica, com a máscara de proteção, atendia alguém, em voz exageradamente baixa. A pessoa a ser atendida tinha óbvias dificuldades em ouvir e teve de se aproximar ainda mais ao guichet.

Porque aparentemente as duas pessoas não se entendiam, o homem que estava a ser atendido teve de se aproximar ainda mais ao guichet e a farmacêutica, já presumivelmente irritada e para fazer se ouvir removeu a máscara e prosseguiu a interacção, aos gritos, com ambos os interlocutores já de máscaras penduradas aos queixos … fiquei pasmado e notei que o desconforto entre os restantes na fila era notório.

Depois de atendido, à minha saída do recinto hospitalar me deparo com dois agentes da PRM em amena cavaqueira, sem máscaras de proteção.

Prossegui a marcha em direcção à paragem de autocarros e o cenário era puramente hilariante e penoso: muitas pessoas com as quais me cruzava efectivamente tinham máscaras, mas apenas penduradas ao pescoço e poucas com elas devidamente colocadas.

Na paragem de autocarros, ao lado está um contentor de lixo e dele emerge um mendigo que parecia ainda encontrar algo que se coma de um prato de take away.

Com um saco de plástico impressionantemente sujo, com máscara religiosamente colocada, o indigente pedia esmola aos que aguardavam pelos autocarros: “amigo, peço dois meticais”, implorava, repetidamente, o desafortunado, deambulando de um lado para o outro, onde o distanciamento físico (eles dizem “distanciamento social”, talvez tentando fazer de nós uns mentecaptos, o que recusamos redondamente) recomendado no protocolo do Ministério da Saúde era bestialmente ignorado.

O cenário na paragem é simplesmente cómico: todos têm máscaras nas mãos, penduradas no pescoço e os mais “higiénicos” as têm nos… bolsos/bolsas.

Com a aproximação do “chapa” uma das damas que estava ao meu lado começa a ajeitar a peruca e rapidamente retira da bolsa a máscara e coloca-a devidamente. Praticamente todos na paragem colocam as máscaras com a aproximação do transporte público de passageiros.

Thapo tchapo pessoal e dinheiro trocado”, grita, várias vezes, o cobrador, com a máscara de proteção pendurada ao pescoço. Entramos no carro quem nem gado.

Já no interior da viatura ouço, o motorista instigado o seu cobrador com “rápido bro, rápido bro, vamos ganhar time”. O condutor tem a sua máscara pendurada debaixo do queixo. A máscara mal usada pode enfeitar, mas não protege. Algumas “excelências” simplesmente não as usam.

E eu ando aqui a perguntar aos meus botões: estaremos a levar a sério este assunto de covid-19? Só me resta suplicar para que Deus proteja Moçambique, já que também parece não haver unanimidade entre os infectologistas sobre a validade ou não do uso da máscara por “todo o mundo”.

JOCHUA JOÃO

(joshuajoaodanilo@gmail.com)

PS: quem de direito devia se preocupar um pouco mais em adequar a comunicação e as atitudes a tomar no contexto da covid-19 à nossa realidade e não optar pela via mais fácil de imitar tudo o que de vem de fora.

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 15 de Maio de 2020, na rubrica denominada OPINIÃO

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