A odisseia de um futebolista

O seu nome é Elísio Cuco, futebolista, tem 27 anos, joga no Ferroviário de Maputo (um dos colossos do futebol moçambicano) há três épocas, diz que não confia nos hospitais públicos, pois “os médicos quase deitaram abaixo” a sua promissora carreira quando contraiu uma dupla lesão grave no joelho e tornozelo.

“O caso aconteceu em 2011, quando eu representava o Chingale de Tete, onde contraí uma lesão grave no joelho e no tornozelo, tendo os médicos, depois de várias ressonâncias magnéticas, decretado o fim da minha carreira, ou seja, já não podia jogar mais futebol”, contou.

Na altura, o futebolista militava naquele clube histórico do Centro do país, por empréstimo do Costa do Sol (de Maputo), outro dos colossos do futebol moçambicano.

Futebolista moçambicano Elísio Cuco
Futebolista moçambicano Cuco

“Mandaram-me de volta a Maputo, onde fui descartado pela Direcção do clube canário (alcunha do Costa do Sol), alegadamente, porque era um coxo. Foi um duro golpe na minha vida”, relatou Elísio Cuco, também conhecido pela alcunha de Westa.

Inconformado, o futebolista disse ao Correio da manhã que teve de recorrer a “outras forças”, ou seja, a medicina tradicional, para debelar a grave lesão contraída e lhe devolver a alegria de fazer o que mais gosta, jogar futebol.

“Por influência de alguns colegas e amigos próximos, decidi tentar a sorte num médico tradicional (curandeiro), descartando, em definitivo, a medicina convencional que já me tinha sentenciado. A escolha foi acertada, hoje não sinto nenhuma dor, graças a essa terapia tradicional”, disse.

Pelo meio, ou seja, antes de defender as cores do Ferroviário de Maputo, Westa passou por clubes como o centenário Grupo Desportivo de Maputo e Ferroviário da Beira, que o acolheram, após o tratamento tradicional da referida lesão grave.

O método do tratamento usado para debelar a lesão de Westa foi o famoso “11”, uma técnica que consiste em alguns cortes superficiais com recurso a lâmina, na região inflamada da lesão. A terapia é acompanhada por um banho de ervas.

AMETRAMO vangloria-se

Abordada pelo Correio da manhã, a Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO) reconhece a “eficácia e excelência” desta técnica para curar várias lesões, principalmente, nas articulações, sem precisar de uma intervenção cirúrgica, tal como acontece nos métodos da medicina convencional.

Daí que, no entender desta agremiação, os atletas, em particular, preferem recorrer às terapias da medicina tradicional para “fugir” de eventuais intervenções cirúrgicas nos hospitais.

De referir que é comum nas famílias moçambicanas de baixa/média renda recorrerem aos rituais tradicionais para debelar mazelas e, até em alguns casos, buscar “sucesso”.

Em Moçambique os curandeiros são igualmente procurados para “vacinar” recém-nascidos, ritual que, regra geral, para por um processo conhecido por “Ku tsivelela” (na região Sul) ou “remédio da panelinha”.

Este ritual é praticado três dias após a queda do cordão umbilical do bebé, devendo o mesmo durar pelo menos dois anos (a medicação é feita todos dias). Acredita-se que o mesmo visa evitar doenças como a epilepsia, demência e mau desenvolvimento psicomotor.

Aliança entre o moderno e o tradicional

Em Moçambique, estima-se que apenas 25% dos moçambicanos recorrem à medicina convencional, ou seja, a esmagadora maioria opta pela terapia tradicional para tratar várias enfermidades, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde (MISAU).

É neste contexto que, para aliar os dois ramos, o Governo moçambicano criou o Instituto de Medicina Tradicional em 2009, cujo objectivo é a promoção e controlo do uso de medicamentos feitos a partir de plantas.

Essa aliança tem o beneplácito da Organização Mundial da Saúde (OMS), que defende que em países subdesenvolvidos, como Moçambique, cuja cobertura sanitária é deficiente, deve-se trabalhar em parceria com outros intervenientes para melhorar e aumentar o acesso aos cuidados de saúde primários.

EDSON ARANTE

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição do dia 09 de Novembro de 2017, na versão PDF do jornal Correio da manhã

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