O velho mendigo inocente

O velho mendigo inocente  – O meu destino era de alcançar o Mercado Central, em frente da Zona de Maríngue, na Cidade de Pemba, e justamente paralelo à Mesquita África Muslim. No seu passeio, deparo-me com um velho cheio de barbas que cobria quase toda a sua cara e de cabelos grandes, tipo dreads ou como se fosse um jamaicano!

Ele fazia um sinal como se tivesse algo para me dizer, olhava-me como se me conhecesse, pois os seus olhos estavam dirigidos somente a mim. Então eu aproximei-lhe, para saudar:

– Bom dia papá, como está? Em que lhe posso ajudar?

Continuou a me olhar e sem responder quase nada. Perguntei novamente, olhou-me e respondeu:

– Humm! É o que? E eu disse:

– É que parecia que o senhor queria falar comigo. Está tudo bem?

Ele continuou me olhando e sem me responder, mas mostrava um olhar de aversão, e de ameaça para mim.

Eu, por vêr que era uma pessoa estranha mas que se calhar queria alguma ajuda, tirei dos meus bolsos uns 10,00Mt e coloquei nas suas mãos e de seguida saí de forma precipitada.

Foi quando dei uns três passos distanciando-me dali que ele chamou-me gritando e com todo respeito: jovem, jovem, vem aqui por favor…

Não desprezei, ganhei coragem, recuei e fui de novo ter com ele. Ai ele pediu-me para sentar e disse:

– Jovem! Tu és muito corajoso e humilde, eu pensava que és um daqueles jovens que me atiram pedras, que me insultam, etc. São poucos jovens que se preocupam em saber de nós pessoas sem lar. Eu estou na rua há mais de 10 anos. Tenho familiares mas me abandonaram porque eu voltei dos meus estudos de Jamaica, e voltei com uma mulher de lá. Quando cheguei cá com ela, a minha família não queria ver comigo uma mulher estrangeira. Não queriam nos vêr a viver um estilo de vida diferente. E tudo se fez até matar a minha mulher através de magia negra. Os familiares da minha falecida esposa pensaram que eu próprio matei-a. Não sei o que aconteceu, mas sentí também que me expulsaram da minha própria casa ou algo parecido, porque quando tento chegar em minha casa, perco a memória e perco a minha visão.

Muito obrigado pela sua atenção, vá com Deus, mas não te esqueças de que nem todos aqui nas ruas são malucos ou delinquentes, alguns gozam de uma saúde física normal mas, têm algum tipo de frustração da vida, e precisam de encontrar pessoas humildes e corajosas para compartilhar a vida com eles.

Muito obrigado!

Fiquei um minuto em silêncio e sem palavras, levantei-me e saí dali com uma grande mensagem e lição que o velho me deu.

Joel Atanásio Amba

P.S: Realmente, como disse-me aquele velho, nem todos que vivem nas ruas são malucos: alguns apenas ficaram stressados com a vida e precisam de receber alguns tratamentos psíquicos e reinserção social para voltarem à uma vida normal. Outros, de facto sofrem de problemas mentais e precisam de uma psiquiatria. Estas pessoas podem recuperar e voltar a viver normalmente, mas para tal, basta que haja uma boa vontade por parte dos que conhecem estas situações.

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Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 26 de Outubro de 2018 na rubrica OPINIÃO

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