Oposição angolana contesta

A UNITA e a coligação CASA-CE (oposição), dois dos cinco adversários do MPLA, que está a liderar a contagem dos votos das eleições gerais angolanas da passada quarta-feira, estão a contestar os resultados parciais oficiais anunciados no princípio da noite desta quinta-feira em Luanda pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
As contestações das duas formações políticas foram publicamente expressas por José Pedro Cachiungoe Cesinanda Xavier, representantes da UNITA e da CASA-CE, respectivamente, alegadamente porque aCNE se está a basear em “dadosfalsos”.
“Não é a CNE que vai contrariar a vontade do povo. A CNE está a assumir o seu risco. A UNITA também assume o risco”, enfatizou Cachiungo.
Os dados anunciados oficialmente pela CNE colocam o MPLA, no poder desde a independência de Angola em 11 de Novembro de 1975, à frente na contagem dos votos, com 64,57%, abaixo da maioria qualificada (66,6) apontada pelo partido governamental como desiderato perseguido, ainda com um terço das mesas de voto por escrutinar.
De acordo com os totais nacionais provisórios anunciados esta quinta-feiraem Luanda pela porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, com 16.692 mesas escrutinadas (65,53% do total) até ao momento, e 5.938.853 (63,74%), o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) lidera a contagem com 2.802.206 votos (64,57%).
“Os militantes tudo fizeram para chegarmos à maioria qualificada [2/3 dos votos]. Vamos esperar que o resultado definitivo seja assim”, disse aos jornalistas, numa primeira reacção, na sede do MPLA, o secretário do bureau político do Comité Central para as relações internacionais, Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”.
Na segunda posição surge a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), com 1.043.255 votos (24,04%) e depois a Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), com 371.724 votos (8,56%).
Presente na conferência de imprensa de apresentação dos primeiros números pela CNE, o mandatário nacional da UNITA, José Pedro Cachiungo, acusou tratarem-se de resultados “falsos” e que nada têm a ver com a contagem paralela, baseada nas actas-síntese enviadas pelos delegados de lista, que o partido está a fazer.
Também a CASA-CE, pela voz da sua mandatária nacional, Cesinanda Xavier, assumiu aos jornalistas que a coligação “não está de acordo com estes resultados”, igualmente em função da contagem paralela que está a realizar, pelo que “possivelmente os dados foram forjados”.
O Partido de Renovação Social (PRS) surge na quarta posição desta votação, com 59.357 (1,37%), seguida da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com 41.034 votos, (0,95%) e, por último, a estreante Aliança Patriótica Nacional (APN), com 22.471 (0,52%).

Oposição Militantes do MPLA nos arredores de Luanda
Militantes do MPLA nos arredores de Luanda

Estes resultados são, no entanto, condicionados só pelo círculo provincial de Luanda, em que apenas 29,37% das mesas foram já escrutinadas.
Segundo a CNE, a abstenção cifra-se, neste ponto da contagem, provisória, nos 23,17%, equivalentes a 1.375.884 eleitores.
Dino Matrosse desvaloriza as lamúrias da UNITA e da CASA-CE, alegadamente porque “eles começaram a falar de fraude há três anos, mesmo antes do anúncio oficial da realização das eleições de 2017.
Mais adiante,Dino Matrosse comentou que a avaliar pelo esforço desenvolvido pelo MPLA visando este pleito eleitoral, “não me espantaria se atingíssemos os 70 porcento. Trabalhamos para isso”.

Apelo à calma
Apesar da aparente calma constatada pela Reportagem do Correio da manhã nas ruas da capital angolana depois do anúncio da CNE, o ministro do Interior de Angola, Ângelo da Veiga Tavares, apelou aos angolanos a manterem a calma, ou seja, “não se deixarem levarou influenciar por vozes negativas”.
Um antigo jornalista, hoje jurista e docente universitário angolano ouvido pelo Cm em Luanda, depois do anúncio oficial dos resultados parciais, referiu que, apesar do desconforto que se vive “nestes momentos ‘quentes’, o país não vai parar e a serenidade em breve regressará para todas as hostes”.
“[Os partidos derrotados] Vão-se esgrimir mas o espírito de irmandade vai-se sobrepor aos interesses partidários”, comentou o analista, que preferiu não ser nomeado nesta reportagem.
“Não há necessidade de haver um obituário por causa dos resultados porque a vida não termina nestas eleições e todos continuamos como angolanos”, comentou um jovem repórter de um semanário angolano, que também preferiu o anonimato.
Em 2012 o MPLA ganhou as eleições obtendo 71,8 por cento dos votos, que lhe valeram a eleição de 175 dos 220 deputados que compõem a Assembleia Nacional (Parlamento angolano). A UNITA foi a segunda força mais votada, com 18,7% dos
votos (32 mandatos). A CASA-CE obteve seis porcento (8 mandatos). Seguiram-se o PRS, com 1,7% (três deputados), e a FNLA, com 1,1 porcento (dois deputados).
As próximas eleições gerais de Angola deverão decorrer em 2022.

REFINALDO CHILENGUE, em Angola

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